O peregrino.

Correu para afugentar-se num casebre feito de troncos de madeira. Quando fechou a porta pôde sentir um alívio: os ruídos do ser insólito cessaram. Tamanha exaustão de ter, para não ser pego, corrido toda a mata o fez desabar enquanto ofegava.

O que era aquela criatura monstruosa e feroz que surgiu?

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Ele era apenas um peregrino a fazer uma visita no vilarejo afim de repousar por uns dias e conseguir mantimentos para sua viagem. Passou dois dias em Hinto, lugar de povo festeiro e hospitaleiro, foi dormir depois do meio-dia num albergue rústico e acordou já com os gritos das pessoas. Quando foi para fora e viu o que se passava apenas correu para pegar algumas coisas que levara para o trajeto e correu.

Muita gente tinha sido atacada, vários foram mortos, a primeira visão que teve do monstro foi vê-lo com dois indivíduos na boca, engolindo-os e deixando a metade do corpo de um cair. Parecia até mesmo um lobo, mas era maior, totalmente acinzentado e andava como um macaco.

Para seu azar, a besta viu-o fugindo para a floresta e resolveu ir atrás dele, deixando o que sobrou do vilarejo para trás. Não corria tão rápido, porém, parecia não cansar, o jovem era humano, mais cedo ou mais tarde não aguentaria a correria e seria alcançado, foi aí que avistou a casinha...

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Sentado, foi tirado dos devaneios ao lembrar que ainda corria o risco de ser pego, então, levantou-se com dificuldade e procurou na casa inóspita algo que pudesse usar para defender-se. Entrou num cômodo que continha ferramentas.

- Ótimo. - saiu mais como um (outro) alívio.

Enxadas, pás, alicates e afins. Por sorte havia uma espada de mão-única, daquelas de viajantes, pegou-a e agradeceu por ter encontrado um meio de defesa minimamente adequado.

O monstro voltou a assombrá-lo quando começou a investir contra a parede de madeiras, se continuasse assim a casa desabaria logo; era uma estrutura frágil, grandes troncos foram deixados na horizontal e amarrados por cordas resistentes, mas desgastadas pelo tempo.

Ele teria que sair, e assim fez...

Lentamente, pôs o corpo para fora e nada viu e nada ouviu. Andou devagarinho por todo o perímetro da residência até encontrar o monstro. Ele estava parado, foi então que percebeu: não possuía olhos. Ligou os pontos e descobriu que ele situava-se a partir dos sons. Tinha que usar isso ao seu favor.

Pegou uma pedra e jogou para dentro da mata, o bicho foi atrás. Era o momento de distanciar-se mais ainda. Adentrou a mata densa, cuidando para não fazer tanto barulho, mas apertando o passo.

Ah... Que azar tinha...

Uma espécia de ave, média, de longo pescoço e com coloração avermelhada com algumas listras amarelas, pretas e brancas na cabeça viu-o e começou a vocalizar. Era um canto muito, mas muito alto. Isso porque o jovem aproximou-se de sua área, onde havia deixado seu ninho e ele era um risco para suas crias. Não demorou e o monstro já estava à sua caça novamente.

Mas ele tinha uma vantagem...

Uma coragem, inexplicavelmente, emergiu de dentro de sua alma:

- Dá pra vencer...

Ele faria isso não por ele, mas por aqueles que os trataram tão bem quando chegou em Hinto. Sempre que chegava em alguma cidadela ou vila era tratado como um marginal. As pessoas tinham essa visão de peregrinos: vagabundos, incompetentes, desertores...

Se saíam da terra natal para viver ao léu era porque, com certeza, não foram boas pessoas.

Hinto e seu povo, porém, foram os únicos que aceitaram-no, mesmo que temporariamente, sem julgá-lo. Não poderia simplesmente fugir e deixar aquele ser lá para voltar e destruir o restante do vilarejo.

Usando da inteligência, confundiu o monstro, provocando sons diversos naquela selva.

Mas não estava sendo suficiente...

A criatura sempre conseguia perceber os movimentos do jovem. Então lembrou da ave barulhenta.

- Se há uma, deve haver mais.

Puxou do bolso uma bolinha dura de ferro que continha um material inflamável, guardava para usar quando precisasse de ajuda. Ela explodia e causava um clarão e um som estridente que poderia ser ouvido de longe. A bolinha explodiu.

Vários e vários pássaros daquela espécie revelaram-se e faziam sons insuportáveis por toda a parte; até mesmo o garoto sentia-se terrivelmente incomodado.

Mas o monstro estava mais...

Era o momento, o ser, naquela confusão, não conseguia se concentrar e foi quando recebeu o golpe certeiro no pescoço. Saiu dele todo o sangue que bebeu dos inocentes e, no últimos grunhido de dor, dissipou-se pelo ar em estado de fumaça.

~

O tempo passou.

Hinto ainda estava sendo reconstruída após o ataque, foram perdas significantes para a região: quase metade dos cidadãos morreram. O povo era forte, reergueram o vilarejo e o rapaz, como forma de agradecimento, foi eternizado com uma estátua feita em sua homenagem.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 09/12/2020
Código do texto: T7131897
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