Sara: A entidade

Certo, espero que tenha estômago para o que irei dizer agora, sei que pode ser um pouco pesado, mas garanto que tudo fará sentido quando contar. Há exatos um mês, meu irmão mais novo, por algum motivo, se jogou da escada de casa. O que ocasionou sua morte instantânea, e não... Não pude fazer nada.

Como tudo isso aconteceu? Eu não faço a menor ideia, mas Timmy começou a agir estranho antes de cometer tal ato. Começou a falar sozinho, se esconder dentro de armários pela casa, principalmente o de seu quarto, e sempre que eu o encontrava, o garoto simplesmente dizia que Sara não gostava e me pedia para sair dali.

Eu realmente nunca entendi esse lance dessa tal Sara de quem ele tanto vivia falando. Timmy era um garoto completamente normal, mas com poucos amigos a sua volta, o que deixava o garoto um pouco incomodado com a situação.

E como seu irmão mais velho, sempre me preocupei por ve-lo tão cabisbaixo, até que, umas semanas depois, ouço suas gargalhadas pela casa, e o vejo correr para cima e para baixo. Mas ele gargalhava e corria como se estivesse brincando com alguém de fato, o que era estranho, afinal, o garoto falara sozinho.

Por um breve momento, pensei que meu irmão estivesse ficando louco ou simplesmente tivesse encontrado uma forma para se divertir, mesmo estando sozinho em casa e não ter amigos. Decido o observar durante alguns dias, e foi quando ele simplesmente começou a se esconder por toda a casa e falar sozinho.

Pode até ter sido coisa da minha cabeça, mas eu sabia muito bem o que havia visto meu irmão fazer durante um longo tempo. Juro que certa noite, pude ouvir o garoto conversar com alguém, e sim, eu consegui ouvir a voz dessa outra pessoa.

Assim que ouvi o garoto conversar em seu quarto, corri imediatamente para lá, mas assim que cheguei, não vi nada, além de meu irmão, e que estava com uma cara de surpreso.

- Timmy... Com quem estava falando?

O garoto muda seu semblante imediatamente e então sorri para mim, o que achei completamente estranho, ele havia ficado um pouco medonho e sombrio naquele exato momento, me fazendo arrepiar um pouco.

- Com a Sara! Ela é muito legal, Nicolas! Você iria gostar dela!

Não entendi muito bem o que o garoto estava querendo dizer quando mencionou o tal nome para mim, até porque, só estávamos nós dois naquele quarto. Não havia mais ninguém por ali. Era totalmente impossível ter uma garota ali conosco.

- Sara, é...? E onde ela está? Porque até onde eu sei, só estamos nós dois aqui.

O garoto fica desapontado comigo e muda seu semblante mais uma vez, me deixando ainda mais surpreso com o quanto ele podia ser sensível a esse tipo de situação.

- Não fala assim dela! Ela está aqui! Olha!

Timmy se levantou extremamente irritado com o meu comentário e logo apontou seu dedo para trás de mim, me fazendo gelar completamente. Tomei coragem e me virei rapidamente, mas por muita sorte, não vi absolutamente nada. O que me deixou um pouco mais aliviado, e provavelmente o garoto só estava tentando me pregar uma peça.

- Muito espertinho da sua parte, Timmy! Mas não vejo nada. Você está realmente bem? Está com febre ou algo assim? Quer que eu fale para o papai ou para a mamãe?

O garoto cruza os braços, ainda mais irritado do que antes, mas pude sentir uma energia um tanto ruim vinda do quarto. Estranhei por um tempo, mas decidi desencanar daquilo. Podia ser só coisa da minha cabeça.

Assim que saio do quarto de Timmy, tenho a sensação de estar sendo seguido, até olho de relance para trás, mas não vejo literalmente ninguém. Por um momento, eu pensei que fosse meu irmão tentando me pregar outra peça.

- Muito engraçado, Timmy! Mas não vou cair no seu joguinho de novo.

Antes que eu pudesse me virar, ouço meu irmão, que estava encostado no vão da porta, enquanto olhava para mim, com um semblante um pouco assustado.

- Nicolas... Não sou eu, é a Sara. Ela não gostou do que disse e quer que você se desculpe.

Eu olhei um tanto irritado para o garoto e apenas meneio a cabeça, de uma forma decepcionante, com isso, vou me aproximando aos poucos de Timmy. Ao olhar em seus olhos, ele parecia assustado, muito assustado.

- Qual é, Timmy? Não tem ninguém aqui conosco. Essa Sara é fruto da sua imaginação! Você já é grandinho de mais para ter um amigo imaginário, não acha?

Ele engole seco, mas não disse nada, assim, indo direto para sua cama e se cobrindo por inteiro no mesmo instante. Ao ver o garoto daquele jeito, bateu um certo arrependimento, mas eu sabia que aquilo deveria parar de um jeito ou de outro.

- Boa noite, Timmy...

- Boa noite, Nic...

Apago a luz de seu quarto e fecho a porta logo em seguida, assim, seguindo direto para o meu quarto, que era no final do corredor. Eu sabia que Timmy era solitário e era completamente normal ele ter feito um amigo imaginário... Mas usá-lo para me assustar? Totalmente fora de cogitação.

- Isso não é normal... Ou ele está delirando, ou realmente existe um amigo imaginário. Melhor eu o observar mais um pouco...

Falo comigo mesmo, mas logo sou pego pelo sono e acabo adormecendo naquele mesmo instante. Enquanto dormia, pude jurar ouvir pequenos ruídos em meu quarto. O que era totalmente estranho, Timmy já havia adormecido há horas, e meus pais também.

Acabo despertando rapidamente, olhando por todo o perímetro do meu quarto, mas não consegui ver absolutamente ninguém por ali, me deixando um pouco confuso, porque eu pude jurar ter ouvido ruídos por lá. Como acabei não vendo nada, decido voltar a dormir novamente, dessa vez, acordando só no dia seguinte.

Acordei com o som do despertador, avisando que já eram sete e meia da manhã, horário que eu costumava acordar para ir até a faculdade como sempre fiz. Terminando tudo, passei no quarto de Timmy, que ainda dormia tranquilamente, mas precisava acordar o garoto para que pudesse ir ao colégio. Me aproximei aos poucos e o chacoalhei devagar.

- Timmy...! Hora de levantar, vamos! Você tem aula daqui a pouco, já dormiu o suficiente.

Ele resmunga, vira para o outro lado da cama e se cobre mais uma vez, me deixando um pouco irritado. Ele fazia isso todos os dias antes de realmente acordar.

- Me deixa dormir mais um pouco, Nicolas... Por favor.

Sem dizer mais nada, apenas arranquei sua coberta e o chacoalhei mais uma vez, só que agora, um pouco mais forte, fazendo o garoto resmungar e finalmente acordar.

- Você é um chato, sabia?! Eu só queria dormir mais um pouco... Sara não me deixou dormir direito essa noite. Ficamos cochichando a noite inteira.

Acabo por revirar os olhos no mesmo instante, mas sem dizer nada, apenas apontei a mão em direção do banheiro, para que ele fosse lavar o rosto e escovar os dentes. Eu sempre cuidava de Timmy, já que nossos pais viviam ocupados e saíam super cedo para o trabalho.

- Eu não quero saber o que fez ou deixou de fazer durante a noite, Timmy, você sabe muito bem que precisa acordar cedo por conta do colégio, não sabe?

Ele apenas balança a cabeça de uma forma positiva, ainda esfregando as mãos em seus olhos, para poder finalmente despertar. Minutos depois, e Timmy já estava pronto para ir ao colégio.

Como eu já diria, sempre o deixava na porta do colégio e o buscava na hora da saída. Era rotina, eu cuidava mais dele do que meus próprios pais. Mas mal sabia eu, que aquela, seria a última semana em que veria meu irmão vivo.

Os dias foram se passando e finalmente o final de semana havia chego, mas notei que Timmy estava um pouco conturbado com alguma coisa. Começou a falar sozinho com mais frequência, se esconder em locais totalmente inacessíveis os quais jamais pensei que ele conseguiria se esconder.

A todo o momento, o garoto falava dessa tal Sara, e que ambos estavam se gostando bastante e que logo iriam se encontrar. Era algo totalmente bizarro de se ouvir, já que ela era fruto de sua imaginação. Não teve um dia em que Timmy não falou sobre isso. Até que na noite de sábado, enquanto todos dormiam, ouvimos um estrondo vindo da escada.

Acordei completamente assustado e desesperado, como se algo ruim tivesse acabado de acontecer, e sim, havia acontecido. Timmy de alguma forma, havia se jogado de nossa escada, e ao olhar para baixo, sua cabeça havia se partido ao meio e o garoto já estava morto por ali.

E como eu havia dito, passou-se um mês desde a morte de Timmy, e para o meu azar, naquela noite, exatamente naquela noite, eu pude ver Sara com total clareza. Ver a garota, me deixou completamente em pânico, porque só assim, pude perceber que Timmy falara a verdade sobre ela.

Dias se passaram, e Sara começou a me visitar, principalmente à noite, o que era assustador. Ela apenas ficava me observando, e nada dizia. Nada fazia.

Acabei surtando com tudo isso, porque sabia que de alguma forma, ela havia causado a morte do meu irmão mais novo. Até hoje, ninguém sabe o porquê Timmy havia se jogado da escada, e muito menos o propósito disso.

Eu simplesmente tive que sair de casa, porque ter a visita de Sara, estava me deixando ainda mais louco. Mas para o meu azar... Ela veio comigo para essa nova casa onde estou morando hoje. Sei que nesse exato momento, ela está me observando, o que é algo totalmente medonho e horripilante.

Mas o estranho, é que a garota nunca tentou me causar absolutamente nada, era como se de alguma forma, ela quisesse me dizer algo. Provavelmente sobre o meu irmão. Para o meu azar, não.

Certa noite, enquanto estava dormindo, pude ouvir ruídos em meu quarto, o que me fez acordar no mesmo instante. Estava um pouco assustado, mas sabia que provavelmente era Sara, tentando me pregar mais uma de suas peças.

- Chega disso Sara! Eu cansei de você! Por sua culpa, Timmy está morto! Está satisfeita agora?

Nesse momento, os ruídos pararam e deram o lugar para pequenas risadas, que começaram baixas e foram ficando cada vez mais e mais intensas, até que por fim, Sara apareceu, bem em minha frente. A garota tinha um aspecto totalmente horrendo, uma completa palidez, olhos fundos e cabelos brancos.

- Timmy... Morreu... Por... Sua... Culpa... Nic.

Ao ouvir aquilo, engulo em seco, arregalo os olhos e observei a garota por alguns segundos, que apenas sorria, como se estivesse satisfeita com o que fizera a Timmy.

- Você... Duvidou da minha existência, e eu... Tirei a vida do seu irmão, e agora... Irei te atormentar para sempre.

Sei que ao ouvir aquelas palavras de Sara, me deixaram completamente extasiado e em pânico. Por fim, a garota sumiu, sem me deixar dizer absolutamente nada.

Recentemente, pude ouvir sons de crianças correndo pela minha casa, como se de fato, fossem crianças reais vivendo em minha casa. Mas sabia que de certo modo, eram Timmy e Sara... Talvez assim, Timmy estivesse feliz, digo isso, porque a garota era a única que fazia ele bem.

Espero que onde quer que ele esteja... Esteja se sentindo bem...

Sinto muito, Timmy... Do seu irmão, Nicolas.

B Folk
Enviado por B Folk em 01/06/2020
Código do texto: T6964633
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