A dívida sobrenatural - II
Quando virou se deu de cara com um demônio, grande, parecia ter pouco mais de dois metros de altura, bem forte, de pele acinzentada, um par de chifres bem grande, dezenas de dentes igualmente avantajados. Nele também havia uma longa cauda que expelia enxofre, seus pés eram de bode e suas mãos monstruosas. Seus olhos eram grandes, vermelhos, de dar fazer qualquer um estremecer de medo.
O garoto, com o susto, recuou e se benzeu diante do ser demoníaco que encontrava-se em sua frente; ele riu da reação do menino.
- Deixe-me em paz, criatura das trevas!
O rapaz desconjurava o ser, na tentativa de fazê-lo sumir, porém, nada ocorria ao demônio, este, ao ver a cena ridícula, agarrou o noviço com as mãos e o levantou, prendeu os braços dele para que não se debatesse, mas não foi necessário, pois o menino ficou quieto com o ato, teve medo e fechou os olhos, temendo o pior.
- Abra os olhos, Felipe...
Disse, com a voz grossa e bem rouca, o ser infernal, o rapaz, muito surpreso e assustado, por saber ele o seu nome. Abriu, o monstro estava bem perto de si, um suor frio escorria solitário em sua testa.
- O que quer comigo? Suma, me deixe em paz, já lhe pedi! - suplicava Felipe.
- Venho aqui a pedido de uma pessoa, tenho certeza que você nutre um grande carinho por esta. - disse dando uma gargalhada irônica, mostrando o retrato da mãe de Felipe, insinuando que seria ela a quem se referia - Ela é a razão por eu se fazer presente aqui.
- Minha mãe?! Não faz sentido, por que ela pediria isso? Ela está num lugar melhor, não perderia tempo com isso!
- Eu não teria tanta certeza... Sua mãe está no mesmo lugar que o meu: no INFERNO!
A confusão apenas aumentava na mente do rapaz. Sua mãe, tão boa e que tanto sofreu no inferno? Ele só poderia estar lhe enganando... Porém tirou de sua garganta um olho, azul, igual o de sua genitora, aí se desesperou...
- Sua mãe, há muito tempo atrás, com o seu pai, eram bruxos, praticavam rituais e cultos a mim, faziam sacrifícios e orgias, um dia eu os pedi uma alma, inocente, eles me prometeram dar, em troca da ruína de um poderoso homem e o mais rico deste país. Eles tiveram você durante um rito satânico, regrado a sangue, mas sua mãe, enquanto estava grávida, não quis dar o filho primogênito, seu pai descobriu as intenções da esposa, então, se envolveu com outra mulher para ter o pretexto de se divorciar, assim, teria como fazer o sacrifício com outra mulher, essa, quando descobriu, agiu com rapidez e roubou seu pai, o fazendo cair em desgraça. Você nasceu, cresceu e vosso pai nutriu um grande ódio por ti e sua mãe, dizendo ser por culpa de vocês a pobreza dele. Hoje sua mãe queima no inferno, seu pai lhe odeia e eu, estou aqui, para lhe propor um negócio...
- Que negócio - disse com a voz trêmula.
- Seus pais prometeram, no pacto, que eu poderia levá-lo como garantia, caso não me dessem-o no sacrifício, quando chegasse nesta idade...
Felipe engoliu em seco, seria morto naquele momento, afinal?
- Mas a sua mãe propôs a mim, no outro plano, uma outra oferta. Eu não o levarei caso mate o seu pai em meu nome, assim, jamais farei algo a ti e poderá viver em paz. O que me diz?