Luz tremula

Os olhos se incomodam com a luz trêmula, a cabeça começa a doer levemente por sobre os olhos, fazendo com que eu cerre os olhos, forçando a vista no ambiente a minha volta, quarto escuro e com uma bagunça sem sentido, coisas largadas, amontoadas e penduradas, criando sombras, criando formas, já me perguntei umas três vezes se aquilo era uma mão, na quarta vez desapareceu, não parecia mais uma mão, olho para as caixas encima do armário e o contato de relance com a lâmpada ofusca ainda mais a minha vista, sou obrigado a fechar os olhos. Abro os olhos e vejo uma sombra sumindo por trás das caixas, eu a vi se mover, ou foi a luz vacilante?

Esfrego os olhos rapidamente e não vejo mais sombra nenhuma; ainda sinto uma leve dor de cabeça, espero alguns segundo antes de voltar a minha cabeça para as caixas, preciso mexer nas malditas caixas. Ando até o interruptor e desligo a lâmpada, ascendo o meu isqueiro, quem sabe não é uma alternativa melhor para enxergar aqui dentro, a luz da chama faz o quarto parecer menor, as coisas parecem mais próximas a mim, no primeiro passo que dou, eu esbarro em alguma coisa, sinto algo passando em minhas mãos, é outra mão? Aproximo a chama e vejo apenas um pano balançando levemente, ainda que não tenha janela aqui. Ascendo a luz novamente…

Tiro uma cadeira debaixo de um amontoado de coisas, coloco próximo ao armário e subo me apoiando, quando meus olhos ficam no nível do das caixas, olho atentamente nos espaços entre elas, as sombras, procuro as sombras… Não há nada de diferente, só a luz vacilando atrás de mim, cansando a minha vista, começo a mexer nas caixas, coloco uma para um lado, outra caixa para o outro lado, eis que uma caixa que estava do meu lado se mexe, para além da luz, ele realmente se mexeu, assim que aproximo a mão, a caixa dá um salto em minha direção, com o susto, eu me desequilibro e meu corpo despenca para trás, caio por cima das tranqueiras, derrubando outras, minha cabeça bate no chão, tenho a sensação próxima de um desmaio, um baque e um flash com a vista escura, momento esse que foi despertado com a caixa que havia pulado, caindo encima de mim.

Escuto uma voz conhecida, é minha mãe, me pergunta que barulheira era aquela, se eu tinha encontrado o que eu tinha ido procurar, digo que sim, abro a caixa e vejo os meus brinquedos antigos, incluindo aquele boneco que sempre achei que me observava e que eu sempre dizia que precisava me livrar, por precaução eu vou por fogo na caixa inteira, me despeço da minha mãe e digo que me lembre do porque odiava entrar no quartinho. Saio da casa dela e dirijo com a caixa em direção a minha casa, paro num terreno baldio, pego a caixa e o óleo de motor, abro a caixa, encharco com o óleo, coloco um pouco de mato seco, ateio fogo em uma das abas da caixa, a caixa pega fogo, dou uns passos para trás e assisto queimar, a caixa começa a se mexer, algo dentro começa a se mexer, olho em volta para ver se tem alguém que esteja vendo, assim que viro meu olhar de volta para a caixa, vejo uma sombra saindo de trás dela e correndo por entre o mato alto… A luz não estava tremendo.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 14/04/2021
Código do texto: T7232086
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.