O telefonema

Era noite, por volta das vinte, estava sozinho em casa, quando o telefone toca, o que era estranho, dificilmente alguém me ligava, eu mesmo sou o tipo de pessoa que odeia ligações. Prefiro mensagens, acho até melhor, principalmente no mundo de tecnologias em que vivemos hoje.

Resolvo ir atender, mas antes que pudesse tirar o telefone do gancho, ele misteriosamente, para de tocar. Fico confuso, não havia dado o tempo da ligação cair ou algo assim, mas decido deixar isso para lá. Antes que eu pudesse voltar para o meu quarto, o telefone toca mais uma vez, mas dessa vez, eu o observo por segundos. Fiquei me questionando por um momento, queria muito saber quem me ligaria em plena sexta-feira à noite.

Assim que me aproximo, o tiro do gancho e atendo, pude apenas ouvir uma respiração muito forte do outro lado da linha, me fazendo arrepiar e tremer completamente. Até tomar coragem e falar algo.

- Alô...?

A pessoa do outro lado nada disse, apenas continuou respirando com força, como se estivesse dificuldade para respirar ou algo assim. Ouvir aquilo, me deixou um pouco receoso. Achei que fosse algum tipo de brincadeira, por fim, ficando irritado e desligando o telefone.

- Crianças idiotas... Será que seus pais não veem isso? Sério? Um trote?

Assim que desligo o telefone, volto para o meu quarto, onde estava assistindo algo, fiquei ali por um longo tempo, até que, o telefone toca mais uma vez. Como eu sabia que provavelmente fosse aquelas crianças, decidi não atender.

Mas para a minha surpresa, meu celular começou a tocar, o que achei estranho, e sabia muito bem, que dessa vez, não seriam as tais crianças me ligando. Ou seria muita coincidência. Olhei para o meu celular, e o que me chamou a atenção, foi que, não aparecia o número da pessoa, estava como chamada restrita ou algo assim.

Engulo seco e decido atender, e assim que coloco o telefone em minha orelha, ouço aquela mesma respiração forte, mas dessa vez, ela estava ofegante. E para a minha surpresa, a pessoa decide dizer algo, e algo que eu jamais esperaria ouvir de um estranho.

- Estou te observando...

Naquele momento, exatamente naquele momento, meu corpo se arrepiou por completo, o que me fez desligar o celular imediatamente. Percebo que as coisas começaram a ficar um pouco tensa por ali, afinal, quem faria esse tipo de brincadeira sem graça?

Aquilo de certa forma, me deixou completamente irritado, o que me fez pensar em várias coisas, caso a pessoa resolvesse ligar outra vez. Passado mais um tempo, meu celular tocou mais vez, só que agora, eu já estava bem mais esperto do que antes. Não queria saber se era trote, brincadeira de mal gosto, ou seja lá o que fosse, só queria paz. E nada mais que isso.

- Olha aqui, meu amigo. Qual é a merda do seu problema? Não tem o que fazer? Ao invés de fazer algo produtivo, fica aqui, ligando para mim. Vai caçar o que fazer, seu merda.

A pessoa apenas riu baixinho, mas logo disse algo, que me deixou completamente apavorado, afinal, eu não estava esperando por aquilo, literalmente.

- Problema...? Não tenho nenhum. Mas espero que a casa esteja bem trancada... Caso contrário...

Não deixei que terminasse de falar, acabei por desligar o telefone mais uma vez, só que agora, comecei a me questionar sobre a casa estar de fato trancada. E se aquele maluco invadisse a minha casa? O que ele seria capaz de fazer comigo?

Saio do quarto o mais rápido possível, indo de cômodo em cômodo, vendo se tudo estava trancado, e para a minha sorte, sim. Tudo estava devidamente trancado. E com todas as tecnologias que temos hoje, minha casa é inteiramente composta por elas. Cada cômodo, sem exceção.

Mas por um breve momento, fiquei pensando e no meio desses pensamentos, lembrei que ele podia ser um hacker, e que provavelmente estaria em sua casa, apenas me apavorando ou algo assim, para que no final, desse algo em troca.

Me mantive forte, não iria dar absolutamente nada para esse merdinha, qualquer coisa, eu chamaria a polícia, e ficaria tudo bem. Pelo menos foi o que pensei... E por mais uma vez, meu celular tocou.

- O que raios você quer comigo?!?!

Ele ri, e apenas isso, alguns segundos depois, me responde, e de uma forma completamente medonha. O que me deixou aflito por um tempo, tempo suficiente para soar frio e me cagar por inteiro.

- Sabe... Você é engraçado, vou brincar mais um pouco com você.

Assim que ouvi aquilo, engoli seco, fui até minha janela e ver se conseguia encontra-lo. Olhei para cada canto daquela rua e nada, não encontrei nada. Acabo ficando ainda mais aflito, e sem saber o que fazer naquele momento.

- Você sabe muito bem o que quero... Apenas me dê o que quero e eu te deixo em paz, é simples e todos saem ganhando.

Eu sabia muito bem o que ele queria, mas eu não daria absolutamente nada, ele podia me matar, mas não daria nada, literalmente nada a ele. O rapaz continuou na linha, me deixando cada vez mais e mais aflito.

- Eu não vou te dar absolutamente nada, garoto! Você acha que sou idiota! Pode fazer quantas ameaças que quiser, eu não vou te dar absolutamente nada, entendeu? Nada.

E com isso, antes de desligar, ele solta uma grande gargalhada, e solta um: veremos. Ouvir aquilo, foi de arrepiar, mas não podia ceder a ele, eu seria burro de mais se fizesse isso. Era meu dinheiro que estava em jogo, não podia vacilar assim.

Minutos depois, as luzes de casa simplesmente apagaram, como se fosse um pico de energia. O que para mim, foi totalmente estranho, até me lembrar quem estava mexendo comigo, um hacker maldito, e que provavelmente hackeou os equipamentos de casa.

- Droga... Eu realmente estou na merda. Não posso deixar isso assim, não posso mesmo.

Acabo resmungando comigo mesmo, e acabo recebendo uma mensagem em meu celular, a qual dizia: Estou apenas começando... Primeiro as luzes, logo, seus eletrodomésticos, depois... Seu celular, onde contém todos seus dados.

Ler aquilo foi o ápice da loucura, eu realmente já não estava aguentando aquele ato covarde do garoto. Eu só queria uma noite tranquila, enquanto assistia meus programas favoritos na tv, nada além disso. Algum tempo depois, a luz voltou, mas ainda assim, eu sabia que não estava sozinho, e que logo, aquele garoto iria voltar.

Com o celular em mãos, já esperando pela sua próxima ligação, respiro fundo, passo a mão pela testa e vendo o quão soado eu estava. Tudo por conta da minha tensão e do meu medo. E por fim, o telefone tocou mais uma vez.

- Como você é teimoso... Não acha? Eu só quero algo e você não colabora comigo... Já que vai ser assim, irei judiar um pouco mais de você.

Engulo seco mais uma vez, assim, tomando coragem para tentar dizer algo ao rapaz do outro lado da linha. Eu sabia que ele só me deixaria em paz, depois de dar o que ele tanto queria.

- Por que eu?! Não podia ser outra pessoa?! Eu só quero que me deixe em paz!!

Ele ri, com aquele mesmo ar assombroso de antes, mas dessa vez, ouço o barulho de algo se abrir, e ao ouvir aquilo, congelei por inteiro. Decido trancar o quarto o mais rápido que pude e me escondi dentro de meu closet.

- Eu espero do fundo da minha alma, que você não esteja dentro da minha casa! Eu tranquei absolutamente tudo, é praticamente impossível que entre aqui!

Apenas ouço risos e mais risos, me deixando ainda mais tenso do que antes, e então, ele decide falar algo, justamente para me deixar ainda mais apavorado do que antes.

- Não se preocupe... Não estou em sua casa, pelo menos não ainda, coroa. Como disse antes, quero brincar um pouco mais com você.

Ótimo, era tudo o que precisava saber... Acabo de virar brinquedo de um pseudo psicopata! Era só o que me faltava, ser ameaçado por um garoto, que provavelmente deve ter seus vinte e cinco anos, no máximo trinta.

Eu realmente não sabia o que fazer naquele momento, apenas temer pelo pior, e pelo furto de todo o meu esforço até aqui. Mas eu não iria desistir nem tão cedo, ele não iria levar absolutamente nada, nada.

- Escuta aqui! Eu não tenho medo de você, ok? Não adianta me fazer ameaças, você não vai conseguir tirar absolutamente nada de mim, está me ouvindo? Eu disse, nada!

Ele gargalha totalmente alto, e sua risada, era pavorosa, dava sim, um certo medo. Como se de fato, ele fosse um maníaco, e com toda a certeza, se você ouvisse, estaria no mesmo estado que eu.

- Eu irei conseguir, queira você ou não... Nem preciso me esforçar muito, sei que todas as informações que preciso, estão em seu celular, coroa. As pegarei, por bem ou por mal.

Provavelmente o garoto estivesse perto, ou eu só estivesse imaginando coisas em minha mente, eu só queria que aquilo tudo fosse pegadinha de algum amigo meu de trabalho, ou um mal entendido.

- Eu já disse, me deixe em paz!! Não estou nem aí para quem você seja, só quero que me deixe em paz e vá embora!

Sempre que mostrasse desespero, o garoto gargalhava e voltava a me assustar ou me ameaçar de alguma forma. Ele já sabia como meter medo em mim, e provavelmente faria isso até eu ceder de alguma forma. E com toda a coragem do mundo, decido sair do meu closet e por fim, do meu quarto.

Queria ter a certeza de que ele não estava por ali, eu até pude tomar uma decisão precipitada, mas precisava saber quem era aquele maldito, e saber se ele realmente estava em minha casa. Pego um taco de baseball que havia ganhado de alguns amigos e vou descendo, olhando cada cômodo da casa.

Assim que vou descendo, meu aspirador de pó liga, sem mais e nem menos, o que me fez pular de susto, olhar para trás e sentir meu coração completamente acelerado, sim, mais do que o normal.

- Filho da puta... Eu sei que você está aí, em algum lugar, mas sei!

Vou falando num tom alto, enquanto observava tudo ao meu redor, e sabia que o garoto estava só me assustando aos poucos, e estava conseguindo, conseguindo até demais. Vou andando calmamente com o taco na mão e observando tudo, literalmente tudo.

Ouço alguns sons vindo da lavanderia, o que era estranho, porque a máquina estava desligada e a secadora também, mas ainda assim, decido ir até lá. Um passo de cada vez, é claro, não seria besta de ir de uma vez.

Assim que chego ao local, acendo as luzes, vendo que não era nada de mais, e sim, algo da minha cabeça, mas eu tinha a certeza de que havia ouvido algo ali, só não sabia o que era. Provavelmente um rato ou um gato, mas quando cheguei, já não tinha mais nada.

Decido entrar e observar mais alguns cômodos da minha casa, o tempo passou e eu já havia vasculhado cada canto daquele lugar e nada. Assim, concluí que o garoto não estava ali, e sim, em algum outro canto. Decido ir para o meu quarto, e assim que chego, ouço meu celular vibrar.

Corro para o criado mudo e quando o pego, vejo que havia uma mensagem nele, a qual dizia: Tenho um presente para você, vá lá fora e se surpreenda!

Ler aquilo, me deixou imensamente tenso, aflito e receoso, afinal, que merda aquele garoto havia deixado na frente de casa? Eu só queria que aquilo tudo acabasse logo, assim, podendo ir dormir em paz.

Desço calmamente as escadas mais uma vez, mas agora, todas luzes de casa piscaram simultaneamente e sem parar, o aspirador ligou sozinho, fazendo um som infernal, a máquina de lavar e a secadora, também ligaram. Tudo de uma única só vez, o que me fez surtar. Corro até a porta da sala, e antes que pudesse dizer algo, vejo o garoto, que estava cara a cara comigo.

- Tenha uma boa noite...

O vejo sacar um revolver e apontando em minha cabeça, e a única coisa que pude ver naquele momento, foi uma luz, nada mais do que isso:

- Coroa idiota... Eu avisei, por que não fez o que mandei? Tá vendo só? Se tivesse me obedecido, ainda estaria vivo...

Agora você deve estar confuso com tudo isso... Deixe me esclarecer, não se preocupe. Aqui quem fala, é o hacker, e bom... O tempo todo, estive vigiando esse velho, por isso sei cada detalhe do que rolou. Quanto ao coroa? Morto, assim como eu planejei.

Moral disso...? Não existe moral, tenham bons sonhos e ah! Posso estar te vigiando nesse exato momento.

B Folk
Enviado por B Folk em 18/05/2020
Código do texto: T6951155
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