Navio das lamúrias

O navio partiu mais cedo, muitos não chegaram a tempo. Apenas dez, de uma viagem de cinquenta, estavam na embarcação. O destino era a baía que ficava no norte. Lá atracavam muitos barcos com mercadorias e migrantes, alguns cruzeiros lotados de turistas e nós, simplesmente nós.

Não era a minha vontade ir, mas desde os meus dez anos eu sou obrigado, se não torturariam-me de formas terríveis. A última e única vez que ousei desobedecer uma das ordens do capitão me bateram muito, amarraram meus pés e me deixaram pendurado por instantes na água fria do oceano, enquanto riam de mim.

Desde então, me rendi à submissão. Vez ou outra um novato ou novata resolvia rebelar-se, em sua razão - assim como eu tive a minha. Eles não tiveram a mesma sorte, o capitão já não era o de antes, agora, ele era pior como ser humano, seus castigos eram bem piores. Eu não via o que acontecia com eles, alguns voltavam, muitíssimos machucados, outros nem retornavam da sala...

Pelo fato de já aceitar a minha condição e sempre ser obediente, os marujos já nem me tratavam tão mal, mas, hoje, devido o problema de mais cedo, só haviam eu e outros quatro de inocentes naquele navio; era um dia atípico. Gritavam mais do que o normal e pareciam nervosos.

Talvez a Polícia descobriu o que ocorria no porto, tiveram que sair às pressas...

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 19/10/2020
Código do texto: T7091396
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