:: Série Humor Negro :: Episódio de hoje :: " A fruta que apodrece"
Pegou na feira, passou na camisa. Mordeu. O gosto ácido logo tomou sua boca. A língua denunciou: estava madura demais. A fruta não estava podre, decerto; mas estava meio roxinha, bem escura. o gosto doce era doce demais; o ácido, contrastando, era demasiado forte. O gosto estava estragado, mas o cheiro, o toque da fruta ainda não.
Discretamente, abaixou a mão e deixou a fruta cair levemente por ela. levantou rápido novamente a mão e coçou o nariz.
Estava feito. Jogara a fruta fora. Não jogou, de fato. Mas deixou que escorregasse. E só.
A fruta, sozinha no mundo, era chutada, pisoteada, esmagada, suja, com suas entranhas decompondo-se, espalhadas.
Logo, foi derretendo ao sol. Sua água podre saía, e as moças que varrem ruas passavam longe dela.
A fruta não era mais fruta, desde que suas águas se foram, seu suco se foi; apenas a poeira grudava nela e se parecia com parte do chão.
Nem escorregavam mais nela.
E foi aí que aconteceu um acontecimento inédito: a fruta virou chão, misturando-se eternamente, nas substâncias do mundo.
:: Comentário da autora ::
"Nada demais. Apenas o mundo voltando a si.
Agradeço os comentários, mas este é apenas um teste. Não precisam se irritar se não causar medo. Apenas testando uma nova linha...
Obrigada pela compreensão."
Bárbara Guerra