Lanche da madrugada
Ela cedeu apenas porque estava se sentindo solitária. O sujeito não era exatamente o seu tipo, mas ele disse que tinha um apartamento.
- Você mora só? - Ela indagou, olhos semicerrados.
- Sim, não tenho ninguém - jactou-se o rapaz.
- Ótimo - replicou ela. - Vamos?
Saíram do bar e ele a levou até o carro estacionado numa rua lateral. Ela sentou-se ao lado dele.
- Você costuma ir naquele bar? - Indagou o rapaz.
- Não. Primeira vez. Às vezes é bom mudar um pouco de cenário - comentou ela. - Importa-se que eu fume?
- Não, tudo bem; mas abra a janela, por favor.
A noite estava nublada e a temperatura agradável, nem quente nem fria demais. Ela fumou em silêncio, até que chegaram ao prédio onde ele residia. Apagou a guimba com a sola do sapato ao desembarcar.
Não havia ninguém na garagem do prédio. Subiram pelo elevador até o 8º andar.
- Um minuto que eu vou escovar os dentes - ela avisou com um sorriso. - Vá preparando as bebidas.
- O que você quer beber? - Indagou ele, solícito.
- Gim tônica, se tiver - replicou, antes de entrar no banheiro e fechar a porta.
Ao sair, ele já havia colocado os copos na mesa de centro da sala. Sentaram-se no sofá e brindaram.
- À sua saúde! - Exclamou ele.
- Que gentil - ela comentou, antes de tomar um longo gole do gim tônica.
Segundos depois, caiu desmaiada e o copo espatifou-se no chão.
* * *
Quando acordou, já era dia e estava amordaçada e amarrada dos pés à cabeça. Cordas fortes, serviço de profissional. E, por ironia, ele a havia colocado dentro da banheira; retesou os músculos, mas foi inútil. Grunhiu.
Ele pôs a cabeça para dentro do banheiro e sorriu.
- Acordou? Que metabolismo incrível; no seu drinque tinha sonífero suficiente para derrubar um elefante.
Ela o fuzilou com os olhos, o que era perfeitamente inútil.
- Vou ganhar um bom dinheiro com você - avaliou o rapaz com ar zombeteiro. - Disseram que era arriscado tentar capturar uma de vocês sozinho, mas, bobagem... foi até muito fácil.
A campainha da porta da frente tocou. Ele afastou-se e foi atender.
- Encomenda? Mas eu não pedi nada - ouviu-o dizer.
Houve um som de ossos sendo triturados seguido de silêncio.
Uma outra mulher, vestida como entregadora, surgiu na porta do banheiro, limpando o sangue da boca com as costas da mão. Inclinou-se sobre a banheira e arrancou a mordaça da prisioneira.
- Por que demorou tanto? - Indagou esta.
- Eu precisava ter certeza de que você não seria capaz de se livrar sozinha - retrucou a recém-chegada com desdém, antes de começar a desatar os nós.
- [13-07-2020]