JOIA DOS MORTOS
Não havia ninguém além dele no deserto, a noite estava chegando e ele deveria fazer o ritual. Pôs, rapidamente, três velas azuis, um tecido verde e uma lâmina de prata no túmulo da lenda.
Parecia não ter funcionado...
Suspirou frustrado por nada ter ocorrido, foi aí que, quando fechou os olhos, transportou-se para o subsolo. Estava numa sala feita de pedras de aspecto antiquado e abandonado. Algumas aranhas avermelhadas alimentavam-se de pequenos insetos capturados na teia.
Era um lugar amedrontador...
A luz solar iluminava parcialmente, algumas frestinhas permitiam isso. No recinto haviam algumas mesas de madeira e cadeiras, taças caídas e estantes com livros de teologia, alquimia, biologia etc.
Avistou uma escada descendente...
Rumou a entrada que levava à ela e encarou-a. Lá também havia a mesma luzinha fraca... Tomou coragem para descê-la e foi, vagarosamente. Viu mais uma sala, esta com um lustre de aço pendurado por uma corda e vários caixões de pedra talhada.
Havia um no centro, com um grande rubi...
Ele seguiu até o caixão central e passou a mão nele...
- Ah, essa joia resolveria todos os problemas...
Tirou do bolso o artefato dourado em formato de serpente, encaixava perfeitamente com a gema rubra. Bastava falar as palavras que o espírito ensinou e ela sairia do féretro.
Quando preparou-se para citar as palavras, os caixões começaram a se abrir...
Apenas o do centro permanecia parado, dos outros saíam os mortos. Todos com uma tiara de prata com um pequeno rubi no meio da testa e com muito ouro espalhado pelos ossos. Cada um possuía também uma luz assustadora no fundo das regiões oculares. Iluminavam o crânio.
Ele se desesperou...
Tentava falar as palavras, mas errava de tão nervoso que estava. E os mortos chegando cada vez mais perto... Quando o alcançaram foi que conseguiu dizer finalmente.
A luz nas frestas intensificou-se de uma forma anormal...
Nem mesmo ele conseguia enxergar o que ocorria. O gemido daqueles seres estrugia e o som dos ossos caindo ao chão era perceptível. Então, abriu os olhos, estava no cemitério novamente.
E o dia amanhecendo...
- Eu dormi?
Não, o rubi estava caído à sua frente, conseguiu a solução dos problemas, já não seria mais enxotado e pagaria o tratamento da única pessoa de sua vida: Elvira, sua avó...