O Fantasma
Um pano branco flutuante que insistia em segui-lo aonde quer que fosse. Por vezes cochichava coisas, mas preferia mesmo apenas rodeá-lo e ficar à espreita. Nunca soube a razão. Tinha um fantasma em seu encalço e já nem mais parecia ligar; se acostumou com sua presença há anos.
Já o tratava até como amigo. Sim, era amigo de um fantasma.
Tentava, perguntava algumas coisas, contudo... apenas os mesmos cochichos - e até algumas risadinhas. Via que uma aura de luz fraca era o que dava forma para o pano sobrevoar o ambiente. Um dia achou ter visto o rosto do tal amigo, mas este fez o tecido cobri-lo rapidamente.
Uma coisa tinha percebido: enquanto dormia, o fantasma parecia descansar também. Se alocava num cantinho da casa e ficava pairando, quieto.
Certo dia resolveu pegá-lo e enfim ver - ao menos - a sua face. Levantou-se de madrugada, sem fazer barulho algum. De supetão, deu um susto no amigo, mas este conseguiu tapar o rosto com suas mãos tênues.
Era um mistério.
Tentou por muito tempo, até desistir - mesmo com a curiosidade. Vez ou outra pedia para que ele mostrasse a cara... ouvia risadas. Com a vivência tomou a certeza que se tratava de um espírito jovem.
Só ele podia vê-lo... isso acarretou alguns problemas em sua vida. A vizinhança o tinha como louco, perdera alguns empregos por causa dos colegas assustados com o "perturbado". Para qualquer pessoa ciente da situação, aquilo era um problema gigantesco.
O próprio fantasma disse, certo dia: - Se achas que te atrapalho... basta pedir que eu vá e nunca mais me verá.
Nunca cogitou mandá-lo embora.
Era o seu único amigo na vida, a única pessoa com quem podia sentir-se feliz. Por mais estranho que seja, antes dele chegar, já via outros "fantasmas". Mas este era diferente...
Não ouvia as gritarias.
Não sentia o ódio.
Nem medo.
Este chegou e fez nele surgir um sentimento que não sentia desde criança, quando o primeiro dos maus fantasmas chegou e levou consigo sua alegria.
Agora, este resgatara...
O rosto que tinha quando era apenas uma criança feliz...