Naufrágio

O veleiro resistia, naquela tempestade violenta. Marujo nenhum ainda tinha esperanças que de lá sairia vivo, desistiram de lutar contra a chuva e prostraram-se a rezar desesperadamente. O timoneiro não conseguia mais controlar a embarcação, em meio a gritos e mais gritos, ordens não cumpridas, ele resolveu dar fim à própria agonia, pulou para o oceano. Deixou sua vida ao mar naquele momento de terror. Já não havia mais ordem, tudo foi dominado pelo caos, pelo estrondo e pelas águas agressivas.

Um raio atinge a gávea, a certeza era que agora todos morreriam, não tinha para onde fugir. O mastro parte-se ao meio, sobrava apenas um, com a vela rasgada. O barco movia-se, agora, com a força do mar, não tinha direção.

Dentre tantas tragédias, uma maior assolou a tripulação: uma outra descarga elétrica caiu bem na estrutura do meio, onde haviam aços para o funcionamento de engrenagens. A energia espalhou-se pelo navio, dois terços dos tripulantes foram eletrocutados, metade morreu na hora, os outros não resistiram as condições posteriores.

Era um cenário horrendo.

Um alguém, que estava naquela embarcação contra a própria vontade, estava no mastro sobrante. Agarrado na estrutura, com os olhos cerrados, tentando não ver toda situação. Aquela alma jovem nunca, ao menos, pisou no piso de um navio, era sua primeira vez e já estava passando por tudo aquilo. Ora, até, como todos ali, já tinha aceito a própria morte. Apenas rezava e pedia perdão por tudo, apesar do pouco tempo de vida, que fizera de errado.

O barco bateu em um rochedo grande, um buraco enorme abriu-se no inferior da estrutura, com o impacto, o mastro restante não aguentou e partiu, o rapaz tentou até escapar, mas era impossível. Quando acordou, estava na beira do mar, n'areia que parecia até mesmo o abraçar. Suas correntes estavam quebradas, seus braços não estavam mais amarrados, as marcas que adquirira naquela viagem fatídica pareciam saradas. Apenas algumas gotas de sangue escorriam brandamente em sua testa.

Não viu perto nenhum marujo.

Levantou-se, no horizonte, de céu limpo e vislumbrante do entardecer, estava aquele navio, empacado na pedra, mas sem nenhum sinal de vida. Olhou para trás e viu um povoado, era lá que surgiria sua nova vida.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 02/10/2020
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