O Lobisomem

Muitos acham que criaturas místicas não existem, como fadas, sereias, lobisomens e outros do gênero. Mas se eu disser que já tive uma experiência com um deles... Você acredita? Ótimo, irei te contar como tudo aconteceu, espero que isso te convença.

Eu tinha por volta dos meus doze anos, morava com os meus pais na capital de São Paulo, acho que até aí, não tem nada de mais... Eu sei, mas ainda não cheguei onde queria.

Meus avós paternos, sempre viveram no interior, literalmente na roça, o que não é estranho... Muita gente mora na roça e é algo totalmente normal. Mas o foco não é esse, e sim, o que aconteceu enquanto os visitava em uma das minhas viagens. Sempre que entrava de férias, ia visitá-los, coisa que qualquer pessoa faria. Amava ter o contato com a natureza... Nunca fui muito fã da cidade grande.

Lembro perfeitamente, quando me juntava com meus primos durante a noite, sempre montávamos uma fogueira junto de meu avô. Ficávamos sentado em volta, enquanto observávamos as estrelas... Era a coisa mais incrível de se ver, principalmente para um garoto da cidade grande que nem eu.

Como era interior e não tinha muita iluminação onde meus avós moravam, conseguíamos ver tudo no céu, literalmente. Posso dizer que era algo incrível de se ver... Costumávamos procurar por constelações e coisas do gênero.

Também fazíamos questão de contar histórias ou relatos que havíamos passado ou presenciado, eram coisas que sempre valorizei e guardo até hoje. Talvez um dia, eu volte a fazer isso... Talvez um dia.

Naquela mesma noite, sim, na mesma noite onde resolvemos contar diversas histórias de terror, começou a acontecer algo estranho. Meus primos e meu, ficamos sem entender o que estava acontecendo. A casa do meu avô, era bem simples e pequena. Conseguíamos ouvir tudo do lado de fora, literalmente tudo.

Sei que já era tarde da noite, quando ouvimos as galinhas bem agitadas, o que era estranho, já que o galinheiro era bem protegido... Me juntei com meus primos e decidimos ir ver o que era, mas assim que chegamos, não encontramos nada. As galinhas estavam intactas e ficaram em silêncio no mesmo instante. Sei que pode parecer estranho, mas não demoramos nem meia hora para chegar até o galinheiro, e as galinhas agiram como se nada tivesse acontecido. Aquilo era no mínimo peculiar de se acontecer.

Decidimos voltar para dentro da casa, mas por algum motivo, os cavalos do meu avô, começaram a relinchar muito, assim, corremos até lá para ver. Mas assim como as galinhas, os cavalos simplesmente ficaram quietos, como se nada tivesse acontecido por ali.

Sei que nesse momento, um frio percorreu por minha espinha, porque jamais aconteceu algo assim em todas as vezes que vim para cá. Meus primos e eu, saímos em disparada para a casa de meu avô. Todos já estavam dormindo, principalmente ele.

Lembro que ele sempre teve um sono muito pesado, então, se algo acontecesse, meu avô só perceberia no dia seguinte. Mas como ele sabia que aquele lugar era sossegado, ele não se preocupava muito. Assim que chegamos em casa, corri para o quarto do meu avô e o acordei, dizendo que algo muito bizarro acabara de acontecer com as galinhas e os cavalos.

Meu avô apenas riu, disse ser coisa da minha cabeça, e que normalmente, os animais se agitam por puro instinto. O que não fez muito sentido, até porque, não tinha nenhum tipo de ameaça ali perto.

Nesse exato momento, saímos eu, meus primos e meu avô, pois eu jurava ter ouvido algo lá fora e que estava agitando os animais. E sabia muito bem que aquilo não era normal, nem mesmo para uma fazenda.

Meus primos e eu, puxamos meu avô para o galinheiro, e assim que chegamos, as galinhas estavam dormindo, como se nada tivesse rolado por ali. Aquilo me deixou frustrado, porque sabia muito bem o que havia ouvido junto de meus primos.

Meu avô ao olhar aquela calmaria toda, simplesmente riu e disse para irmos dormir, e que provavelmente as histórias que havíamos contado, nos afetaram de certa forma. Eu queria muito acreditar que sim, porque o que ouvimos, foi totalmente assustador.

Decidimos passar no estábulo e ver os cavalos, e assim como as galinhas, todos estavam adormecidos. Era frustrante você ouvir algo e quando chega no local, aparentemente nada havia acontecido.

Como aquilo tudo havia sido coisa da minha cabeça e dos meus primos, resolvemos ir dormir, já era tarde da noite, e só nós estávamos acordados na casa.

Assim que chegamos em casa, corremos para o quarto onde costumávamos dormir, mas ninguém conseguiu pregar os olhos. Com muito custo, ambos dormiram e só acordaram na manhã seguinte, já com a luz do sol adentrando o local.

Acordei um pouco depois dos meus primos, que já haviam tomado café e estavam lá fora, brincando como sempre. Eu era o mais velho entre eles, éramos quatro no total.

Resolvi levantar, dei aquela breve espreguiçada e corri para o banheiro, onde lavei meu rosto e escovei meus dentes. Saio de lá e vou até a cozinha, que era bem simples, uma boa parte das coisas que tinham ali, eram feitos de barro ou materiais parecidos.

Minha avó ainda me esperava para tomar café, sempre foi assim, gostava de conversar com ela sobre muitos assuntos, por mais que ela fosse bem leiga e ignorante com muita coisa. Assim que termino de tomar o meu café, corro para ir brincar com os meus primos, que já estavam aprontando lá fora.

Como meu avô tinha uma fazenda, que era simples, mas com muitos recursos ao redor, podíamos fazer bastante coisa por ali. Costumávamos correr atrás das galinhas, andar de cavalo e até mesmo escalar árvores e pegar frutos do próprio pé. Ficamos praticamente o dia inteiro nos divertindo, e quando já era por volta das dezoito horas, voltamos a ouvir aquela agitação com os animais, mas dessa vez, foram com animais diferentes.

Primeiro começou no chiqueiro, que não ficava longe dali. Os porcos grunhiam de uma forma totalmente bizarra, o que era assustador, mas assim que chegamos no local, eles pararam no mesmo instante. Igual a noite anterior, assim que eles haviam parado, as vacas que estavam no celeiro, começaram a mugir de uma forma frenética. Corremos até lá, mas como os outros animais, elas simplesmente pararam e agiram normalmente.

Decidimos ir atrás do meu avô, e assim que contamos o que havia acontecido, ele mais uma vez, nos taxou como loucos, e que não ouviu nada durante esse tempo. Ficamos sem saber o que fazer, mas sabíamos que aquilo não era normal, e que era praticamente impossível ele não ter ouvido todo aquele barulho dos animais de sua fazenda.

Meu avô disse num tom sério, para que esquecêssemos o que havia acontecido, e que provavelmente, era tudo fruto de nossa imaginação, e que nada aconteceu por ali. Cansado da loucura do meu avô, decidimos ir falar com minha avó, talvez ela, pelo menos ela, tivesse ouvido alguma coisa naquele momento.

Logo que entramos em casa, minha vó estava na sala, tricotando algo, era um hobbie que ela tinha, e que a fazia muito bem. Perguntamos se ela havia ouvido algo na noite anterior, como cavalos relinchando ou as galinhas cacarejando. Ela nos olhou seriamente em nossos olhos e disse que sim, mas que não podia dizer o que era, apenas que esquecêssemos aquilo e continuássemos brincando como sempre.

Meus primos e eu, ficamos com aquilo tudo na cabeça o dia inteiro, tentando entender o que nossos avós estavam escondendo. Porque se era tão sério assim, a coisa devia ser feia e séria.

O dia foi acabando e a noite veio, e como de costume, mais uma vez, decidimos acender uma fogueira e contar histórias de terror, mas dessa vez, pedimos ao nosso avô, que contasse algo muito sinistro que tivesse acontecido ali na fazenda. Mas por um breve momento, percebi meu avô tenso, como se estivesse com medo de contar.

Olhei para minha vó por alguns segundos e ela estava pálida, como se eu tivesse dito algo que os assustou naquele momento. Decidi deixar de lado, não queria causar problemas a eles, muito menos os meus primos.

Naquele momento, meus avós decidiram entrar, eles costumavam acordar bem cedo para iniciar os trabalhos da fazenda, já meus primos e eu, decidimos ficar mais um tempo ali fora. Mas como nem tudo são rosas... O inesperado aconteceu.

Bem longe da fazenda, ouvimos um uivo, o que era impossível, já que não havia lobos por ali, nem cães selvagens. Olhei para meus primos, que olharam para mim, e no mesmo momento, corremos para dentro de casa. Os quatro correram para o quarto, onde ficaram imóveis e sem fazer um piu sequer.

Ficamos sem entender de onde vinha aquilo, mas sabíamos o quão medonho e assustador era. Para o nosso azar, o uivo foi ficando cada vez mais e mais perto, até que, conseguimos ouvir sons de cachorro, como se estivesse farejando algo. Confesso que nessa hora, senti um enorme arrepio por todo o meu corpo, minhas pernas, amoleceram por completo. Não sentia absolutamente nada, apenas medo e desespero.

O som foi ficando cada vez mais perto, o que começou a nos dar ainda mais desespero, afinal, o que quatro garotos poderiam fazer em meio aquilo? Ninguém seria tão louco ao ponto de sair e ver o que era.

Conseguimos ouvir arranhões nas portas e janelas da casa, e posso dizer que não eram simples arranhões de um cachorro comum, que pede para o dono abrir a porta para que entre em casa. O som era extremamente alto, e que faria qualquer um se mijar de medo.

Para a nossa surpresa, começamos a ouvir batidas na porta, batidas extremamente altas e medonhas. Por um breve momento, achei que ela seria derrubada e a tal criatura entraria em casa. Mas para a nossa sorte, a criatura parou. Conseguíamos ouvir nitidamente seus passos, que eram pesados e lento.

Tudo ficou em silêncio depois de alguns minutos, mas achamos tudo estranho, e como nossos avós não haviam escutado toda aquela barulheira? Era impossível eles não acordarem com aquilo, literalmente impossível.

Eu e meus primos nos olhamos, todos completamente assustados e sem saber muito o que fazer, decidimos ir até o quarto de nossos avós, aquilo não ficaria sem um tipo de explicação.

Fomos correndo até o quarto dos dois, mas para a nossa surpresa, estava trancado, batemos e gritamos diversas vezes, mas sem sucesso, meus avós não acordavam de jeito nenhum. É como se eles já estivessem prevendo algo, e algo que nós não sabíamos o que era.

Como a porta não era tão resistente, com a ajuda de meus primos, a chutamos com toda a nossa força, fazendo ela cair. Nesse momento, meus avós acordaram assustados. Fomos em sua direção e questionando o que estava acontecendo naquele lugar, e sabíamos muito bem que não era fruto de nossas imaginações, e podíamos provar isso.

Meu avô foi lá fora conosco, assim que abrimos a porta da sala, conseguimos ver marcas enormes de garras, tanto ali, como em cada janela da casa. Naquele momento, eu sabia que meu avô iria contar o que estava acontecendo na fazenda. Ele não tinha outra alternativa.

Sentamo-nos os cinco na beirada da porta e ele começou a contar, que há muito tempo, existiu uma lenda, onde existia um lobisomem pelas redondezas, e que todas as noites, ele aparece, mas muita gente nunca levou isso a sério, e que era apenas um mito. Mas ele acabou citando uma vez, em que ele havia saído para caçar durante a noite e encontrou uma criatura, que parecia um cachorro, mas andava igual a um homem. Meu avô ficou tão assustado, que acabou fugindo, sem que a criatura o visse... Mas acabou revelando outras vezes em que tinha trombado com ela pela mata a dentro.

Aquilo sim era uma história de terror digna de ser contada, mas logo fomos interrompidos pelos uivos bizarros daquela criatura, posso dizer que estavam perto, perto até de mais, se quer saber...

Meu avô, meus primos e eu, decidimos ir em direção do som, que vinha do estábulo, mas dessa vez, tinha algo ali, algo totalmente horrendo. Assim que chegamos, ouvimos a tal criatura mastigar e rasgar algo. Fomos nos aproximando aos poucos, mas assim que consegui vê-lo, ele estava literalmente rasgando um cavalo por inteiro, mas antes que eu pudesse dizer algo, o vejo virar o rosto.

Seus olhos eram vermelhos, seu rosto estava coberto de sangue, continha presas enormes, e por fim, ele uivou, saindo as pressas dali, como se tivesse ouvido algo ali por perto. Nós nos escondemos em um local que fosse seguro, e assim que conseguimos sair, ele já tinha ido embora...

Toda vez que conto essa história, as pessoas me taxam como louco ou dizem que minha imaginação é muito fértil, porque criaturas como essas, simplesmente não existem... Mas sei muito bem o que vi, e levo isso como uma grande experiência.

E você, já viu algo parecido?

B Folk
Enviado por B Folk em 21/06/2020
Código do texto: T6984280
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