A Ordem do Pássaro Negro

A Ordem do Pássaro Negro

Quando esse seguimento surgiu, ninguém imaginava que tal coisa fosse dominar e dividir o mundo num antes e depois infernal. Quem seria capaz de dizer que a nova religião conseguiria desbancar todas as outras e as colocar no bolso? Como tudo nesse mundo, a ordem começou devagar, sorrateira como uma serpente e quando finalmente demos importância a ela, já era tarde, o horror já havia se estabelecido quase que no mundo inteiro. A ordem do Pássaro Negro, a causadora da insônia mundial, a principal responsável dos assassinatos em praça pública a luz do dia. Pessoas foram incendiadas e outras violentadas até a morte.

Houve uma vez em que um pai foi obrigado a doar suas filhas adolescentes a ordem para serem possuídas pelo grande líder da ordem. As duas meninas foram estupradas diante de seis mil pessoas dentro do templo conhecido como O Ninho Escuro. Foi um show de horrores. Na época a polícia foi acionada, porém não conseguiram prender o culpado. Ainda diante das seis mil pessoas, o mestre da ordem jogou uma terrível praga em quem o denunciou.

- Não irei interroga-los, seus miseráveis. Com a autoridade que o pássaro colocou sobre mim, eu ordeno que o coração de quem fez isso exploda agora, já. – estendeu o braço.

No meio do povo ouviu-se um grito gutural. Uma mulher desabou ajoelhada segurando seu pescoço e massageando o peito. Ela seguia gritando quando o sangue esguichou de sua boca manchando o piso. Ninguém a ajudou. Todos assistiram sua agonia, os espasmos até que por fim ela emitiu um último grunhido.

- Viram? O Pássaro Negro não brinca e não admite que brinquem com ele. Alguém mais quer ser punido? – abriu os braços.

Todos se ajoelharam e cantaram bem alto. As duas meninas correram para os braços do pai que chorava copiosamente e lamentava.

- Onde eu estava com a cabeça.

A ordem do Pássaro Negro dominou o mundo. Todos temiam essa nova religião. A manifestação de poder de seus seguidores deixou o povo em pânico. Era comum ver pessoas se transformando em animais e até em seres das profundezas do inferno, às vezes a luz do dia. Certa feita, numa discussão de trânsito, um rapaz se transformou numa espécie de felino e sem hesitação devorou o outro sujeito, além dos outros passageiros do carro. A cena foi de dar um nó no estômago. Depois comê-los, ele voltou ao seu estado normal coberto de sangue e resíduos de vísceras. Enjoado ele vomitou todo o asfalto.

A regra é simples; quem deseja ingressar na ordem, homem ou mulher, velho ou criança, precisa passar por um teste de resistência. Uma senhora de 70 anos ergueu o braço no Ninho Escuro aceitando o convite do mestre da ordem. Ela foi até ele e o abraçou.

- Eu quero ser uma das filhas do Pássaro. – disse chorando.

- Estás ciente de que terás que ser testada, não sabe?

- Sim, meu senhor, eu quero, eu quero muito.

- Ótimo. Serviçais, me tragam o carrasco.

Foi entregue ao líder um pequeno chicote feito de couro com pedaços de metal nas pontas. Trinta chibatadas. Todas no rosto. Esse é o mais terrível dos testes. No golpe quinze o olho esquerdo da velha também foi arrancando e a essa altura a idosa já estava caída no chão do templo. A mulher berrava a cada golpe. O sangue salpicava o rosto do mentor que sentia prazer ao ver a carne sendo lacerada. Trinta golpes. O rosto da senhora desfigurado. No canto perto do púlpito um olho esmagado.

- Não fiquem preocupados, ela ainda está viva. – ele deixou o chicote de lado. – mesmo cega, ainda quer servir o pássaro, sua infeliz?

Deitada. Esvaindo sangue. Respirando com dificuldade. A mulher gritou alto.

- O Pássaro Negro restituirá minha visão. Eu afirmo que vou servi-lo sim. – chorou.

Ninguém ousa em desafiar essa religião. Tenebrosa, violenta, impiedosa e destruidora. O líder do seguimento se tornou o ser mais poderoso, capaz de flutuar. Ele também é capaz de agredir uma pessoa sem ao menos toca-la. Prova disso foi quando o mesmo foi questionado num programa de TV sobre sua saúde mental. Furioso, o mestre estendeu o braço e o jornalista se sufocou morrendo em seguida. O corre corre foi assustador, todos abandonaram o auditório deixando o homem sozinho, sentado e rindo do pavor do povo.

- O Pássaro Negro virá. Esse mundo será dele, todos serão dele. Não adianta fugir.

Dito isso ele se desfez em um monte de poeira negra e se foi. Ninguém sabe o seu nome, sua origem ou o que pretende fazer. A única coisa que se sabe do mestre é que sua vida pertence ao Pássaro Negro, que um dia ele será consagrado pela própria entidade vindoura. Segundo ele, sua missão é preparar o caminho e guiar os seguidores para o grande dia do encontro com o ele.

*

A ordem tomou força. Foi como um tsunami. Destruiu seitas, religiões, devastou doutrinas e até mesmo sociedades secretas. Artistas de todo o mundo se curvaram ao Pássaro Negro. Líderes e poderosos, todos se renderam proclamando a ordem aonde quer que estivessem. O presidente da nação mais poderosa do mundo fez um discurso em rede nacional. Pra falar a verdade não foi bem um pronunciamento. O ambiente foi todo modificado, ao lado da bandeira do país havia outra bandeira. A bandeira do Pássaro Negro possuí o fundo negro noite com a silhueta de um pássaro gigante num tom de vermelho bastante vivo.

- Há tempos procurávamos algo o qual pudéssemos nos recostar e sentir segurança; bom, acho que nós o encontramos. – apontou para a bandeira negra. – eu, como chefe dessa nação, tenho orgulho em dizer que, a Ordem do Pássaro Negro, é sem sombra de dúvidas, o braço forte, a mão estendida para qualquer cidadão desse país. – abriu os braços em forma de pássaro. – vida longa ao Pássaro.

Sim. Depois desse pronunciamento, no salão oval, o presidente precisou ser contido pela segurança. Foi dito que ele rasgou a bandeira nacional enquanto cantava uma música em louvor a ordem. Foi uma noite e tanto no interior da casa branca.

Se houveram opositores? Lógico que sim. Um grupo de pessoas insatisfeitas com o movimento, lideradas por um tal de Miguel Passos, fundou a Poder Azul. Quando esse novo seguimento apareceu foi como um bálsamo na ferida que ardia. No espaço de uma semana a Poder Azul já havia arrebanhado milhares de adeptos. No início eles alugaram um salão de festas. Miguel, mesmo sem muito preparo, falava sobre esperança, de um futuro bem melhor.

- Precisamos erguer nossas cabeças e combater esse terrível mal. Nem tudo está perdido. Lembram como tudo era antes da ordem? Tínhamos diversas denominações e cada um vivia sua vida em paz. Coragem meu povo. O Pássaro Negro não pode ser o ponto final dessa história. Levantem as mão quem irá a guerra comigo?

Todos ergueram suas mãos. Todos desejam ser soldados da Poder Azul. Todos contra a Ordem. E o que vai acontecer? Bom, isso já é uma outra história.

Convido a todos a visitarem o meu blog manualdoscontos.blogspot.com

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 18/09/2020
Código do texto: T7066214
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