A sombra

No embalo das canções de carnaval, numa madrugada agitada, mas numa rua esquecida, divagava um rei esquecido. Cabisbaixo, entristecido pelo ostracismo, seus súditos - já não mais seus - agora curvavam-se à coroa de outra majestade.

Ele não era mais importante.

Entrando num bequinho sujo, sentou-se para chorar escondido. Ah, que humilhação... Outrora opulento e majestoso, agora patético.

É, mas o seu choro abafado chamou a atenção de algo estranho, lá no final da viela escura se via a forma de um alguém desconhecido. Robusto, alto, amedrontador...

Os surdos e tamborins se calaram numa paradinha infinita.

O rei e a silhueta, lágrimas e lama, soluço e gargalhada.

- Quanto tempo...

Imóvel pelo medo, sentimento recorrente. Não respondeu, pois não era necessário. Entendeu o que se passava...

Luta diária para manter-se de pé, bastou uma noite para desabar.

Negra imagem estática na parede.

Colorida imagem derrotada no chão.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 15/02/2021
Código do texto: T7185270
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