Morte companheira

Gralha, gralha, gralha.

Era o som que ouvia todo dia, sua companheira indesejada não saía dali. Estava à espreita, só esperando ele morrer. O desespero do prisioneiro aumentava ao lembrar-se disso - e não era difícil lembrar; pois ela gralha, gralha e gralha.

Chora, grita, esperneia.

Sua hora chegará, mas há de se felicitar a paciência da ave, tanto tempo ali, concentrada, com o bico afiado esperando ele cair. Agonia renovada todo dia, quando acordava e via na janela o tal pássaro que o via. A pior das torturas, aprisionado e tendo a morte como companhia.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 31/01/2021
Código do texto: T7173371
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