O transe

Coberto apenas de um manto pesado de cor rubra e dourada.

Estava em transe.

No mundo que vivia estava seu corpo, no meio de uma floresta, sendo velado por duas pessoas: um flautista e um feiticeiro; o som da flauta resultava num sono profundo - o transe - e o feiticeiro macerava folhas de cheiro para que ele inalasse.

A intenção era conectar-se com um familiar muito querido que morrera há pouco tempo.

Tinha perguntas a fazer, esclarecimentos sobre a sua vida. Os sacerdotes deixaram bem claro: nem sempre se vê o esperado... Mas preferiu arriscar. Má decisão. Mente perturbada, coração partido... Não atrairia boa coisa.

Assim aconteceu.

A flauta incessante, em sua viagem, perdeu o foco para a percepção do lugar: um breu. Expectativas quebradas. Ah, fosse apenas isso. O céu começou a rachar e cores vieram a surgir, vermelho, roxo, amarelo, laranja...

Um ser surgia da poeira da dimensão, uma forma antropomorfa, mas apavorante. Sugava toda a cor surgida e trazia de volta a escuridão. Lá estava um gigante tétrico a amedrontar.

Fosse o misto de sentimentos dado lugar ao extremo medo o responsável por aquilo... Sua resposta foi sanada, não a que buscava, mas a que precisava. Fora engolido.

Acordou do transe desesperado, demorou para perceber, mas a dúvida em sua vida foi sanada... Só ele para saber.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 05/02/2021
Código do texto: T7177361
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