O RITO
Clareira clareada pelas labaredas da fogueira ao centro, chegaram os membros da seita, todos ansiosos para o rito magno tão aguardado há anos. Esperaram muito tempo, juntaram tantas coisas necessárias par'aquilo. Pedras preciosas, ouro, artefatos, livros sagrados...
Tudo teria uma finalidade naquela noite.
A capa rubra como a carne fresca, aberta à infinidade de feitiços e códigos lá gravados a sangue nas folhas douradas. Refletia no rosto do magista a cor da perfeição mesclada aos tons fortes vindos do fogo.
Fizeram um círculo com rubis, diamantes e esmeraldas. Todos alumiados de acordo com cada palavra proferida. A linguagem era desconhecida pelos humanos - o livro fora feito em outra dimensão e levada à Terra. Apenas o escolhido pelos Seres tinha o dom de entender.
Após todos banharem-se do sangue das puras almas sacrificadas, foi decretado o momento: era hora da evocação.
Trouxeram então o ostensório finático que carregava o corpo do antigo Iluminado. Viram o antigo mestre... Ele tinha 20 anos quando se foi... há trinta e três anos atrás. O cadáver estava intacto, ainda com a pele rosada e preservada; se não tivessem visto sua morte poderiam até dizer que estava apenas desacordado.
Deitaram-o na grama, as mãos no peito - uma em cima da outra - amarradas por um fio azul. Fincada a adaga prateada em teu peito e prendendo seus membros eternamente naquela posição. Abriu os olhos e transpassou a energia adquirida naquele passado dia para o seu sucessor.
O magista, ao recebê-la, ficou cego e, como hipnose, entrou dentro da fogueira até sumir nas chamas.
O grito do fogo fez aparecer de lá um gigante ígneo que consumiu o corpo, um foi libertado, outro se aprisionava. Estava feito. Em júbilo, gritos de regozijo tomaram o local, viria mais trinta anos e Luz e bênçãos.