Você acredita em duendes?

Você acredita em seres mágicos, como fadas, duendes ou até mesmo, unicórnios? Não? Pois deveria... Não se preocupe, não quero te causar medo ou algo do tipo, apenas dizendo que deveria acreditar neles. O motivo de estar perguntando isso tudo...? É porque assim como você, eu também não acreditava, afinal, sempre fui uma pessoa muito cética, a qual não acredita em muita coisa. Desde religiões e até mesmo em seres mágicos, os quais vemos em filmes, se é que me entende.

Tudo começou quando um casal de amigos chegou de viagem, ambos haviam ido para uma feira de objetos místicos, e assim que voltaram, me surpreenderam com um presente. Posso dizer que era um presente bem incomum, ainda mais para uma pessoa cética como eu. De início, achei uma bobagem terem me dado aquilo, até reclamei, dizendo que podiam me dar algo melhor e que eu fosse de fato usar. Ambos olharam para mim, e apenas riram, como se de alguma forma, eu tivesse contado uma piada.

Os olhei sem entender muito bem o motivo daquela risada, depois, observei bem aquele presente, mas como rejeitas presentes é feio, apenas o coloquei ao lado da minha televisão, eu jamais colocaria aquilo em meu quarto, era medonho, estranho, sem contar aquele olhar vívido que ele possuía.

Está se perguntando sobre o que ganhei dos meus amigos, certo? Eu não sei se deveria contar... Mas acho que esse é o intuito disso tudo, não? Enfim, vamos lá, sem mais enrolações. Naquele mesmo dia, meus amigos haviam me dado um duende dentro de uma garrafa, e que haviam dito algumas coisas sobre. Ele era nada mais nada menos, que um protetor, mas caso não fosse com a sua cara, ou vacilasse com ele... Sua vida viraria um grande inferno.

Eu realmente não acreditei em uma palavra sequer do que eles haviam dito, e confesso, me arrependo de ter duvidado de seu dito. Afinal, o que um duende em uma garrafa podia me causar? E outra, como raios ele sairia daquele treco? Era algo totalmente surreal. Pelo menos eu achava que fosse.

Meus amigos passaram o dia inteiro em minha casa, logo isso, foram embora, me deixando sozinho com aquela criaturinha, ser, ou sei lá como posso chamar aquilo. Eu só tive um certo receio de ter aquilo em minha casa. Me aproximei aos poucos daquele duende, e o observei durante alguns segundos.

- Qual é? O que você pode me causar...? Você é só uma criatura feito de algum material encontrado na natureza. Que mal você pode me causar? Aqueles dois me pagam.

E foi exatamente nesse momento, onde me arrependi de ter dito tais palavras para o tal duende. Meus amigos me avisaram, e eu apenas ignorei o seu aviso. Tolo... Se eu pudesse voltar no tempo, talvez assim, eu pudesse ter feito diferente. Agora, é tarde demais. Engraçado como atos ignorantes nos fazem fazer merda...

Dito aquelas palavras, foi onde tudo começou, mas não ao extremo, e sim, aos poucos, pelo menos aquele dia, não me aconteceu nada. Era como se ele havia percebido que não era bem vindo em minha casa. E de fato, não era. O que raios eu faria com um diabo de um duende em minha casa? De que serviria para mim? Absolutamente nada. E foi exatamente isso o que pensei naquele momento, e como disse, me arrependo, e muito.

O dia passou tão rápido, e nem percebi, afinal, estava encucada com aquele troço em minha casa, tanto que fiquei observando aquela garrafa o dia inteiro, só para ter a chance de falar para meus amigos, que aquilo, não passava de uma farsa. Como estava bem cansado, fui tomar um banho, não muito demorado, e assim que o terminei, me deito em minha cama, apagando no mesmo instante.

Como havia dito, aquela noite em si, havia sido muito tranquila, nada de ruim me aconteceu, que era o que mais temia. Mas na manhã seguinte, acordei rapidamente, e assim que fui tomar meu banho e fazer minhas higienes, o chuveiro queimou. O que me deixou completamente furioso. Decido tomar banho gelado mesmo, e depois, arrumaria aquilo. Terminando o meu banho, vou tomar café, eu sempre preparava bastante café, assim, eu podia ir tomando ao decorrer do dia.

Peguei a jarra, enchi de água e coloquei para esquentar, fui pegar a garrafa para colocar o café, o filtro e o suporte para o filtro, até aqui, não houve problema algum, fora o chuveiro ter queimado misteriosamente enquanto tomava meu banho.

Minutos depois, já com tudo pronto, fui colocar a água para fazer o café, e com todo o azar do mundo, o suporte de segurar a garrafa estourou, derrubando água fervendo em cima de minha mão. O que me fez gritar de dor e correr para o hospital. Acabei enrolando minha mão em um pano, ainda mais naquele desespero todo, eu não sabia muito o que fazer.

Corri para pegar as chaves do carro e meus documentos, mas não os encontrava em lugar algum, literalmente em lugar algum. O que me deixou ainda mais desesperado e sem saber o que fazer. A única coisa que me veio na mente, foi enfiar a minha mão num balde de água fria, e assim eu fiz.

Fui até a cozinha, onde peguei uma bacia mediana, enchi de água e gelo, logo, enfiei minha mão ali, que aliviou completamente a dor que estava sentindo. Decido ligar para os meus amigos, sim, os mesmos que me trouxeram aquela praga. Estava furioso, e só queria aquela porcaria longe daqui.

- Robert? Sim, sou eu! Escuta... Acho melhor você vir buscar aquela porcaria, e não quero saber se foi um presente ou não, só quero isso longe de mim!

- Mas do que você está falando, Marcos? O que diabos vocês fez? Não vai me dizer que você ofendeu o duende?

No momento em que ele havia me dito aquilo, apenas engoli seco e suspirei com toda a minha força, afinal, eu estava irado, e não queria saber de mais nada em minha casa, só queria paz. Até porque, até o dia anterior, nada de ruim havia acontecido. Robert tenta falar comigo, ainda sobre o duende.

- Olha, Marcos... Espero que você não tenha dito nada que tenha ofendido o duende... Como eu havia dito, eles são traiçoeiros quando algo assim acontece. Mas me diz... Por que está tão nervoso?

Reviro os olhos com muita raiva e então o respondo, ainda com dor em minha mão, que estava completamente queimada e com bolhas. Acabo soltando um pequeno gemido de dor, respiro mais uma vez e volto a responde-lo.

- Eu não sei que merda você trouxe aqui para a minha casa, mas antes de vocês trazerem essa coisa, nada de ruim estava acontecendo! Hoje pela manhã, eu acordei e fui tomar banho, só que, o chuveiro simplesmente queimou! Ele estava perfeito, sem problema algum! E outra, eu acabei de queimar a merda da minha mão, tentei ir para o hospital, mas não achei minhas chaves e muito menos meus documentos. Eu espero do fundo do coração, que isso seja coisa da minha cabeça.

Robert respira tenso do outro lado da linha, como se soubesse o que havia acontecido comigo aquela manhã. Ele não diz nada por uns cinco minutos, até que então, se despede de mim.

- Eu preciso ir, Marcos, depois nos falamos de novo! Não esquenta... Foi só um dia ruim.

Antes que eu pudesse dizer algo, o bendito me desliga o telefone, e ótimo, era tudo o que eu precisava saber. Ou seja, meus amigos, aqueles que sempre diziam me amar e se preocupar comigo. Me trouxeram uma criatura que vai me matar aos poucos. Naquele momento, mil coisas me vieram a mente, e mais uma vez, fui tentar procurar as chaves do carro e meus documentos. Por uma grande sorte, os encontrei.

Saí de casa o mais rápido que pude, indo direto ao hospital mais próximo de minha casa, afinal, a queimadura havia sido séria, minha mão, estava cheia de bolhas e manchas vermelhas. Horas depois, voltei para casa, já com a mão enfaixada e medicada. Mas para a minha surpresa... Tudo, literalmente tudo, estava revirado. O que me deixou irado naquele mesmo instante.

- Inferno! O que você quer de mim, duende maldito?? Você não acha que já me causou problemas o suficiente?!

Acabei falando num tom agressivo e completamente alterado, até porque, aquilo já tinha sido a gota d’água para mim. Já era tarde, por volta das dezoito horas, e nesse horário, eu costumava fazer algo para comer, logo após, ia para o meu quarto assistir algo ou até mesmo ler. Enquanto resolvo preparar algo, o telefone de casa toca. Corro até a sala, que estava escura, então, atendo. Mas pude apenas ouvir gargalhadas, e não eram gargalhadas normais, eram parecidas com risadas de duendes em que vimos nos filmes. Algo horrível de se ouvir.

- Ótimo... Era só o que me faltava! Quem quer que seja, você não tem mais o que fazer? Robert, se for você, eu juro que vou até aí e quebro a sua cara!

Desligo o telefone com toda a minha força e resolvo voltar para a cozinha, assim, podendo preparar algo para comer, até porque, passei o dia fora e não tive tempo para comer absolutamente nada. Meu estômago roncava, só de pensar que logo iria comer em paz, ou pelo menos achei que sim.

Enquanto preparava tudo, pude jurar ouvir algo na sala, como se fosse algo correndo, eram literalmente sons de passos, mas não de algo grande, e sim, de algo pequeno, como um camundongo. Com uma faca em minha mão, fui andando cuidadosamente até a sala, que estava completamente escura, o que me fez colocar minha mão sob o interruptor e acendendo as luzes.

Olhei para cada centímetro daquela sala, e posso dizer que, foram os minutos mais tensos da minha vida, eu não sabia o que esperar naquele momento, quer dizer, eu estava tenso, e mal sabia o que tinha por ali. Como acabei não presenciando absolutamente nada, resolvo voltar para a cozinha e terminar minha janta. Não demorou muito, e pude ouvir aquelas mesmas gargalhadas de antes, mas era como se elas estivessem literalmente perto de mim.

Viro minha cabeça rapidamente para trás, tentando ver se conseguia encontrar algo, e para a minha surpresa, vejo um vulto, era pequeno. O que me gelou a espinha, era praticamente impossível algo assim estar acontecendo comigo. E como eu disse antes, era impossível aquele duende da garrafa se mexer. Eu já não sabia mais o que fazer. Apenas ligar para Robert mais uma vez, mas assim que fui pegar meu celular, ouço mais uma vez a gargalhada e passos, que dessa vez, estavam mais pesados do que antes.

- Maaaaarcos... Você não deveria brincar com o desconhecido, sabia?? Você ouviu o seu amigo, não? Duendes são traiçoeiros, ah se são! Melhor correr... Boa sorte!

Ao ouvir aquela voz, meu corpo inteiro se arrepiou, eu queria muito que aquilo fosse algo da minha cabeça e que eu estivesse pirando. Provavelmente isso fosse culpa do meu cansaço, eu precisava de um banho quente e de uma boa noite de sono, só isso. Logo que termino de comer, principalmente depois daquele susto, vou direto para o meu quarto, onde pego algumas peças de roupas e vou até o banheiro, tomar um banho bem demorado.

Sei que fiquei ali dentro por cerca de uma hora, tudo para que eu realmente pudesse relaxar, ou pelo menos tentar. Quando menos esperei, ouvi fortes batidas na porta do banheiro. Elas eram tão fortes, que pensei que seria derrubada a qualquer momento. Eu não sabia se gritava, se chorava, apenas me sentei no chão do banheiro, olhei para a porta e falei baixinho.

- Me deixa em paz... É só isso que eu te peço. Eu só quero paz... Só paz.

Lágrimas tomaram conta de meu rosto, e que se juntaram com a água que escorria de meus cabelos. Eu mal podia fazer nada, só queria paz e sossego, só isso, acho que não é pedir demais, né? Foi o que pensei também, mas para o meu azar, aquele duende, aquele bendito duende, estava só começando.

Assim que terminei de falar, as batidas cessaram, o que me deixou um pouco mais aliviado, pelo menos por hora. Me levanto calmamente, desligo o chuveiro e então, pego uma toalha, assim, podendo me secar rapidamente e colocar minha roupa. Abro a porta com muito cuidado, vendo se tinha algo ali fora, e para a minha sorte, não.

Mas assim que abro totalmente a porta, vejo diversas marcas nela, como se de alguma forma, aquelas batidas tivessem sido feitas por um martelo ou algo do gênero. Ver aquilo, me deixou ainda mais desesperado de certa forma. Mas assim que tive a chance, corri para o meu quarto e me tranquei o mais rápido possível. Pobre tolo... Mal eu sabia que a criatura estava ali, comigo, trancado em meu quarto, apenas esperando uma brecha minha.

Resolvo ligar para Robert mais uma vez, e já com os nervos à flor da pele, iria devolver o bendito duende o quanto antes para ele. Eu realmente não queria aquilo em minha casa, não queria mesmo. Pego meu celular e ligo rapidamente para ele, que demorou um pouco para atender, mas atendeu.

- Marcos?! O que houve? E sua mão, está melhor? Espero que sim.

Respiro fundo, e então, decido responde-lo, afinal, eu queria resolver todo esse problema logo, haviam se passado dois dias e minha vida estava começando a virar um caos, tudo por conta de um presente idiota.

- Escuta bem aqui... Eu não sei que merda você trouxe para a minha casa, protetor ou não, criatura mística ou não. Essa merda vai embora o quanto antes daqui! Achei que fossemos realmente amigos, mas acho que me enganei. É melhor você vir buscar essa garrafa hoje.

O rapaz tentou se explicar, mas antes que pudesse dizer algo, eu simplesmente desliguei o celular, só queria dormir e ficar em paz naquele momento. E foi o que fiz, deixei meu celular no criado mudo, apaguei a luz do meu abajur e finalmente me deitei, assim, podendo descansar tranquilamente.

Horas se passaram e foi quando começo a ouvir os mesmos passos e gargalhadas de antes, mas tudo estava ainda mais intenso. Era como se um gigante estivesse andando e rindo dentro do meu quarto. Apenas pulei da cama, completamente desesperado, sem saber o que fazer naquele momento. Mas daquela vez, para o meu azar, eu enfim pude ver o tal duende. Era horrendo, típico dos filmes de fantasia, mas com uma forma um pouco mais grotesca.

Ele apenas foi se aproximando aos poucos e crescendo, como? Eu não faço ideia, ele apenas se aproximou e se aproximou, chegando bem perto de mim. Olhei bem para ele e mal pude pronunciar uma única palavra. Olhei para o meu relógio, que ficava no criado mudo e já era meia noite. Robert não apareceu em momento algum, mas era como se ele soubesse do que estava acontecendo. O duende apenas sorriu, e com aqueles dentes completamente afiados e com muita saliva escorrendo por eles. Era como se fosse me devorar naquele mesmo instante.

- Anda... Acaba logo com tudo isso. Me devora! Não é isso que veio fazer, duende maldito?!

O duende gargalhou copiosamente e sem parar, até então pegar a garrafa de um de seus bolsos, apontar para mim e apenar sorrir, não disse uma palavra sequer desde então. Meu corpo se arrepiou e ardeu por inteiro, como se estivesse em chamas. Apenas pude fechar meus olhos. Quando menos percebi, abri meus olhos uma última vez, podendo ver meu corpo já sem vida em cima da cama, olhei para cima e lá estava o duende, olhando para o cadáver e em seguida, para a garrafa.

- Não devoro humanos... Já almas, é outra história... Você falhou e sua alma, agora é minha. Como eu disse, deveria acreditar em seu amigo, mas agora, já é tarde demais, Marcos.

Ele gargalhou até se engasgar, assim, saindo de meu quarto, da mesma forma que havia entrado antes. Indo direto para a sala, deixando a garrafa no mesmo lugar, assim, a adentrando, sem qualquer tipo de complicação. Momentos depois, ouço Robert gritar e gritar, mas como não obteve respostas, arrombou a porta, correu por todos os cômodos, e então, voltou com o meu cadáver em seus braços, o colocando no sofá e se aproximando da garrafa lentamente.

- Pobre Marcos... Você deveria ter feito o que disse... Agora, é só mais uma alma presa dentro dessa garrafa. Eu te avisei, mas como sempre, foi teimoso. Agora, viva eternamente ao lado do duende, assim como todas as almas que já capturou. Enquanto o seu corpo, não se preocupe, servirá para um ótimo sacrifício... Adeus.

O filho da puta simplesmente saiu da minha casa com o meu cadáver e nunca mais apareceu, e agora, cá estou eu... Preso dentro de uma garrafa, ao lado de um duende, o qual causou tudo isso.

Agora... Torno a te perguntar: Você acredita em duendes?

B Folk
Enviado por B Folk em 13/05/2020
Código do texto: T6946179
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