Clowie, o palhaço

Tem medo de palhaços...? Não?! Pois eu tenho, e não, não é um medo bobo como se fosse igual a de uma criança. Gerei um certo trauma deles, mas nunca soube muito bem o porquê. Só sei que... Me arrepio todo só de olhar para um.

Esse meu medo começou quando eu era muito novo, por volta dos meus seis ou sete anos, não lembro ao certo. Sei que algo muito bizarro aconteceu e eu simplesmente gerei esse medo absurdo por palhaços.

Sei que para certas pessoas, é besteira minha, e que palhaços são amorosos e só querem nos divertir ou simplesmente tirar um sorriso de nossos rostos. Mas sério, não consigo assimilar palhaços com coisas boas.

Todos nós temos certos medos, alguns do escuro, outros de insetos, bicho papão, medo de perder alguém que ama muito, já eu... Medo de palhaços.

E não me julgue por isso, é algo muito sério, o medo que sinto... É algo completamente surreal. Lembro até hoje, de uma vez em que me fizeram ir até um circo que havia chego em minha cidade. Eu devia ter por volta de nove ou dez anos... Aquele dia eu simplesmente tremi por inteiro.

Meus pais fizeram questão de sentar bem na frente, para que assim, pudéssemos ver o espetáculo um pouco melhor, mas para o meu azar, enquanto assistíamos, quatro palhaços apareceram, e bom... Eu, com o meu grande medo, simplesmente apaguei ali mesmo.

Ninguém entendeu nada, até eu finalmente acordar, já em casa, com meus pais me acudindo, tentando entender o que havia acontecido. Fui me recuperando aos poucos, até que por fim, consegui contar o porquê eu havia desmaiado.

Eles se sentiram um pouco culpado, principalmente por não saber desse meu medo, mas que para eles, era algo bobo. E que logo eu iria superar isso... Foi o que eu pensei também. Até passar por isso milhares de outras vezes.

Eu sempre tentei evitar contato com palhaços, mas era como se onde eu fosse, um deles me perseguisse. E isso acaba sendo muito frustrante, porque parece que quanto mais longe eu quero ficar, mais perto eles ficam de mim.

O tempo passou, eu fui envelhecendo e esse medo aumentou cada vez mais e mais, até o dia em que anunciaram um parque que abriria na cidade onde moro... Confesso que fiquei com receio de ir até lá. Chamei alguns amigos meus para irem comigo. Eu não iria sozinho nem que me pagassem, não mesmo, completamente fora de cogitação.

Combinamos de irmos em um sábado à noite... Péssima ideia, eu sei, mas na hora, não pensei direito sobre isso e apenas ficou decidido. Eram oito da noite, quando me encontrei com meus amigos na porta do parque.

Estava tudo indo bem, sem nada de tão surpreendente acontecendo, andamos pelo parque inteiro, fomos em alguns brinquedos e atrações que estavam tendo. Até que... Olhei diretamente para um ponto específico do parque, e lá estava ele... Aquela coisa horrenda, com a cara branca, sorriso vermelho, cabelo colorido e um enorme chapéu pontudo.

Meus amigos olharam para mim, mas logo perceberam para o que eu estava olhando, e assim como meus pais, eles não sabiam sobre o meu medo de palhaços. Senti um puxão em meu braço, quando menos me deparei, já estava praticamente cara a cara com o palhaço. Que ficou nos rodeando e fazendo suas graças, assim como todo palhaço costuma fazer.

- OLÁ AMIGOS! EU ME CHAMO CLOWIE, O PALHAÇO!

Assim que ele abriu sua boca para falar, confesso que um enorme arrepio me veio. O único desejo que eu queria, era sair dali o quanto antes, mas não podia simplesmente dizer aos meus amigos que sentia medo de palhaço, eu provavelmente, seria tachado como medroso.

- Galera, qual é? Sério? Um palhaço...? Vamos ver outra coisa, esse aí é chato de mais.

O palhaço ficou completamente cabisbaixo com o meu comentário, se aproximou bem de mim, olhou em meus olhos, cruzou os braços e então disse.

- Qual é, amiguinho? Eu não sou chato! Eu posso te garantir! Venha! Meu espetáculo logo irá começar!

Meus amigos me olharam com um ar de vergonha alheia, como se eu tivesse feito uma merda muito grande. Mas não tive nem tempo de me justificar, Clowie simplesmente me puxou pela mão e me levou até um tipo de galpão.

Ali dentro, continham várias cadeiras, luzes de todas as cores, era completamente animado, com um ar totalmente divertido. Mas ao meu ver, aquilo era totalmente bizarro.

Como eu havia sido puxado pelo palhaço, meus amigos acabaram indo atrás, assim, chegando ao local, o qual estava bem vazio. Era estranho, até porque, não dizia nada sobre atração sobre um palhaço chamado Clowie.

Fiquei um pouco desconfiado, mas aos poucos, foram chegando algumas pessoas no local, todas bem animadas e sorridentes, como se estivessem esperando por aquilo há meses. Mas ainda assim, era algo completamente estranho, era como se aquelas pessoas, estivessem hipnotizadas e extasiadas.

Clowie simplesmente me deixou na primeira fileira, junto de meus amigos, que logo se aproximaram de mim, com um ar meio suspeito. Eles estavam com uma sensação completamente estranha ao ver tudo aquilo. Eu sabia que tinha algo de estranho acontecendo por ali.

Minutos se passaram e por fim, o espetáculo começou, mas a todo o tempo, eu senti diversos arrepios e calafrios por meu corpo inteiro. Olhava ao meu redor, e todos riam de chorar, literalmente. Era estranho, porque até meus amigos, que estavam estranhando, já estavam caindo na gargalhada.

O palhaço olhava para mim o tempo todo, sempre com a intenção de que eu o olhasse de volta, mas eu não conseguia. Simplesmente desviava o olhar ou olhava para um local qualquer daquele galpão. O tempo foi passando e aquele espetáculo não acabava de jeito nenhum, até que, para a minha sorte, Clowie o finalizou.

- ADEUS MEUS AMIGOS! ATÉ A PRÓXIMA!! SEU AMIGO CLOWIE VAI NESSA!

Aquela voz era completamente arrepiante e amedrontadora, até um adulto como eu, sentiria medo ao ouvir aquilo. Assim que o espetáculo acabou, puxei meus amigos e fomos saindo daquele local, mas por algum motivo, eles não paravam de rir, até que por fim, já lá fora, eles simplesmente pararam de rir, ficaram se olhando e sem entender nada.

- Do que estávamos rindo? Que sensação estranha...

Eu os olhei sem entender absolutamente nada, então, cruzo os braços e meneio a cabeça rapidamente.

- Vocês não lembram? Nós fomos puxados por aquele palhaço! Galera, como assim vocês não lembram de nada? Isso foi há pouco tempo.

Todos me olharam sem saber do que eu estava falando, se entre olharam, suspiraram e então sorriram.

- Não nos lembramos, só lembramos que estávamos indo até a montanha russa e você simplesmente ficou olhando fixamente para um local, e cá estamos nós...

Ouvir aquilo deles, era totalmente bizarro, e eu sabia muito bem o que havia visto naquele momento, e sabia que não era algo da minha cabeça. Apenas decidi desencanar daquilo, eu só queria ir pra casa e descansar um pouco. Aquilo provavelmente ficaria em minha mente por um bom tempo.

Depois de um longo tempo, finalmente cheguei em casa, e acabei por ir direto para o banho, assim, podendo relaxar um pouco. Liguei o chuveiro e deixei a água correr por alguns minutos.

Fiquei olhando para o espelho sem parar, tombei a cabeça para trás e fechei os olhos rapidamente. Assim que volto a olhar o espelho, me deparo com algo assustador. Clowie, estava atrás de mim! Olhei desesperadamente para trás, mas não vi nada, apenas ouvi sua risada macabra.

Decido ir para o chuveiro, talvez aquilo fosse só coisa da minha mente, talvez eu estivesse delirando, ou só estivesse cansado. Fiquei ali por uma hora mais ou menos, queria relaxar por completo.

Depois de ter ficado tanto tempo no chuveiro, finalmente saio e vou direto para o meu quarto, achando que enfim, fosse descansar de verdade... Mas para o meu azar, assim que preguei os olhos e consegui pegar no sono, eu sonhei com Clowie... Acho que a pior coisa para alguém que tem medo de algo, é sonhar com aquilo.

Eu apenas sonhei que o palhaço me perseguia por todos os lugares, mas não fazia nada, apenas ria e me dizia que não causaria mal algum a mim. Por diversas vezes, tentei acordar, mas não conseguia. Eu estava preso dentro do meu próprio sonho, que fora criado pelo meu próprio subconsciente.

No sonho, eu gritava e corria sem parar, dizia para o palhaço me deixar em paz, e que eu não queria saber dele, só queria distância e que ele fosse embora. Mas nada dava certo, era como se tudo aquilo estivesse sendo real. Era completamente horrível.

Mas depois de tanta insistência, finalmente consegui acordar, e já em prantos e com muita falta de ar. Como se eu tivesse corrido uma maratona inteira. O que era estranho, afinal, era apenas um pesadelo, como eu podia estar ofegante e com falta de ar?

Os dias foram se passando, mas aquela sensação de estar sendo observado e perseguido, ainda continuavam, como se eu realmente estivesse sendo perseguido pelo palhaço. Por onde eu passava, conseguia ver sua silhueta, as vezes, segurava um balão, outras, apenas sorria e acenava. Era frustrante demais e eu já estava ficando completamente louco com tudo aquilo acontecendo comigo.

Certo dia, enquanto andava pela cidade, eu simplesmente vejo aquele palhaço, olhando diretamente para mim, se aproximando aos poucos, e eu, não sabia bem o que fazer, apenas andar para trás e com as mãos sobre minha cabeça, até que por fim, gritei.

- ME DEIXA EM PAAAAZ! PALHAÇO DESGRAÇADO!!!

Ao gritar aquilo, percebi que várias pessoas me olhavam, como se de alguma forma, eu fosse louco ou algo assim. Mas olhei ao meu redor, e não via absolutamente nada.

Me senti um completo idiota por ter reagido daquela forma, mas garanto que qualquer pessoa reagiria dessa forma também. Por onde eu passava, via sua silhueta e ouvia sua risada macabra. Era frustrante, e eu não podia fazer absolutamente nada.

Dia após dia e aquilo continuou sem parar, eu já estava ficando completamente louco com toda essa situação. Até que decido voltar ao parque, exatamente aquele onde tudo isso começou.

Andei de cima a baixo, procurando por Clowie, mas sem êxito, era totalmente impossível aquele palhaço não estar por ali. Eu sabia muito bem o que havia visto e o que havia acontecido aquela noite.

Decido ir perguntar para alguns funcionários e todos haviam me dito a mesma coisa, que eles nunca tiveram uma atração com um palhaço chamado Clowie, e que provavelmente, eu estava me confundindo com outro parque da região.

Ouvir aquilo, me deixou completamente assustado e sem reação, até que por fim, antes de sair do parque, me deparo com um enorme galpão, o mesmo onde tudo aquilo havia ocorrido semanas antes. Fui me aproximando aos poucos, até ver que tudo estava totalmente vazio, sem rastro algum de tivesse tido aquele grande espetáculo ali.

Antes que eu pudesse sair, ouço uma voz, uma voz totalmente medonha, o que me faz virar lentamente para trás e ver que era Clowie o palhaço.

- Sentiu minha falta, amiguinho...? Lembra de mim? Clowie, o palhaço que te causou seu grande trauma há exatos vinte anos!

Quando ele disse aquilo, tudo fez sentido, dizem que quando geramos traumas muito grandes, acabamos esquecendo da situação, mas o medo... Ele continua presente dentro de nós.

Com aquela frase, lembrei exatamente do que ele estava falando, quando eu era criança, um palhaço chamado Clowie, me assustou de todas as formas possíveis numa festa de Halloween, o que me fez gerar todo esse trauma.

Mas a única coisa que eu não conseguia entender, era... Como raios ele conseguiu se fazer presente assim? Era praticamente impossível. Ele então olha para mim e com sua grande risada, diz.

- Bobinho... Eu sou fruto da sua imaginação! Eu jamais existi! Espero que com isso, você durma bem essa noite! Até mais, amiguinho!!

Aquilo me fez simplesmente apagar ali, dentro daquele galpão... Mas reza a lenda, de que Clowie fica perambulando de parque em parque, pregando peças em crianças inocentes e aqueles que sentem medo de palhaços...

E quanto a você, tem medo de palhaços...?

B Folk
Enviado por B Folk em 08/06/2020
Código do texto: T6971436
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