O Filho do Sol - prólogo
Clamando em uma só voz o cortejo pedia a Deus que desse saúde àquele broto que nascia. Levavam a prenha mulher com dor agonizante à Montanha do Sol, para que o filho recebesse as bênçãos do astro-rei com os primeiros raios solares do dia. Ao pé do monte ficou a multidão, subiram apenas a mulher e os sacerdotes, lá o menino veio ao mundo.
Não tardou para receber a tintura dourada em seu corpo e a listra rubra no centro de sua face, indicando que ele era o Filho do Sol, responsável pela bonança daquele povo e daquela terra. Seria, futuramente, o guardião do lugar.
Mal acabou de nascer e já tem tanta responsabilidade...
A mãe, como mandava a tradição, morreria ali. Tinha que dar a vida ao filho que nascera sem coração devido a maldição... A lâmina que perfurou seu peito foi a mesma que perfurou a do seu filho, a mão ensanguentada e com o coração da progenitora foi a mesma que pôs-o no peito vazio do pequeno.
A mãe foi recebida por Deus, assunta aos céus em forma de recompensa pelo sacrifício.
Perdeu a vida, ganhou a plenitude celeste.
O séquito sacro, então, desceu a montanha afim de trazer a boa-nova: o tateera¹ nasceu! A multidão extasiada comemorou e levou o recém-nascido num berço de palha e madeira com ornamentos dourados.
Sua energia era tão forte que até os animais da selva que cruzavam atraíam-se. Seguiram o povo e uniram os cânticos, tudo estava em festa. Ao chegarem à morada, todos veneraram, de joelhos, o menino e levaram-o ao lago de Teawai², sua nova mãe.
Era ela quem o orientaria e cuidaria até seus 17 anos, quando assumiria o seu dever...
Asim deveria ser, mas toda a alegria seria destruída por o mal ancestral causador de todo o mal e criador da maldição...
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¹ - Tateera = "Filho do Sol"; o receptor das bênçãos solares e responsável pela proteção de Nuate (oneta [cidade] do conto)
² - Teawai = "Mãe da Água"; ser elementar-divino feminino que assume a responsabilidade de mãe do tateera.
obs: este conto terá continuação.