O assobiador

Certa noite, estava caminhando enquanto voltava para casa após um longo dia de trabalho, e a única coisa que via em minha frente, era a minha cama. Mas enquanto caminhava, noto que a rua estava praticamente vazia, o que era estranho, geralmente encontrava com alguns vizinhos e até conhecidos.

Decidi desencanar disso e seguir meu caminho como de costume, até que comecei a ouvir pequenos sons suspeitos por ali, o que era estranho, era como se fosse um assobio. Intenso, mas ao mesmo tempo, calmo. Parei, olhei por toda a rua e não encontrei absolutamente nada.

Como não encontrei nada, sigo em frente, já quase chegando em casa, para o meu grande alivio, finalmente poderia ir descansar um pouco. Estava completamente exausto, aquele tinha sido de fato, o dia mais cansativo da minha vida.

Antes que eu pudesse pisar meus pés em casa, ouço o tal assobio mais uma vez, só que agora, um pouco mais perto de mim, viro rapidamente e ver de onde vinha. Mas como antes, não consegui ver nada e nem ninguém por ali. Por um breve momento, achei que estivesse delirando ou coisa assim, até porque, estava cansado, e provável aquilo fosse coisa da minha cabeça.

Eu comecei a questionar a minha saúde mental naquele momento, porque não era possível que eu estivesse ouvindo um assobio, mas não conseguia ver de onde aquilo estava vindo. Mas acabei deixando isso de lado, e logo cheguei em casa.

Fui direto para o meu quarto, onde deixei minhas coisas e logo corri para o banheiro, onde tomei um banho extremamente demorado, afim de poder relaxar completamente, e depois, ir para a minha cama, assim, capotar. Momentos depois de já ter deitado, volto a ouvir os mesmos assobios de antes, só que agora, eles estavam muito mais intensos e altos, como se fosse uma sirene no pé do meu ouvido.

Levantei praticamente no mesmo instante, tudo por conta do assobio que viera alto até demais naquele momento. Andei pelo quarto, e vou até a janela, onde me deparo com uma figura humana, era um rapaz, e usava um moletom preto, calça jeans e um tênis qualquer.

Assim que ele me vê, apenas me observa, mas sem fazer ou falar absolutamente nada, o que era estranho. Decido dizer algo, no intuito de saber se ele diria algo para mim naquele momento.

- Ei amigo! Não acha que já está tarde para ficar perambulando por aí? Não é por nada, mas aqui é um bairro perigoso esse horário.

Ele nada diz, apenas me observa, e eu quase não pude ver seu rosto, estava completamente escuro, e eu só conseguia ver sua sombra devido a luz natural da lua. Fora isso, não conseguia ver mais nada.

Confesso que me subiu um leve arrepio ao ver aquele cara em frente à minha casa, principalmente aquele horário tão peculiar. Era quase uma da madrugada, e eu só queria saber o que raios aquele cara fazia ali.

Antes que eu pudesse dizer algo, o rapaz simplesmente sumiu, e com ele, o assobio veio, e veio ainda mais intenso do que antes. Tenho certeza de que se ouvisse, se apavoraria imediatamente. Era algo completamente medonho e assustador.

Mesmo com tudo aquilo acontecendo, decido ir dormir, ou pelo menos tentar, mas como estava muito cansado, acabei capotando na mesma hora outra vez. Acordei apenas no dia seguinte, com o despertador ao meu lado, o que me fez pular da cama. O dia havia começado ótimo com aquele bendito susto que o despertador me dera.

Acabo por rir do ocorrido e logo vou para o banho, que não demorou muito, e assim que termino, vou direto para a cozinha, onde preparo um café totalmente reforçado. A noite anterior havia sido um tanto maluca, e provavelmente foi efeito do meu cansaço. Tenho certeza de que se eu não tivesse cansado, não teria presenciado tais alucinações.

Termino meu café e corro para o meu trabalho, que não era tão perto de casa assim, todo dia eu tinha que fazer o mesmo trajeto, que acabava completamente comigo. Não, eu não tinha carro, sempre preferi pegar ônibus e até mesmo o metrô. Mas durante todo o meu percurso, tive a sensação de que estava sendo observado e até mesmo perseguido por alguém.

O tempo todo, eu olhava para todas as direções, mas não via ninguém, igual noite passada, e por mais que eu olhasse, a sensação não passava de jeito algum. Até que por fim, comecei a ouvir os assobios outra vez, mas era como se estivessem dentro da minha cabeça. Era um som ensurdecedor, por um breve momento, coloquei minhas duas mãos em minha cabeça, e gritei como se não houvesse amanhã.

Pessoas que passavam por perto, simplesmente se afastavam, tudo por medo de eu estar enlouquecido e as machucasse, até que por um grande milagre, uma moça foi até mim e perguntou se eu estava bem, mas era totalmente nítido que não estava.

- FAZ ISSO PARAR, POR FAVOR!!!

Ela me olha assustada e sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas ainda assim, insistiu em querer me ajudar. Olhei bem para ela, com um grande ar de desespero, respiração ofegante e completamente assustado.

- Senhor... O que houve? Pode me contar?

A mulher se manteve calma o tempo todo, assim, tentando me acalmar da mesma forma, mas foi completamente em vão, até porque, aquele som ecoava dentro da minha cabeça e sem parar.

- EU... EU SÓ QUERO QUE ISSO PARE!!

Ela então coloca as duas mãos em meu rosto, olha em meus olhos e sorri levemente, como se quisesse me passar algum tipo de segurança ou algo assim. Aos poucos eu fui me acalmando e o som, por fim, foi embora.

- Senhor... Você deve ter tido alguma crise de pânico ou algo assim.... Se quiser, te acompanho até o hospital mais próximo daqui.

Eu apenas neguei, não queria ir até o hospital, eu só precisava ir até o meu serviço, já estava completamente atrasado, e com toda a certeza, meu chefe brigaria comigo quando chegasse. Corri contra o tempo, e cheguei em cima da hora, assim, sem levar um sermão do meu chefe, que era um porre total.

Enquanto trabalhava, aquela sensação de ser observado, veio à tona, me deixando ainda mais agoniado, bem mais do que anteriormente. Tentei manter a calma e não me desesperar. Eu só queria terminar meu expediente e voltar para casa e finalmente poder descansar.

No momento em que a sensação veio, o assobio veio junto, da mesma forma de antes, como se fosse dentro da minha cabeça. Mas dessa vez, foi diferente. Eu enfim, pude ver o que me causava aquele desespero todo. Com uma grande nitidez, eu consegui ver o mesmo homem da noite passada.

Fiquei me perguntando o que ele fazia ali, será que alguém o via, assim como eu? Ou era só mais uma peça que minha mente estava me pregando? Já era tarde, eu estava cansado. Fiz questão de ir ao banheiro e lavar o meu rosto, e assim que levanto para enxuga-lo, vejo o que mais temia. O cara da noite anterior

Aquilo me fez gritar extremamente algo, mas antes de sumir, ele coloca seu dedo entre os lábios, como se estivesse pedindo para que eu fizesse silencio. E assim que pisquei, ele já não estava mais por ali. Minutos depois, alguns colegas apareceram no banheiro e me viram com aquela expressão de assustado.

- Cara... Você tá bem? Parece até que viu um fantasma.

Eu apenas os olhei e engoli seco, sem dizer nada, voltando para o meu setor, indo terminar o meu trabalho. Meus amigos ficaram sem entender nada, e com isso, foram me perguntar se havia acontecido algo, e eu apenas neguei diversas vezes. Sempre dizendo que estava tudo tranquilo, e enfim, chegou minha hora de ir embora.

Durante todo o trajeto de volta, fiquei olhando por todos os lugares, com o receio de que fosse encontrar aquele homem outra vez, mas por pura sorte, nada me aconteceu. Pelo menos não até eu chegar perto de casa, assim como na noite anterior.

Enquanto caminhava tranquilamente, pude ouvir sons de passos, e já com o corpo totalmente arrepiado, olhei lentamente para trás, mas não vi ninguém. O que me deixou completamente aflito e inseguro. Decido apertar os passos, e mais uma vez, o som de passos surgiu.

Engoli seco, ajeitei minha mochila e apertei ainda mais os passos, dando leve olhadas para os lados e não vendo absolutamente ninguém. Eu já estava me preparando para o pior, esperando para que aquele homem aparecesse outra vez com aquele assobio infernal.

Mas caminhei por um bom tempo, e não consegui observar absolutamente nada, o que era totalmente estranho, porque, eu sabia muito bem o que estava ouvindo e sabia o que havia visto noite passada e principalmente em eu serviço.

Assim que entrei em um beco, que fazia parte do meu trajeto, o assobio começou, eu simplesmente travei, não consegui fazer nada, literalmente nada. Passo a mão em meu rosto, percebendo o quão soado eu estava. Eu sabia que tinha alguém atrás de mim, e que provavelmente seria aquele mesmo cara.

Vou me virando lentamente, e assim que me viro por completo, vejo um vulto, mas não se mexia, apenas ficava ali, parado, sem fazer absolutamente nada. Confesso que senti minha alma sair do corpo naquele momento.

- Quem é você???? O que quer comigo????

Ele nada diz, apenas foi se aproximando aos poucos de mim, como se fosse uma grande sombra flutuante, mas assim que chega perto o suficiente de mim, ele desaparece.

- Mas que droga... Vai ficar fazendo esse joguinho até quando????

Assim que termino de falar, o assobio vem, mas dessa vez, ainda mais e mais intenso do que o normal, me causando um enorme calafrio em minha espinha e minha nuca. Me viro outra vez, ajeitando minha mochila e correndo o mais rápido possível dali, indo direto para a minha casa, que já estava próxima daquele beco.

Como acabei correndo mais rápido que um atleta profissional, simplesmente abri o portão e adentrei minha casa. Sem nem ao menos olhar para trás. Fiz tudo o que tinha de ser feito e me jogo em minha cama. Para que assim, pudesse adormecer de uma vez, crente de que era tudo coisa da minha cabeça e aquilo tudo estava sendo causado pelo meu cansaço.

Mas como da última vez, enquanto dormia, o assobio se fez presente, mas agora, não vinha do meu quarto, e sim, do lado de fora. Tive receio de ir ver o que era, mas tomei muita coragem, e fui.

Chegando até minha janela, e a abrindo com muita cautela, pude ver que era ele, o mesmo cara que andava me assombrando desde ontem. Mas dessa vez, era nítido ver o seu rosto. Totalmente desfigurado, não possuía olhos, apenas uma enorme boca e dentes tortos.

Aquilo me gelou por completo, mas continuei ali por um certo momento, e antes que eu pudesse fazer algo, ele some mais uma vez. Quando decido me virar, sou surpreendido por sua presença, bem em minha frente. Ele faz o mesmo sinal de silencio. Passou a mão pelo meu rosto, sorriu e por fim, sumiu.

Dias se passaram, e eu continuei recebendo sua visita, sempre no mesmo horário... Até que por fim, conseguiu o que queria. A minha voz...

Se está lendo até aqui, é porque tem muita coragem... Mas tome cuidado, eu continuo vagando por aí. Você já deve ter ouvido algum assobio durante a noite...

Eu sempre estarei te observando... Sempre.

B Folk
Enviado por B Folk em 26/05/2020
Código do texto: T6959102
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