TERROR E MEDO NAS ÚLTIMAS HORAS DE DIANA.

Primeiro sábado de primavera. O clima seco. Diana bocejou. O corpo dolorido. O celular tocou. A moça atirou o aparelho no chão e se enrolou no edredom. Queria dormir um pouco mais. -"Bom dia, flor do dia. Hoje é dia de branco e seu café está na mesa." Disse a mãe da moça, Edna. -"Não enche. Me esquece." A mãe ficou surpresa com a resposta da filha. -"Isso são modos? Tudo bem, vou esquecer." A mulher saiu do quarto. Diana foi para o banheiro. Assustou ao ver suas olheiras no espelho. O pote de creme no final. O perfume acabando. Ela deu um murro no espelho. -"Vida f.d.p. Que saco!" A água gelado no chuveiro. -"Estou um caco. Maldito emprego." A mesa pronta. A moça de roupão. -"Esse café está horrível, dona Edna. O pão está murcho. Cadê a Nutella?" A moça irritada ajeitou a cadeira. Ela sentiu um arrepio. Os olhos ligeiros. -"Mãe? Tem alguém atrás da cortina!" A mãe veio da cozinha. -"É o Aristóteles, o gato." A porta se abriu. Diana se virou, amedrontada. O pai e o irmão mais novo entraram. -"Que caminhada. Oi, bom dia." Disse o pai, animado. Diana mal o cumprimentou. -"Que prazer existe em caminhar nesse bairro de pobres?" Oliveira olhou para a esposa. -"Alguém dormiu muito mal ou levou fora do namorado aqui. Vou ajeitar a tralha pra pescaria." A moça se virou. Um vulto passou atrás dela A caneca caiu na mesa. -"Tinha alguém atrás da cortina, eu vi." O braço de Diana estava arrepiado. Oliveira abriu as cortinas. -"Tem o Gasparzinho, medrosa." Lucas caiu na gargalhada. Diana jogou o miolo de pão no irmão de dez anos. -"Idiota." O garoto correu para o quarto. -"Eu a levarei ao trabalho, filha. Está atrasada." Disse o pai a Diana. -"Está com um ombro mais baixo que outro, Di." A moça fez careta para o irmão. Ela foi para o quarto. O espelho grande revelou que Lucas tinha dito a verdade. Diana percebeu um ombro mais baixo que o outro. Uma dor forte fez a moça sentar na cama. -"Diana. Aquele café estava horrível. Sua mãe está velha e caquética, não faz nada direito. Se ela morresse, não faria falta nenhuma e até melhoraria sua vida. Ela é um estorvo." Diana captou as palavras e sorriu. Alguém falava dentro dela. A cabeça doía. -"Seu pai ainda é novo. Deveria procurar outro emprego para dar mais conforto a família. Deveria comprar um carro melhor, mais novo." Diana meneou a cabeça, afirmativamente. -"Concordo. Nossa vida está uma zorra. Esse bairro é ruim, tudo aqui é ruim." Lucas entrou no quarto. O gato em seu colo. -"O papai está no carro. Está esperando a princesa se arrumar." O felino encarou Diana e miou forte, pulando no chão. -"Tem egum, encosto aqui. Eu sinto você, espírito das trevas." O gato miou e saiu correndo do quarto. Lucas correu, chamando o bichano. Diana espirrou. -"Está vendo, Diana. Gatos são estranhos e causam alergia. São bolas de pêlos, imprestáveis. Dê um fim nesse gato." Diana sorriu, maquiavélica. Ela pegou a mochila e saiu, sem cumprimentar a mãe. Bateu forte a porta. Lucas, no jardim, arrumava o pneu da bicicleta. O gato a seu lado. Aristóteles encarou Diana. -"Está com os dias contados, bola de pêlos." Disse o vulto atrás de Diana. O gato miou. -"Deixe a Diana em paz, demônio. Cara, tu morreu." A moça começou a tossir. O vulto, atrás dela, a enforcava. -"Vou levá-la comigo, bola de pêlos. Quem vai me impedir de matar essa trouxa?" Diana colocou a máscara e entrou no carro. -"Trânsito do inferno. Passa por cima desse mané." Gritou Diana, irada, ao pai. Um congestionamento. A moça irritada. O pai ligou o rádio do carro. Música sertaneja. Diana estava furiosa. -"Porra. Coloca Anita, Pablo Vir, menos Fernando e Sorocaba. Odeio eles!" O pai sorriu. -"Tá bom. Eles não tem culpa se seu ex namorado chamava Fernando e era de Sorocaba. Uau. Rodrigo José, de Americana. Ele foi no programa do Faustão, lembra?" Diana colocou os óculos escuros. -"Brega, como o senhor e esse carro velho. Queria ser rica!" Oliveira ficou triste e não respondeu. O escritório, no segundo andar do prédio comercial. A pilha de relatórios e memorandos. A internet lenta. Um sábado modorrento. A pandemia. O chefe no pé da moça. -"Gente, agiliza. Vamos até às onze horas. Alguém viu a pasta da WVP?" O chefe saiu da sala. Diana olhava para o relógio. A boca seca. -"Meu reino por uma cerveja, estupidamente gelada." Ela foi tomar água. A pasta que o chefe procurava, sobre um armário de aço. Fosse outro dia ela daria a pasta ao chefe, sem nenhum interesse e com seu raro senso colaborativo mas ela estava diferente naquele dia. O riso maquiavélico. A pasta nas mãos. Os colegas atarefados. O estagiário junto a máquina de triturar papéis. -"Vai, Diana. Ferra o mané de seu chefe, aquele grosso." O vulto cobriu o rapaz. Diana colocou a pasta junto aos papéis do rapaz, sem ele perceber. O rapaz esfregou os olhos. A pasta importante triturada com outros rejeitos. Onze horas. Os funcionários indo embora. O chefe de Diana desesperado com o sumiço da pasta. -"Vamos ter que refazer o projeto e enviar a sede. Podemos perder o prazo e o contrato milionário. Você perderá seu cargo, certamente." Disse o dono do escritório ao chefe de Diana. A moça sorriu e saiu dali. -"Vamos bebemorar, Diana?" Perguntou Fátima, colega de escritório. -"Vai, Diana. Você merece. Bora beber." Diana captou seu pensamento e esfregou as mãos. -"Vamos comemorar e tomar todas, amiga." Leona estava no elevador. Ela trabalhava numa imobiliária, no sétimo andar. Diana a abraçou. -"Oi, amiga. Tenha força!" Fátima cumprimentou a moça. Leona tinha os olhos marejados e vermelhos. -"Eu sinto, Leona. Não é fácil pra você." Leona tinha o nariz vermelho, de tanto chorar. O lenço nas mãos. -"Um mês que Gabriel se foi naquele acidente de moto. É muita dor. Diana tem sido muito legal. Ontem nós duas fomos ao cemitério da Ressurreição." O vulto atrás de Diana se distanciou. Diana desmaiou. -"Peraí, pessoas. Do acidente me lembro, o sinal abriu e fui lançado longe pela carreta mas eu não morri. Estou aqui, vivo." O vulto se aproximou de Leona. -"Cemitério! Leona, que papo é esse, minha irmã? Tá louca. Eu cheiro e é você que viaja??" Leona se arrepiou. -"Temos rezado pelo Gabriel. Ele era louco mas era boa pessoa. O caixão teve de ser lacrado." O vulto se distanciou. Diana consolou a amiga. -"Estamos indo a cachaçaria. Venha conosco." Leona declinou do convite. -"Vão vocês. Tenho que descansar." Fátima chamou um motorista de aplicativo. -"A galera está no Hollywood Bar, onde vamos almoçar." Diana sorriu. -"É top mas é caríssimo, amiga." Fátima a cutucou. O Renato convidou, ele banca. Quer um cigarro?" Fátima tirou um isqueiro da bolsa. Diana aceitou um cigarro. -"Há três meses não fumo. Vou aceitar um só." O vulto atrás da moça sorriu. Gabriel era fumante inveterado e sentiu prazer com a fumaça do cigarro da moça. -"Diana, sempre tive uma queda por você, sabia. Que boa hora de me encostar em você." Estevão, Leandro e Marcelo aguardavam as moças. A mesa já cheia de garrafas. Os cumprimentos entre os jovens. Érica, namorada de Leandro, chegou em seguida. -"O que essa garota faz aqui?" Diana se arrepiou. Erica era ex noiva de Gabriel. O vulto não acreditou quando viu Érica beijar Leandro. Diana e Fátima foram ao banheiro. -"O Estevão está a fim de você, Diana. Vai nessa." Diana estava indecisa. -"Impressão sua. Ele parece estranho." Fátima cutucou a amiga. -"Ele é rico e bombado. É dono de uma franquia de academia." Diana e Fátima voltaram a mesa. Um almoço requintado com direito a espumante. -"Leandro é mais rico e mais bonito que Estevão. Ele está te olhando." Disse o vulto a Diana. Erica fuzilou Diana com o olhar e abraçou o namorado. Diana pediu uma batida de vodca com maracujá. Era a bebida preferida de Gabriel. -"Você nunca tomou isso, Diana. Sempre ficou no suquinho de limão, no máximo uma caipirinha." Fátima estava surpresa. Diana pediu outra batida e tomou uísque no copo de Estevão. -"Agora vamos para a gelada, Diana. Pede uma rodada." Diana propôs uma rodada de cerveja. -"Vamos comemorar, galera." Fátima pedia, em vão, para a amiga parar de beber. Leandro se animou. -"Diana? Atitude, assim que eu gosto. Bora beber, gente!" Diana parecia outra pessoa. -"Nos reencontramos na balada, que tal?" Propôs Marcelo, abraçando Fátima. Diana olhou para Estevão e concordou. Érica não queria aceitar mas Leandro foi taxativo. -"As nove, no Dinos Club. Vamos ferver." Marcelo levou Fátima e Diana para suas casas. Diana desceu do carro, tropeçando. -"Eu estou bem. Pare o mundo que eu quero descer!! Fátima, venha me pegar a noite." Diana encontrou a família no alpendre, montando um quebra cabeças de mil peças. Lucas se divertia com a dificuldade de seus pais. -"Cheguei. Vou tomar um banho e dormir." Disse Diana, com uma lata de cerveja na mão. Um banho gelado. O som no volume máximo, como Gabriel gostava de dormir. Diana se jogou na cama. O vulto se afastou da moça. -"Que idiota. Não aguenta beber." Diana caiu nos braços de Morfeu, deus do sono, dormindo profundamente. -"Sério mesmo que eu morri? Leona, tá de brinca?" Gabriel se viu na casa dos pais. Os velhos pensando nele. A certidão de óbito na gaveta. O quarto arrumado. A moto amassada no quintal. A foto dele no aparador, ao lado de um vaso de tulipas. Gabriel custava a crer que tinha morrido. -"Será que ele sabia de tudo?" Disse o velho Francisco pra esposa. A mulher se virou, admirando a foto do filho falecido. -"O que eu não sabia?" O vulto se aproximando da mãe. -"Estevão estava saindo com a Érica? Eu era enganado esse tempo todo, é isso?" Francisco pegou o retrato de Gabriel. -"Era adotado mas era meu filho. Preguiçoso, pudim de cachaça e drogado mas era meu filho." O vulto se afastou. -"Caraca. Eu era adotado?!" Era noite quando Diana despertou. O vulto de Gabriel junto dela. Um cheiro delicioso da cozinha. A travessa de almôndegas sobre a mesa. -"Adoro almôndegas, Diana. Você deve ir ao armarinho da despensa." Diana lavou o rosto. -"Vou sair às nove." A mãe preocupada. -"Descansa, Diana. Seu irmão foi na casa do Júlio. Vai dormir lá." Diana abriu uma lata de cerveja. -"Opa. Vou beber uma com a Diana. Parece que o azedume dela passou." Disse o pai, animado. Diana fingiu ir ao quarto. O armário da despensa. Os vidros de veneno pra rato sobre o armário, no alto. A moça subiu numa cadeira. A mãe na cozinha. O pai vendo futebol. Diana colocou veneno no suco e nas almôndegas do jantar. Aristóteles entrou. O gato miou, pulou na mesa e arranhou a moça. -"Deixa a Diana, egum do inferno. Você morreu, encosto." A tampa da panela de pressão. Diana fez da tampa uma raquete e golpeou o gato com força. Diana ficou com os cabelos em pé, os olhos vermelhos. O gato saltou sobre ela. A moça grudou o felino pelo pescoço e enfiou uma almôndega na boca dele. -_"Come, Garfield. Tá gotosinho com recheio de veneno!" A voz dela era grossa, igual a de Gabriel. Ela pegou o bichano pelo rabo e o atirou no quintal. -"Mãe. O Aristóteles quer pegar almôndegas!" A voz dela estava normal. A mãe da moça veio e fechou a porta. -"Vou jantar antes de sair com a Fátima. Esse purê está me chamando. Parabéns, mãe." Disse a moça, toda carinhosa. Diana comeu arroz e purê apenas. Ao invés de suco preferiu cerveja. -"Nos livramos do gato, Diana. Esses bichos farejam a presença de espíritos malignos." Disse o vulto. Ela ligou para Fátima. Diana se despediu dos pais e foi pra balada. -"Aristóteles? Sei que está me ouvindo, bichano. Sobrou almôndegas, se quiser." Disse a moça no quintal. Na balada, Fátima e Marcelo se afastaram. Queriam ficar a sós. Diana resistia aos avanços de Estevão. Érica não desgrudava de Leandro, que interagia com Estevão. Na pista de dança, o vulto de Gabriel percebeu que podia ler a mente das pessoas. -"Diana. Leandro é o rei das drogas. Marcelo e Estevão trabalham pra ele. Vamos nos dar bem pois Leandro quer você, garota. Se quiser subir na vida, essa é a hora." Tempo depois, os três rapazes vieram do banheiro masculino, onde tinham se drogado. Érica e Fátima tinham ido ao banheiro. -"Estou a fim de lucrar. Posso vender nos prédios da Paulista." Leandro sorriu. -"Está certo. Dez por cento, Diana. Vai namorar o Estevão, de fachada." Ela concordou. Leandro e Diana foram a pista de dança e logo depois, ao banheiro masculino. Estevão ficou de guarda na porta. A moça se viu frente a frente com uma pequena quantidade de drogas. -"Vai fundo. Agora você é da diretoria." O vulto de Gabriel entrou em êxtase. Diana estava fora de si e consumiu a droga. -"Bravo, Diana.

Vai fundo." Érica e Fátima chegaram ao banheiro. -"Onde está o Leandro? O que está rolando?" Disse Érica furiosa. -"Dançou, Érica. Diana fez uma proposta melhor que a sua, assim que funciona. A fila andou." Disse Estevão, categórico. Érica concordou e foi pra pista de dança. Marcelo tentou acalmar a moça. -"Essa Diana vai se ver comigo." Após se amarem no banheiro, Leandro e Diana voltaram a mesa. Marcelo sentado ao lado de Fátima, Diana abraçada a Estevão mas sorrindo pra Leandro. Os casais tomando 🥂 champanhe. Érica subiu ao mezanino. A pista de dança e as mesas lá embaixo. Leandro foi atrás da moça. -"Você está bem, pode se ajeitar sozinha. Eu a iniciei apenas. É assim." Érica desviou do beijo dele. -"Até mais.": Leandro voltou pra mesa. O som ensurdecedor. A música do DJ Alok. Érica estava insana, furiosa. Um moço se aproximando dela, cheio de terceiras intenções. A moça tirou um pequeno revólver da bolsa Prada. -"Vaza, fedelho." Érica esfregou os olhos. Ela viu Diana, no mezanino. Estava lá, de pé, tomando cerveja a beira da escada. Érica apontou o revólver e deu três tiros. Diana se virou e sorriu. Era o vulto de Gabriel, com a fisionomia de Diana, em outra moça. Érica partiu pra cima e caiu, com a moça baleada, do alto da escada. As pessoas aterrorizadas. Um corre e corre de seguranças. Leandro, Estevão, Marcelo, Fátima e Diana assustados com a cena. -"Que louca!" Disse Diana aos outros. O resgate chegou com a polícia. Érica morreu na queda. Era manhã quando os jovens deixaram a delegacia. Leandro levou Diana pra sua casa. -"A gente se vê depois." Disse ele. A porta da casa aberta. Os pais da moça caídos na sala, mortos. O gato Aristóteles ao lado deles, duro e morto pelo veneno. -" Uhuuuuuu, o gato de botas bateu as botas. Agora você receberá a herança, Diana. Seu álibi é a boate, estava lá quando essa tragédia ocorreu." A porta se abriu. -"Diana? Oh, meu Deus. Papai, mamãe? Estão mortos, Di?" Lucas chorava, abraçado a irmã. -"Quem fez isso?" Perguntou o garoto. Diana pegou um taco de sinuca e golpeou o irmão na cabeça. -"Quanta pergunta, moleque!" Ela o arrastou para dentro do carro da família. -"Destruo você e esse carro velho. Dois coelhos numa só cajadada." Diana ateou fogo no veículo. Os vizinhos chamaram a polícia. Diana foi encontrada em estado de choque. As câmeras de segurança provaram que ela esteve na balada. -"Certamente foi assalto. Mataram o casal por não acharem dinheiro." Opinou o delegado Fernando. O caso foi arquivado, apesar da mídia especular. Um mês depois, Diana comprou um apartamento luxuoso na região dos Jardins. Ela foi promovida no escritório e ninguém desconfiava que ela traficava. Leandro pediu a moça em casamento. Fátima se afastou dela pois Diana virou uma devoradora de drogas e bebidas. -"Que boa hora quando me atrelei a você, Diana. Naquele dia em que você e Leona foram ao cemitério, captei sua vibração e seus sentimentos. Sai de lá encostado a você, garota. Quanto ouro, dinheiro, drogas, bebidas e luxo. Isso é que é vida. Comigo na sua cola, vamos nos dar bem." Diana começou a chorar. -"Meus pais. Meu irmão. O que você fez?" A moça estava abatida. -"Eu fiz?. Você fez, Diana. Eu não faço nada, estou morto." Gabriel riu. Diana saiu de casa pra respirar melhor. Leandro, no mesmo tempo, almoçava com um cliente. Um carro quase atropelou a moça. A linha do metrô. A moça subiu numa passarela alta. As ferragens. O dia terminando. -"Te achei, louca. O que vai fazer? Vai pular?" As pessoas filmando a cena. As imagens na internet, em tempo real. -"Vou acabar com tudo, Gabriel." Diana estava disposta a pular. -"Só morrendo pra esse pesadelo acabar. Vou me juntar a meus pais e meu irmão." Um gato pulou na passarela. -"Pula não, Diana. Esse egum não manda em você! Deus é mais. Sua vida é um presente de Deus, sua alma é dEle. Não vai ajudar nada tirando sua vida." Gabriel se virou. -"Esse gato de novo? Cara, tu é insistente pacas!" Aristóteles encarou o vulto. -"Tenho sete vidas, não sabia?" Diana balançou a cabeça. -"Tenho que aturar um gato e o Gasparzinho discutindo? Eu mereço!" Diana deixou o corpo cair. Era o fim. As pessoas sem reação. Os bombeiros chegaram a ponto de ver a cena final. Uma morte triste de uma jovem com tanto futuro. Gabriel desapareceu no ar. O gato miou e voltou pra casa. A morte da moça ganhou apenas uma nota no rodapé do jornal. Era mais um número nos dados alarmantes sobre suicídios no país. Leandro foi descoberto e preso, uma semana depois. Diana despertou, espirrando até às tripas. Uma sucessão de espirros no quarto. A mãe dela abriu as janelas. -"Senta pra respirar melhor, filha " O rabo do gato no nariz da moça. Ela deu um chute no felino. Lucas correu e pegou o gato no colo. -"Mãe. Esse gato entrou e dormiu na minha cama, de novo." A moça com o nariz vermelho e escorrendo. O pais a levaram ao hospital. O celular de Diana tocou. -"Oi. É a Leona. Quer ir ao cemitério comigo? Quero visitar o túmulo do Gabriel, amiga." Diana tinha tristeza na voz. -"Não posso. A rinite atacou pois o gato do meu irmão entrou no meu quarto. Vão achar que estou com Covid mas é rinite. Não vou, Leona." Os pais de Diana determinaram que o gato Aristóteles não poderia mais dormir dentro de casa. Diana contou seu pesadelo aos pais. -"Era estranho, muito estranho. Era tão real. Eu me drogava, matava vocês e o Lucas. Me matava depois, eu me vi saltando de uma ponte, sei lá. Será que encosto existe?" Ela se benzeu. -"Tem esquecido de rezar ao seu anjo da guarda, Diana!" Disse a mãe da moça. No dia seguinte, a mãe de Diana comprou vasos de alecrim, arruda e comigo ninguém pode. Era noite quando o gato repousava no alpendre. O vulto de Gabriel passou. Ele parou no portão. -"Olá, Aristóteles maldito. Vou preparar umas almôndegas recheadas com chumbinho pra você, feioso." O gato miou. -"Faz me rir, demônio. Com essas ervas anti encosto, você não passa do portão! Vaza!" FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 25/09/2021
Reeditado em 26/09/2021
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