Caminho diferente
Cantaram as aves e amanheceu a natureza, tocou o sino da Igreja para anunciar mais um dia. Dia para uns. Para nós, um punhado de farinha, a vestimenta e instrumentos.
Caminho de sempre, terra batida era pisada apenas por nós; não somos dignos de pisar o chão macio e verde "deles". Somos jogados naquela gleba de sempre. Quando não estavam vendo, pegávamos um pouquinho dos grãos e frutos para saciar a fome enganada na alvorada.
Ê, vida...
Arar a terra, cultivar, plantar... Alimentar quem desnutre.
Mais um que teve a sorte de ir. O corpo no chão alimentou a terra, o mundo. Era o sonho de todos nós, mas não temos nem o direito de morrer.
Mais uma noite, mais lamentos...
Outro dia nasceu, o sino bateu diferente. O estranhamento cresceu quando não nos deixaram comer a miséria diária, fomos direto para frente da igreja. Lá o velho saiu com sua roupa negra e um pano roxo descendo pelos ombros. A nós falou, mesmo que indiretamente.
O caminho foi outro, também.
Nos levaram para o buraco que os outros cavaram por semanas, lá dentro tinha lenha e logo todos nós lá dentro.
Agora eu entendi.
Agora pude sorrir.
Mesmo chorando.
Mesmo queimando.