A sombra
No embalo das canções de carnaval, numa madrugada agitada, mas numa rua esquecida, divagava um rei esquecido. Cabisbaixo, entristecido pelo ostracismo, seus súditos - já não mais seus - agora curvavam-se à coroa de outra majestade.
Ele não era mais importante.
Entrando num bequinho sujo, sentou-se para chorar escondido. Ah, que humilhação... Outrora opulento e majestoso, agora patético.
É, mas o seu choro abafado chamou a atenção de algo estranho, lá no final da viela escura se via a forma de um alguém desconhecido. Robusto, alto, amedrontador...
Os surdos e tamborins se calaram numa paradinha infinita.
O rei e a silhueta, lágrimas e lama, soluço e gargalhada.
- Quanto tempo...
Imóvel pelo medo, sentimento recorrente. Não respondeu, pois não era necessário. Entendeu o que se passava...
Luta diária para manter-se de pé, bastou uma noite para desabar.
Negra imagem estática na parede.
Colorida imagem derrotada no chão.