A bruxa silenciosa
Um grito ecoou na boca da mata, era de uma mulher, uma voz grave, voz essa conhecida pelos moradores da região. Diz a lenda que lá, muito antes do povoado se tornar vila, viveu uma senhora que ninguém sabia quem era, de onde vinha e o que fazia ali. Simplesmente chegou na região e lá se firmou.
Não falava com ninguém e nem saía de casa, os moradores de lá estranhavam.
"Como ela vive?"
"Que mulher estranha..."
"Tenho medo dela".
Eram umas das frases comumente ditas pelas pessoas sobre essa senhora. Tanto era o medo que acabou se tornando folclórica dentre o povo, que dizia se tratar de uma feiticeira, bruxa etc.
Aquela mulher, que ninguém sabia o mínimo que fosse, não se importava com o que diziam sobre ela, mas a fama de bruxa acabou se espalhando muito, até as crianças tinham medo de passar em sua casa. Algumas pessoas arremessavam pedras em sua casa, à noite. Esses atentados foram se tornando cada vez mais comuns, ela nada podia fazer.
Um dia, voltando da escola, um garoto que passava sozinho no local acabou sendo atacado por uma onça, que saiu da mata e acertou-lhe na perna, o derrubando e fazendo sangrar. A mulher ouviu os gritos do menino e foi socorrê-lo, espantou o felino com um pau e acudiu o pequeno. No momento, porém, chegaram alguns adultos e crianças, atraídos pelo som e se depararam com a senhora, frente ao menino ensanguentado. Logo gritaram:
"Bruxa! Ela quer matar ele!"
Uns foram pedir ajuda, outros foram resgatar o menino.
Quando chegaram no povoado contaram que viram a "bruxa silenciosa" atacando Miguel, filho de um peixeiro querido de lá. Ora, todos se revoltaram e pegaram pás, enxadas, facas e outras armas; iam dar um fim na feiticeira.
Lá chegaram na casa da senhora, escondida em sua casa, amarraram ela e a levaram para a floresta, a multidão tentava linchar a mulher, suja nas mãos com o sangue do garoto.
"Vejam! O sangue nas mãos dela, iria fazer um sacrifício!"
Aquela gente toda amarrou a mulher numa árvore e chamaram o padre, que a benzeu. Por mais que ela tentasse se defender das acusações, ninguém dava ouvidos, pelo contrário, um homem jogou uma pedra que atingiu a cabeça da pobre mulher, que desmaiou na hora.
Foi aí então que atearam fogo na árvore, queimando aquela inocente.
Desde aquele dia o povoado nunca mais foi o mesmo, diariamente se ouviam gritos desesperados vindo da mata e se podia ver, à noite, a floresta pegando fogo.
Uma mulher inocente foi morta...