Prostíbulo De Sangue

Diarubi - cidade pequena, mas próspera. Em seus arredores, encontra-se a mansão Reinhart, um conhecido prostíbulo de luxo.

Um carro para em frente ao seu enorme portão. O motorista desce e toca o interfone.

- Quem é?

- Sou eu, Cássio Linhares.

O portão automático abre-se imediatamente. Cássio volta para o carro, segue dirigindo para a mansão e alguém, abaixado,  acompanha o carro pela lateral, do lado do carona. Cássio continua em frente e a tal pessoa embrenha-se no enorme  jardim. O grande jardim da mansão, com gramado, árvores e plantas, tudo cercado por muros altos.

É noite. Passa das 23:00 horas. Um vento frio espalha-se pelo lugar, uma tempestade aproxima-se.

Dentro da mansão,  mulheres se divertem e divertem outros vendendo seu falso amor. As que não tem o que fazer, assistem televisão, dormem ou leem. Afinal, é um dia comum de semana, o movimento é mais fraco. Há apenas uma empregada, encarregada de abrir o portão e ajudar nas tarefas mais simples. O normal são 3 ou 4 empregadas em dias mais movimentados.

Uma janela está aberta, por onde entra a misteriosa pessoa que invadiu o território da mansão. Ela escuta passos e se esconde. É a empregada que está passando e notando que a janela está aberta, a fecha e segue seus trabalhos. A  misteriosa figura vai para o saguão da mansão e sobe as escadas para o andar de cima. Há um corredor com dois quartos que, neste momento, estão ocupados e no final dele, um banheiro. A  chuva começa.

No quarto mais próximo ao banheiro, João Vicente, deleita-se com Amália, uma das garotas da mansão.

- João, você não muda, a qualidade é sempre a mesma - diz a garota.

- É você, menina, que me enche de tesão.

A garota, após terminado o ato, sai de cima de joão e vai até a penteadeira e conta o dinheiro deixado por ele.

- Certinho, seu joão gostosão.

- Menina, você sabe que comigo não tem falha, em todos os sentidos.

- Você vai embora agora?

- Não. Vou esperar a chuva passar.

- Certo. Eu vou tomar um banho. Já volto.

Amália abre a porta do quarto no exato instante em que o estranho invasor da mansão passa pela entrada do corredor. Ele esconde-se e apenas ouve o que é dito.

- Sabia que você é um cara de pau, João? Depois do que aconteceu já está aqui - diz Amália.

- Eu? E vocês que já estão no batente como se nada tivesse acontecido.

Os dois riem e Amália dirige-se para o banheiro. Quando toca na maçaneta, lembra que esqueceu a toalha no quarto e volta para pegá-la.

- Quer que eu esfregue suas costas, Amália? - pergunta João de maneira sacana.

Amália olha pela janela.

- Nossa! Que temporal - diz Amália.

- É o céu desabando, Amália.

- Tá bom. Eu vou tomar banho.

Amália dirige-se ao banheiro. Não precisa tirar a roupa porque já está nua. Ela vai abrir a cortina da banheira quando ouve-se um trovão e a luz se apaga.

- Ah, não! Falta de energia.

Amália olha em direção a porta enquanto, por trás dela, a cortina é aberta. Ela vira-se a tempo de ver um braço erguendo-se e em sua mão uma faca. Amália só tem tempo de gritar por quase um segundo inteiro.

João vicente esta sentado na cama quando nossa misteriosa personagem entra e fecha a porta. Ele se vira e pergunta:

- O que você está fazendo aqui?

Ouve-se mais um trovão. João rapidamente pega suas calças e, nervoso, tenta colocá-las. Ele continua a inquirir:

- Como entrou aqui?

No outro quarto, naquele mesmo corredor, também há um casal transando. Outra garota de programa montada em seu cliente. Ela diz:

- Está ouvindo alguma coisa?

- Não, só escuto a chuva.

- Parecem pessoas discutindo.

- É só o barulho da chuva, amor. Não para.

- Que loucura, isso é uma loucura - diz João Vicente, tentando, ainda, vestir sua calça. Ele está de frente para a janela de madeira com vitro  quadriculado e de costas para a outra pessoa que pega um pequeno vaso de flores que está na penteadeira e o quebra na cabeça de João. O som atrai novamente a atenção da garota no outro quarto. João é jogado contra a janela que se quebra e sua cabeça fica presa. A janela, com o impacto, abre-se. Os pingos de chuva começam a entrar no quarto.

- Para onde você vai, Priscila? - pergunta o homem que transava com a garota de programa no outro quarto no mesmo corredor onde está João Vicente e estava Amália.

- Eu só vou ao banheiro.

Ela veste um roupão e vai pegar umas velas. Priscila pensa: "Poderia jurar que ouvi uma discussão aqui. Será que Amália está bem? Eu não estou me aguentando de vontade de fazer xixi. Depois, vou bater na porta do quarto dela e ver se está tudo bem".

Priscila anda pelo corredor escuro, carregando um isqueiro aceso, pois foi a única coisa que ela encontrou. Entra no banheiro, senta-se no vaso, urina e quando levanta, ao movimento de sua mão, a luz da chama do isqueiro ilumina a banheira e Priscila vê Amália com uma faca enfiada na boca e a ponta saindo pela nuca. Priscila grita e saí do banheiro. No corredor da mansão, ela grita ainda mais forte. O homem que estava com ela no quarto sai para fora, de cueca, por ter ouvido o grito de Priscila.

- O que aconteceu? - ele pergunta.

- Lá dentro... Amália está morta!

- O quê?!

Ele pega o isqueiro da mão de Priscila e entra no banheiro. Logo sai, andando de costas lentamente para o lado de Priscila. Sua expressão é de espanto.

- João vicente... Amália estava com João... - diz Priscila que vai correndo para o quarto de Amália e o que vê a espanta ainda mais:

João Vicente, com a cabeça presa à janela que está aberta para o lado de dentro do quarto. Sua garganta fincada nos pedaços de vidro da janela, sua calça à altura dos joelhos e seu próprio pênis enfiado na boca. Priscila grita mais uma vez. Outras meninas aparecem perguntando o que está acontecendo e veem a dantesca cena.

15 Anos Depois

Sexta-Feira 15H40M

A cidade de Diarubi prosperou, desenvolveu-se, assim como as cidades vizinhas. Uma garota, carregando uma mochila nas costas, aproxima-se de um posto de gasolina. Nele estão seu dono, sentado, conversando com duas mulheres e um rapaz. Há uma pessoa, na parte do posto que serve como oficina e, ela, está usando algumas ferramentas em sua moto. Esta pessoa usa um capacete de visor espelhado, jaqueta de couro preta e calça jeans azul.

A garota pergunta para as quatro pessoas:

- Com licença, vocês sabem onde fica a mansão Reinhart?

As quatro pessoas arregalam os olhos e olham umas para as outras. Uma das mulheres pergunta:

- O prostíbulo de sangue?

A outra mulher diz:

- Vão reabrir aquele lugar.

O Rapaz fala com o homem sentado:

- Tio, ela fica quase fora da cidade, não é?

- Exatamente, Rafa - responde o tio. - Moça, o que você vai fazer na mansão?

A garota pega uma lata de refrigerante na máquina e responde:

- Bom, eu vou trabalhar lá.

As quatro pessoas se espantam novamente.

- Qual o problema? - pergunta a garota enquanto toma um gole de refrigerante. -Vocês parecem estranhar isso. Eu sou uma hostess.

Marcondes, o dono do posto pergunta a seu sobrinho Rafael:

- Rafa, foi o Marcos Andreassa que comprou a mansão, não foi?

- Isso mesmo. tio.

- Ele contou a você a história dessa mansão? - pergunta Marta, uma das mulheres presentes. - ...E...qual é seu nome mesmo?

- Jennifer - responde a garota da mochila.

- Hostess é uma espécie de recepcionista, não é? -pergunta a outra mulher de nome Célia.

- É, é bem isso - responde Jennifer.

- Pois desista - diz Marcondes. - Isso não vai dar certo.

- Vai sim - diz Jennifer. -Marcos disse que a cidade de Diarubi e as cidades vizinhas, que são todas bem próximas, carecem de uma casa noturna, uma boate, sabe?

- Não estou falando disso. Ele não te contou, não é?

- O quê? Que mistério é esse, gente?

- Há 15 anos, uma empregada da mansão foi assassinada por um dos homens que frequentavam  o lugar - diz Célia, e Marta continua:

- Ela não era uma das garotas de programa, mas esse homem queria ter relações com ela e tentou estuprá-la.

- Ela se defendeu batendo nele - diz Célia. -O homem, furioso e bêbado, sacou uma arma e deu dois tiros nela.

- O homem fugiu, mas foi preso - diz Marcondes. - Em menos de uma semana, o prostíbulo já estava funcionando novamente. Ninguém de lá deu importância ao fato.

- Mas o que aconteceu 15 dias depois foi pior, não é, tio?

- Isso mesmo, rafa.

- O marido dessa empregada frequentava de vez em quando o prostíbulo - diz Rafael.

- Quando a mulher estava de folga - fala Marta. As garotas de lá riam dela pelas costas e a coitadinha não sabia o por quê.

- E o que aconteceu depois dos 15 dias? - pergunta Jennifer.

- O marido dessa empregada foi até a mansão, ter relações com as garotas - responde Marta. - Não estava sentindo nada pela perda da esposa . Era como se não tivesse acontecido nada para ele.

O motoqueiro, que ouve a conversa enquanto ajusta sua moto, ao ouvir isso, parece sentir-se incomodado, cerrando o punho direito que chega a tremer.

- Só que aconteceu de novo - diz Célia.

- Aconteceu o quê? - pergunta Jennifer

- Ele foi morto, assassinado. Ele e a garota de programa que estava com ele - responde Marcondes.

Marta fala:

- Ela foi assassinada no banheiro...

- Com uma faca enfiada na boca - prossegue Célia.

- João Vicente era o nome dele - fala Marcondes. Bateram a cabeça dele contra uma janela de vidro quadriculado do quarto e a janela quebrou, a cabeça dele saiu pelo outro lado da janela. Apertaram seu pescoço para baixo sobre os cacos de vidro da janela quebrada.

- É. E cortaram o pênis dele e o enfiaram na própria boca dele - diz Rafael rindo.

Marcondes repreende seu sobrinho:

- Pare de rir, Rafael. Isso não é uma coisa para se divertir.

- Nossa! Que história! - diz Jennifer.

- Nunca descobriram o assassino - fala Marta.

- Ou assassinos - diz Célia.

- O Casal tinha uma filha - fala Marcondes. - Acho que ela tinha quinze anos quando tudo isso aconteceu. A pobrezinha entrou em choque - diz Marcondes balançando a cabeça negativamente. -A avô materna a levou para morar junto dela na capital, mas tem mais - prossegue Marcondes. - As garotas de programa decidiram ir embora. A mansão, então, foi deixada aos cuidados de um zelador. Houve um princípio de incêndio , mas o zelador e sua família conseguiram apagar o fogo. O zelador morava em uma casa atrás da mansão. Ninguém descobriu o que causou o fogo.

- Essa mansão era de quem antes do Marcos a comprá-la? - pergunta Jennifer.

- A casa era de um senador - responde Célia. -Fernando Meira Reinhart. Foi adquirida pelo avô dele. Nem a esposa desse senador tinha conhecimento dessa propriedade.

Marta acrescenta:

- O senador visitava a mansão uma ou duas vezes por mês.

Marcondes:

- Ele tinha uma protegida. Uma mulher administrava a casa, cuidava dos "negócios" e só tinha relações com ele.

- Depois dos assassinatos, - fala Rafael - a história veio a público. A esposa do senador ficou sabendo e pediu o divórcio, mas, antes da separação ser concluída, o senador morreu de um infarto fulminante.

- É isso mesmo - acrescenta Marcondes. - A viúva ficou com os bens do marido, mas só veio a esta mansão uma vez. Há dois anos, o pai de Marcos Andreassa, comprou a mansão  por uma pechincha. A viúva do senador queria se livrar dela de qualquer jeito.

- Foi pedido do Marcos que o pai comprasse essa mansão - diz Rafael.

- Esse rapaz frequentou muito essa mansão na sua juventude - diz Marcondes rindo. -Desde então, ele começou a reformar o lugar e construindo a sua tão sonhada casa noturna.

- É. Agora está pronta - diz Jennifer - Marcos vai apresentar para os empregados a mansão neste fim de semana. Por isso estou aqui.

Amália pergunta a Jennifer:

- Vocês vão ficar morando na mansão?

- Não. É só durante os fins de semana. O dinheiro é bom, por isso aceitei. Durante a semana, frequento a faculdade. Então, como faço pra chegar na mansão?

- É alguns quilômetros seguindo por esta estrada  - aponta Célia. - Vai até o Cemitério Paz Eterna. A rua da mansão fica em frente ao cemitério.

- Tem alguma condução para aqueles lados? - pergunta Jennifer, quando nota o motoqueiro lhe fazendo sinal com a cabeça para se aproximar. Ela pede licença e vai até ele. Marcondes, Rafael, Marta e Célia ficam fofocando sobre os fatos da mansão e a sua reabertura. Jennifer volta e diz:

- Eu consegui uma carona até a mansão. Obrigada, gente, tchau. A gente se vê.

Jennifer sobe na garupa da moto e o motoqueiro a liga e ambos partem. Marta pergunta:

- Quem é a pessoa na moto?

- Não sei - responde Marcondes. - Apareceu aqui e pediu as ferramentas emprestadas para calibrar a moto. Não vi problema e deixei.

Os quatro observam  a moto até ela sumir na estrada.

Em outra estrada, um carro também segue em direção a mansão. Há quatro passageiros: os amigos Scheila, Osvaldo e o  casal Ricardo e Mônica. Osvaldo diz:

- Ainda bem que o Marcos arrumou esse trampo pra gente. Olha, a situação não tava nada boa.

Ricardo:

- Ah, fala sério. Você é um boa vida, Osvaldo. Só aceitou esse emprego porque é uma moleza e também pra ficar perto das gatinhas. Tô certo ou tô errado, Scheila? Ele não é um folgado? - Ricardo fala na intenção de tirar um sarro de seu amigo Osvaldo.

- Digamos que ele não é muito esforçado - diz Sheila, sorrindo. Ela dirige o carro.

- Ah! Você tá contra mim, gatinha? - pergunta Osvaldo. - Eu pedi pro Marcos lhe dar uma chance porque você não sabe fazer nada...

- Quem é que não sabe fazer nada?  - Scheila começa a dar tapas em Osvaldo e assim vai perdendo a atenção na direção. O carro vai e vem na contramão.

- Ei, vocês querem matar a gente? - pergunta Ricardo.

- Eu ainda estou muito jovem pra morrer, tenho muito o que aproveitar, não é, benzinho? - fala Mônica, dando um beijinho em seu namorado Ricardo.

- Eu já tô vendo o que vocês vão ficar fazendo o fim de semana. - fala Osvaldo.

- E o que é que tem, cara? Você tá é com inveja porque tá sozinho - diz Ricardo.

Será que vai ter alguma gata igual a você na mansão, Mônica? - pergunta Osvaldo.

- Ê, mais respeito aí com a minha namorada - fala Ricardo.

Os quatro seguem nesse clima de gozação em direção a mansão Reinhart.

Mansão Reinhart

Em um cômodo da mansão, um segurança olha com atenção para alguns monitores. Eles estão conectados a câmeras espalhadas pela mansão e uma de frente para  o portão.

- E aí, Marcelo? Tudo tranquilo? - pergunta Marcos Andreassa que adentra a sala.

-Tudo bem, seu Andreassa - responde o vigia.

- Ótimo! - Marcos dá uma rápida olhada nos monitores e diz:

- É, parece que está tudo bem mesmo. Fique de olho, Marcelo.

- Pode deixar.

Ricardo, Mônica, Scheila e Osvaldo chegam a mansão. Scheila estaciona o carro em frente ao portão.

- Vai lá, Osvaldo, toca o interfone - diz Scheila.

- Ah, mas por que eu? Por que não o Ricardo?

- Ah, mas você é folgado, rapaz - diz Ricardo. - Faz alguma coisa.

E os três ficam apressando Osvaldo que sai do carro e vai até o interfone. Sheila mexe em seu celular. Ricardo e Mônica conversam baixinho entre eles.  Quando Osvaldo está prestes a colocar o dedo no interfone, alguém coloca a mão em seu ombro dando-lhe um grande susto.

- Ei, o que é isso? - pergunta Osvaldo.

Seus amigos no carro  se atentam para o que está acontecendo. Uma senhora de longos cabelos cinzas, com um vestido vermelho desbotado e carregando uma bolsa olha para os quatro e pergunta:

- Vocês vão entrar aí, não é? Pois saibam que não sairão vivos.

- Quem é a senhora? - pergunta Mônica.

- Eu vivo aqui a muito tempo e já vi muita coisa. Essa mansão é amaldiçoada, deem meia volta e salvem suas vidas - a mulher olha os três jovens dentro do carro e repete a frase: - Salvem suas vidas - a estranha mulher dá as costas para os quatro e vai embora repetindo a mesma frase. Scheila desce do carro e diz:

- Que estranho!

- Eu, hein!? quem será essa doida? - pergunta Osvaldo.

- Ah, deixa pra lá -diz Scheila tocando o interfone.

Marcelo, o segurança, atende. Sheila se apresenta e diz os nomes dos que estão com ela. Marcelo olha o monitor ligado a câmera que fica  sobre o muro voltada para o portão. Depois pega a lista com os nomes das pessoas esperadas para chegar. Confirma que os quatro jovens estão na lista e libera o portão.

- Vamos logo antes que aquela doida volte. Ela me arrepiou - diz Osvaldo.

Marcos Andreassa está na frente da mansão admirando sua propriedade, quando o carro com os quatro jovens estaciona.

- Que bom que vocês chegaram - diz Marcos.

Eles se cumprimentam e Marcos diz:

- E então? O que acham?

- É um belo lugar - diz Scheila.

- Rapaz, - fala Osvaldo - seu pai tem bastante grana. Comprar uma mansão dessas...

- Na verdade, ela foi bem barata, mas nunca pensei que transformá-la em uma casa noturna fosse tão dispendioso e trabalhoso.

- E por que você teve essa ideia? - pergunta Mônica.

Uma garota aparece saindo pela porta da frente da mansão e diz:

- É um sonho antigo do Marcos. Ele vivia se divertindo e se encontrando com seus amigos neste lugar quando era jovem. Sempre pensou em criar nesta cidade um point bem divertido para os jovens se encontrarem. Prazer, meu nome é Ana.

- O que era este lugar no seu tempo, hein, Marcos? pergunta Ricardo.

- Um prostíbulo - responde Scheila

Todos riem e Marcos pergunta:

- Você sabia, Scheila?

- Eu ouvi algumas coisas e acho que algumas tem haver com aquela mulher que nos recebeu na entrada.

- Que mulher? - pergunta Marcos.

- Uma velha louca dizendo que este lugar é amaldiçoado - responde Osvaldo.

- É a idiota da Catarina - diz Marcos. -  Você tem razão, ela é louca. Só espero que as bobagens que ela fala não me tragam prejuízos. Ana, cadê o Beto?

- Ele está cuidando daquela umidade de um dos banheiros.

- Ainda? Eu preciso que ele cheque outra coisa. Vamos entrar, pessoal.

Assim que entram, todos começam a observar o lugar admirados. Cada um dos jovens observa um detalhe diferente.

- Ali está a pista de dança - descreve Marcos. - A direita, o bar, a esquerda, o palco, a escada leva para a galeria e também os quartos.

- Muito bom trabalho, Marcos - diz Mônica.

- Obrigado, Mônica. É um sonho que se realiza.

- Quem mais está na mansão? - pergunta Ricardo.

- Além de nós seis, - explica Marcos - tem o Beto que está arrumando algumas coisas e tem um segurança, Marcelo, observando o circuito de câmeras, e a Jennifer está pra chegar.

- Serão só nós neste final de semana? - pergunta Osvaldo

- Sim. Eu só quero mostrar  o lugar para os amigos mais íntimos que trabalharão nela. Já está quase tudo pronto, abriremos daqui a duas semanas. Vocês, podem colocar suas coisas nos quartos.

- Vamos lá, Scheila. Vamos colocar as coisas que trouxemos para passar o fim de semana nos quartos - chama Osvaldo.

- Vamos conhecer lá em cima, Mônica, e escolher nossos quartos - diz Ricardo.

Quando ficam sozinhos, Marcos abraça Ana pelas costas e diz:

- Tudo está saindo maravilhoso.

- Espere aí - diz Ana se desvencilhando dos braços de Marcos. - Eu não disse que voltaríamos.

- Mas pensei que quando aceitou o meu pedido para me ajudar...

- Pois pensou errado. Nós tínhamos combinado dar um tempo.

- Pensei que esse tempo tinha passado - diz Marcos, tocando os lábios de Ana com o dedo indicador.

- Como eu disse, pensou errado.

Ana dá um beijinho nos lábios de Marcos e se dirige para a galeria deixando marcos sozinho que diz:

- Quem consegue entender as mulheres?

Seu celular toca e ele atende.

- Alô? Gérson? E então, o carregamento de bebidas está confirmado para o dia que combinamos?

Marcos vai conversando ao celular enquanto sai da mansão pela porta principal.

Jennifer segue de carona com o motoqueiro, que passa direto pelo Cemitério Paz Eterna.

- Ei, a rua para a mansão Reinhart não é aquela em frente do cemitério? - pergunta Jennifer.

O motoqueiro ignora e entra em uma rua de terra, cercada por um milharal.

-Quer fazer o favor de parar - pede Jennifer, que começa a se preocupar. - Pare, por favor.

O motoqueiro para a moto e derruba Jennifer na estrada. Ele continua em frente e, então, vira a moto para a direção de Jennifer. Ela percebe o perigo e tenta se levantar. O motoqueiro avança em sua direção e Jennifer consegue desviar, mas a moto passa por cima de seu tornozelo esquerdo. O motoqueiro vira novamente a moto em direção a Jennifer, que entra no milharal. Ela tenta correr, mas, arrastando a perna esquerda por causa de seu tornozelo. Ela avança por entre o milharal, enquanto escuta o escapamento da moto. De repente, esse barulho cessa e, Jennifer para, olha para todos os lados e continua avançando. Ela chega do outro lado do milharal, onde dá de cara com uma cerca de madeira. A garota pula a cerca com dificuldade e acaba caindo de bruços. Jennifer encosta a cabeça no chão, fecha os olhos e dá um gemido de dor. A garota ouve passos, levanta a cabeça e vê um par de botas pretas na sua frente, levanta mais a cabeça e vê que é o motoqueiro. Ele pega uma faca de caça que está em uma bainha presa a sua calça.

- Não, não - Jennifer implora.

Sem piedade, o motoqueiro ergue o braço e dá o golpe. A faca atravessa o pescoço de Jennifer e a ponta chega a fincar no chão.

Noite

Uma pequena confraternização é realizada na mansão. Marcos, Ana, Ricardo e Mônica dançam na pista, enquanto Osvaldo é o D.J.. Scheila se aproxima dele com dois drinks e diz:

- Você é realmente muito bom - Scheila entrega um dos drinks  a Osvaldo.

- Obrigado. Aprendi com meu irmão. Eu queria entrar nas baladas, mas era menor de idade e meu irmão sempre dava um jeitinho para eu entrar nas festas que ele ia discotecar. Eu sempre ficava olhando esses DJ'S e resolvi que eu queria fazer isso. E você é boa nos drinks? A propósito, este aqui está ótimo.

- É uma grande coincidência.

- O quê?

- Eu também aprendi a fazer drinks com minha irmã. Ela trabalha aos fins de semana com isso e, olha só, estou seguindo o mesmo caminho dela.

- Mas você gosta, não é?

 - Gostar? Eu adoro isso. Essa chance que o Marcos me deu caiu do céu.

A música termina, Osvaldo faz uma pausa e diz a Scheila:

- Scheila, a gente já se conhece através do Ricardo e da Mônica, há uns meses e, agora, vamos trabalhar juntos. Olha, eu gostei de você. Por que não aproveitamos esse final de semana pra...

Scheila coloca a mão na boca de Osvaldo e diz:

- Olha, Osvaldo, não é nada pessoal, mas acho melhor não misturarmos as coisas, tá bom? - Scheila vai para a pista de dança e Osvaldo diz, lamentando-se:

- É, não misturar as coisas. Tá certo - ele vê Scheila aproximando-se de Beto e puxando conversa. - Parece que esse final de semana, eu vou ficar na mão. Melhor eu voltar com a música pra me distrair e tirar certos pensamentos da cabeça.

Marcos vai falar com Marcelo, o segurança que ele contratou para vigiar os monitores das câmeras de segurança.

- Marcelo, tudo bem por aí?

- Tudo, seu Marcos.

- Olha, seu turno está acabando e, se você quiser, pode participar da nossa pequena confraria.

- Obrigado, mas acho que vou mesmo é pra casa. Só esperar o Daniel me render.

- E cada esse cara? Já devia estar aqui.

- O senhor sabe como ele é, mas não está atrasado. Ele chega sempre na hora certa. Pode acertar o relógio por ele.

- Está bem, Marcelo, pega esta cerveja. Eu vou voltar pra nossa festinha.

- Certo, seu Marcos.

Marcelo se volta para os monitores  e aquele que está ligado à câmera da entrada da mansão não tem imagem. Marcelo começa a pensar: "Mas antes do Marcos entrar aqui tudo funcionava bem. Foi só eu virar as costas e isso aconteceu. O que pode ter sido? Acho que vou dar uma olhada".

Scheila e beto dançam na pista e Osvaldo olha os dois e diz:

- Pensei que ela tava na minha, olha só. E eu aqui tocando pros dois dançarem. Como a vida é injusta.

- Você mora por aqui? - pergunta Scheila a Beto.

- Sim, sou desta cidade, conheço Andreassa desde a época de ginásio.

- Qual vai ser a sua função aqui na casa?

- Ah, eu sou um faz tudo. Conserto isso remendo aquilo, administro. Marcos disse que sou o seu braço direito. E você vai fazer o quê?

Voltemos nossa atenção para Marcos e Ana. Essa que diz:

- Me fala, Marcos, diz a verdade. Você pretende colocar garotas de programa na casa noturna? Eu acho que você manteve esses quartos, mas não foi só para os funcionários.

- Eu não consigo esconder nada de você, Ana. Essa ideia me passou pela cabeça, afinal, eu conheci esta mansão assim, mas não, falo sério. Não transformarei isso aqui num prostíbulo como era anos atrás, mas se um casal se entrosar e querer dar o próximo passo aqui mesmo, eu acho que, por um valor, poderia ceder um quarto...

-Ah, chega, Marcos, vamos só dançar. Você conseguiu entrar em contato com a Jennifer?

- Não. Ligo, mas só dá caixa postal. É estranho, ela estava tão animada com o trabalho.

- Você acha que ela desistiu?

- Acho que ela aparece amanhã.

Marcelo aproxima-se do portão de entrada, olha a câmera e vê que está destruída. Ele fica surpreso e intrigado. Olha a rua através do portão. Esta parte da rua quase não tem  casas. Marcos colocou um isolamento acústico na mansão para não incomodar seus vizinhos. Marcelo olha para o lado esquerdo e para o lado direito, está tudo calmo. Ele, pra investigar melhor, resolve abrir o portão. Usa um controle remoto que o abre. Marcelo está na extremidade do muro, o ponto em que fica a lateral do portão que abre para cima e, quando vai para a calçada, o motoqueiro com capacete de visor espelhado se impõe a sua frente e com sua faca de caça desfere um golpe no olho esquerdo de Marcelo. O motoqueiro agarra a nuca dele e pressiona cada vez mais a faca para dentro da cabeça do segurança.

Marcos e Ana veem Ricardo e mônica saindo da pista e marcos pergunta:

-Ei, pra onde vocês vão?

- Vamos dar uma volta pelos arredores da mansão, sentir o clima da noite - responde Ricardo rindo.

- Juízo vocês dois. Ei, Osvaldo, já chega de música. Pode parar.

Marcos, com as mãos na cintura de Ana, diz para ela:

- Hmmm, bem que a gente poderia aproveitar o "clima da noite", ir lá pra cima...

Mônica faz uma expressão séria e Marcos continua:

- Não. É sério. Tem uma coisa que eu quero lhe mostrar sobre o projeto da casa noturna.

- É sério? - pergunta Ana com um  misto de riso e desconfiança.

- Pode acreditar. Você não está achando que vou te atacar ou coisa assim, não é?

- Está bem. Vamos subir.

- Venha, vamos lá fora também - diz Beto chamando Scheila, que olha para Osvaldo que está mexendo nas picks-ups.

- Tudo bem você ficar sozinho, Osvaldo? - pergunta Scheila.

- Não. Tudo bem. Podem ir - Osvaldo não levanta a cabeça para não olhar Scheila e Beto.

O casal parte e Scheila olha com um olhar de pena para Osvaldo. Beto insiste para que ela o acompanhe rápido. Osvaldo fica sozinho, vai até o bar, pega uma garrafa de whisky, a abre, senta-se encostado ao balcão e começa a beber diretamente da garrafa.

Marcos e Ana estão no andar de cima da mansão. Marcos diz para Ana:

- Eu preciso de mais ideias de como promover a casa noturna. Eu tenho uma ideia aqui e quero saber o que você acha.

- E quanto ao nome da boate? Qual vai ser? - pergunta Ana

- Bom, eu pensei em... - Marcos vê a porta da sala de segurança aberta e ninguém dentro. Ele entra.

- Onde está o Marcelo? - pergunta Marcos. - E o Daniel, o outro segurança? Já devia ter chegado.

- Talvez o Marcelo esteja no banheiro.

- Não, tem alguma coisa errada aqui. Está vendo esse monitor? É o da câmera que fica virada para o portão. Não tem imagem.

O interfone toca. Marcos atende.

- Quem é?  

- É o Daniel.

- Aqui é o marcos. Você está atrasado 20 minutos, Daniel.

- Desculpe, senhor, é que eu tive que acompanhar minha mulher ao hospital e ...

- Tá, tá, tudo bem. Você sabe do Marcelo? Ele não está aqui.

- Não, senhor. Acabei de chegar e não o vi.

- Daniel, como está a câmera aí de fora?

- Hmm... ela está quebrada, senhor. Eu diria que está destruída.

- Destruída?! Está bem, Daniel, eu vou abrir o portão, mas, você me espere aí.

- Sim, senhor.

- Destruída? - se indaga Marcos.

- Quem poderia ter feito uma coisa dessas? - pergunta Ana

- E o controle remoto do portão também não está aqui.

- Será que está com o Marcelo?

- Eu não sei. Olha, eu vou lá fora, você fica aqui. Depois que eu examinar o que aconteceu com a câmera, te chamo pelo interfone e peço pra você  fechar o portão.

- Tá - Ana senta-se na cadeira do segurança e começa a olhar os monitores. Em um deles, é possível ver Osvaldo, em uma das saídas laterais da mansão, sentado, encostado a porta e bebendo.

Mônica e Ricardo andam pela propriedade. Ricardo pergunta:

- O que você achou?

- Da ideia de durante a semana ficarmos estudando na faculdade e, aos finais de semana, trabalharmos aqui? Olha, eu acho que realmente pode dar certo. Estaremos fazendo o que gostamos e ganhando por isso.

O casal chega na frente da antiga casa do zelador que está vazia. Ricardo abraça Mônica pela cintura e diz:

- Que tal nos entrarmos e, quem sabe... tenha uma cama aí...

- Hmmm, já entendi, seu safado.

Observando o casal que entra na casa do zelador  está Osvaldo, de cara feia, carregando uma garrafa de whisky. Ele entra em uma parte da propriedade onde tem algumas árvores, plantas e restos de materiais usados na reforma da mansão. Osvaldo pega um pedaço de madeira cuja ponta tem dois pregos com as pontas para fora.

- É pra isso que você veio aqui? - Osvaldo começa a falar sozinho e reclamar de sua situação. - Nenhuma gatinha deu a menor bola pra mim. Acho que eu... - Osvaldo usa o pedaço de pau para bater em plantas e flores. - Ah, quer saber? Que se dane.

Osvaldo joga o pedaço de pau para trás e bebe mais um gole de whisky, mas percebe que, ao cair, o pedaço de madeira não fez nenhum barulho. Osvaldo olha para trás e vê o motoqueiro segurando o pedaço de madeira. Imediatamente, o motoqueiro acerta a testa de Osvaldo com as pontas dos pregos da madeira. Ele força Osvaldo para trás que acaba caindo de costas. O motoqueiro pisa na boca de Osvaldo e puxa a madeira para que ela saia da cabeça dele e, em seguida, usa para dar mais um golpe com os pregos no pescoço de Osvaldo.

Do lado de fora da mansão, Marcos e Daniel analisam a situação. Marcos se pergunta:

- Quem poderia ter feito uma coisa dessas?

 Daniel pega uma vara de madeira e diz:

- Aposto que foi com isso que quebraram a câmera.

Marcos analisa a vara e diz:

- Pode ser, mas quem faria isso? Este é um bairro sossegado. Não há queixa de vândalos por aqui.

- Vai saber.

- E o Marcelo sumiu.

- Sumiu? Como assim?

- Ele não está na sala de segurança e o controle remoto do portão também desapareceu. Alguma coisa errada está acontecendo.

Marcos chama Ana pelo interfone:

- Pode fechar o portão. Nós vamos entrar.

-Ok.

Scheila e Beto se beijam encostados  em uma árvore e Beto pergunta:

- Você gostou do lugar? Vai ficar? Deu um trabalhão pra arrumar. Faltam algumas coisas básicas, mas nada que não possa ser resolvido em duas semanas. O tempo para abrir a boate.

- Eu gostei, acho que vou me dar bem aqui. E aquelas histórias de assassinato que ocorreram aqui há alguns anos, são verdadeiras?

- Todo mundo por aqui conhece a história. A empregada que foi assassinada e, depois, o marido junto com a garota de programa.

- Ninguém descobriu quem foi que matou o marido e a garota?

- Não, ficou tudo no mistério e, logo em seguida, o princípio de incêndio. A coisa ficou ainda mais misteriosa. A perícia disse que o incêndio foi acidental, mas nada que compromete-se a estrutura da mansão.

- Que estranho. E aquela mulher, Catarina, que diz que este lugar é amaldiçoado?

- Ela já era doida na época em que essas coisas aconteceram e, com o passar dos anos, piorou.

- Ela não tem família?

- Tinha um marido, mas faleceu há uns 10 anos. O que ajudou a agravar a situação de insanidade dela.

- Ela parece saber de alguma coisa que aconteceu por aqui, você não acha?

- Eu acho que não devíamos perder tempo com essas coisas e continuar com o nosso... você sabe.

Scheila e Beto voltam as suas trocas de carícias, enquanto são observados por alguém que está atrás de uma árvore.

Ricardo e Mônica estão na casa do zelador. Ricardo diz:

- Está cheio de ferramentas aqui, machado, picareta, pás, também tem madeiras.

- Acho que aqui não tem nada de interessante pra ver -fala Mônica.

- Vamos no andar de cima dar uma olhada.

Eles sobem.

- Aqui está mais conservado - diz Mônica. - Não mexeram muito por aqui.

- Parece que esta casa é só pra guardar ferramentas.

 Ricardo adentra mais pelo corredor:

-Hmmm, você não adivinha o que eu encontrei aqui.

- O quê?

- Um quarto... e bem arrumadinho - ricardo abraça mônica. -Já que estamos por aqui, por que nós não...?

- Já entendi.

- Os dois começam a se beijar e entram no quarto.

 Marcos e Daniel chegam a sala de monitoração.

-  A câmera do portão realmente foi destruída - diz Marcos.

- E nenhum sinal do Marcelo? - pergunta Ana.

- Nada.

- Eu estive observando os monitores e você não colocou muitas câmeras do lado de fora da mansão.

- Eu coloquei mais câmeras dentro da mansão já que a agitação vai se concentrar aqui dentro. Achei melhor, mas também pensei em colocar mais câmeras do lado de fora nas próximas duas semanas. Onde estão os outros?

- Você já deve imaginar o que estão fazendo.

- É, eles não perdem tempo.

- Senhor, - diz Daniel - acho melhor eu dar uma olhada por aí pra ver se encontro o Marcelo e saber como estão as coisas.

- Não - diz marcos. - Prefiro que você fique aqui monitorando as câmeras. Ana e eu vamos dar uma olhada por aí.

Ricardo e Mônica transam até o seu auge do prazer.

-Hmmm... foi muito bom - diz Mônica.

Ricardo levanta, veste sua calça, senta na cama, pega uma caixa de fósforo do bolso, acende um cigarro e diz:

- Acho que devemos voltar. Os outros já devem estar sentindo nossa falta.

Mônica passa a mão nas costas de Ricardo e diz:

- Ora, eles devem imaginar o que estamos fazendo.

Ricardo dá uma leve risada. Mônica se levanta e se veste.

- Antes de nos voltarmos, vou no banheiro - diz Mônica.

Enquanto isso, Scheila e Beto conversam. Ele diz:

- Sabe, eu achei que seria chato vir aqui, mas conhecer você, modificou tudo.

- Eu vim não com a intenção de me envolver com alguém, mas se rolasse... por mim tudo bem.

Eles se beijam e não percebem que é Catarina, a mulher de cabelos cinzentos que os observa.

Mônica sai do banheiro e começa a se olhar em um espelho de corpo inteiro. Ela passa as mãos no cabelo, os levanta e diz:

- Nada mau, garota!

Ela vê no espelho o reflexo de uma picareta atrás dela, arregala os olhos, mas, antes que consiga se virar, a ponta fina dessa picareta é enterrada em sua nuca. O golpe empurra seu corpo pra frente e seu rosto se choca no espelho que racha.

Ricardo ouve o barulho e chama por Mônica. Antes que ele saía do quarto, as luzes da casa do zelador são apagadas. Ricardo tenta sair do quarto e quase tropeça em uma lata. Ele pega sua caixa de fósforos e acende um tentando iluminar um pouco o ambiente. Ele chama por mônica, sem nenhuma resposta. Ele avança, o fogo no palito queima seus dedos e, de repente, a luz de uma lanterna é acesa a sua frente.

- Quem está aí? - pergunta Ricardo. - É você, Mônica? - Ricardo avança - Por que não me responde?

Ele tropeça e cai para a frente.

- Droga! O que é isso? - pergunta Ricardo.

A lanterna é posta no chão iluminando Ricardo e o que o fez tropeçar. Ele olha para trás e vê que tropeçou no corpo de Mônica, que está com a picareta fincada na nuca.

- Não! - grita ricardo.

Uma pessoa se aproxima dele. Ele olha e vê o motoqueiro levantando um machado. O golpe corta a cabeça de Ricardo.

Scheila e Beto estão sentados recostados em uma árvore. Scheila está quase dormindo com a cabeça pousada sobre o peito de Beto. O grito abafado de Ricardo é ouvido ao mesmo tempo em que um pingo de chuva cai sobre o rosto de Scheila.

- Acordou? - pergunta Beto.

- Eu estava quase cochilando. Está começando a chover?

- Está.

- Você ouviu alguma coisa ou eu estava sonhando?

- Ouvi sim, mas não tenho certeza do que era. Vamos, vamos voltar pra mansão.

Catarina, que observa o casal, ao vê-los se levantarem, dá um passo para trás e pisa em um galho seco. O que chama a atenção de Scheila e Beto.

- Ouviu, Beto?

- Ouvi. Tem alguém aí?

Catarina esconde-se atrás de uma árvore.

- Ah, não deve ser nada, vamos voltar - fala Beto.

O casal vai embora sem notar a presença de Catarina.

Enquanto isso, Marcos e Ana chegam a casa do zelador. Marcos liga o interruptor que não acende a luz.

- Estranho! Por que a luz não acende? - se pergunta Marcos.

- Acho que tem alguma coisa estranha acontecendo por aqui, Marcos - diz Ana. - Parecia um grito aquilo que ouvimos quando nos aproximávamos da casa.

- Vamos ver a caixa de força. É por aqui.

Daniel, o segurança, que monitora as câmeras, vê o motoqueiro entrando na mansão por uma das portas laterais. Daniel se levanta e sai da sala de monitoração.

- Está ficando frio e a chuva está se tornando mais forte - diz Scheila.

- Vem pra cá que eu te aqueço - Beto puxa Scheila para perto de seu corpo e a envolve em seu braço. Eles entram na mansão pela entrada da cozinha.

- Onde será que estão os outros? pergunta Scheila.

- Já está bem tarde, devem estar em seus quartos.

- Esse pessoal? Eu acho que não - diz Scheila rindo.

O motoqueiro anda pelos corredores da mansão quando é surpreendido, pelas costas , por Daniel:

- Ei, quem é você? O que está fazendo andando por aí? Por acaso é um dos convidados do seu Marcos?

A distância entre os dois é de, pelo menos, quatro metros. O motoqueiro corre para o corredor a sua esquerda. Daniel vai atrás dele, ouvindo as portas dos quartos sendo batidas. Quando chega ao corredor em que o motoqueiro entrou, não o encontra. Só a parte onde

Daniel está tem luz, mais da metade do corredor está com as luzes apagadas. Ele avança para um dos dois quartos que tem nesse corredor. Abre devagar a porta do primeiro, liga o interruptor, olha com calma e não vê ninguém. O segurança vai até o segundo quarto. O interruptor desta parte do corredor está no fim dele, logo depois do próximo quarto. Daniel está encoberto pela escuridão. Abre a porta do segundo quarto, acende a luz e olha para dentro, uma sombra vai tomando forma na parede do corredor atrás de Daniel, que está iluminada pela luz do quarto. Esse vulto avança em direção a Daniel silenciosa e furtivamente. O segurança está com a mão esquerda no batente da porta do quarto, enquanto seu corpo está dentro. O motoqueiro surge e, rapidamente, tapa a boca de Daniel com uma das mãos, puxa uma faca e dá um golpe na mão do segurança. A faca atravessa a mão dele que fica fincada na parede. O motoqueiro pega sua faca de caça que está embaixo de sua jaqueta de couro preta e começa a cortar a garganta do segurança. Ele não tem chance nem de gritar.

Scheila e Beto chegam a pista de dança. Scheila diz:

- Está tudo tão quieto.

- Você que disse que seria o contrário.

- Me enganei. Já devem estar todos em seus quartos.

- Por falar em quarto, qual é o seu?

- Hmmm.... espertinho! Acha que já passo a noite logo no primeiro dia que conheço o cara?

- Hmmm... sabe que eu espero que sim.

- Pois se enganou. Você não disse que ia falar alguma coisa com o Marcos?

- É verdade. Preciso acertar algumas coisas com ele sobre uns problemas na mansão, ainda esta noite, mas é só falar. As coisas, eu farei amanhã, então...

- Desista, Beto, é sério. Eu preciso te conhecer mais.

- Está bem. eu entendo e não vou forçar nada. Vou  procurar o Marcos.

- Eu vou voltar pra cozinha. De repente bateu uma fominha.

Os dois se beijam e Beto sobe as escadas para a galeria que, também, leva para os quartos e Scheila se dirige para a cozinha.

Na casa do zelador, depois de uma rápida busca em separado, Marcos e Ana se encontram exatamente no ponto em que Mônica e Ricardo foram assassinados. Ana diz:

- Não encontrei ninguém.

Marcos está examinando alguma coisa no chão e Ana pergunta:

- O que foi? O que é isso?

- Quero estar enganado, mas isso parece sangue.

- Sangue? Não, você deve estar enganado.

- Quem dera eu estivesse, e há sangue também neste espelho, que está rachado e não estava antes.

- O que você está pensando em fazer?

- Quero falar com o pessoal, saber se está tudo bem. Vamos voltar para a mansão.

Na mansão, Beto vai batendo na porta de cada um dos quartos procurando Marcos, mas só os encontra vazios e se pergunta: "Onde estão todos?"

De repente, ele ouve um barulho vindo da sala de monitoração, o motoqueiro está quebrando os monitores um por um com uma machadinha. Beto corre para lá, entra devagar e vê todos os monitores quebrados.

- Mais que diabos!? Quem fez isso?

A porta por trás de Beto vai se fechando devagar. O motoqueiro está atrás dela. Ele avança em direção a Beto. Ouvindo os passos, Beto se vira e, rapidamente, a machadinha é cravada entre seus olhos.

Scheila termina seu lanche e vai em direção a galeria. Para chegar lá, é preciso passar pela pista de dança. O silêncio é total, que até Scheila acha estranho, mas, Catarina esta escondida no local, observando. Súbito, as luzes da pista são acesas, o que provoca um grande susto em Scheila.

- Quem está aí? - Scheila pergunta, mas não obtém resposta.

Ela gira o corpo em torno de si mesma, olhando para cada lado, tentando encontrar alguém. Ela para.

- Osvaldo, é você? - ninguém responde. - Que brincadeira é essa?

Sem que ela perceba, o motoqueiro já está atrás dela com a faca de caça na mão. Ele dá um passo, Scheila se vira, ele agarra o pescoço dela e enfia a faca em seu peito. Scheila só pode observar o reflexo de seu rosto na viseira espelhada do capacete do motoqueiro, enquanto ele a corta, do coração até o ventre. Catarina fica espantada e sai tentando não ser ouvida.

- Será que o Marcelo saiu e levou o controle remoto do portão? - pergunta Ana a Marcos, enquanto regressam para a mansão.

-Não, eu não posso acreditar nisso. Marcelo sempre trabalhou direito, é de confiança. Por que faria isso?

Do outro lado, vem Catarina, correndo, esbarrando em Marcos, quase o derrubando.

- Catarina, o que você tá fazendo aqui? - pergunta Marcos.

- Eu avisei a você, avisei a todos que este lugar é amaldiçoado. Ele veio de novo cobrar a dívida de sangue.

- Como entrou aqui?

- O seu amigo abriu o portão com o controle e ele foi pego. Enquanto o vingador escondia o corpo e sua moto, entrei sem ser vista, pois sabia que seria esta a noite da vingança.

- Você viu o Marcelo? Onde ele está, sua doida?

- Está junto com os outros que tiveram o mesmo destino - Catarina corre por entre as árvores.

- Vamos, Ana. Essa doida sabe de alguma coisa e vou fazê-la abrir o bico.

Sem perceberem, durante o esbarrão entre Catarina e Marcos, o celular dele caiu do bolso de sua camisa no chão.  

Marcos e Ana seguem Catarina até o fim do terreno que compreende a propriedade, quando chegam se espantam.

- Aí estão seus amigos - diz Catarina.

Os corpos de Mônica, Ricardo, Marcelo e Osvaldo estão jogados a beira do muro.

- Meu Deus do céu! - exclama Ana. - Estão todos mortos.

- O que aconteceu aqui, Catarina? - pergunta Marcos, agarrando com força o braço de Catarina.

- É a vingança. Este lugar não era para ser reaberto. Eu avisei.

- Pare de dizer bobagens. Eu vou chamar a polícia - Marcos leva a mão ao bolso da camisa procurando seu celular. - Meu celular?!

- O que foi? - pergunta Ana.

- Acho que o perdi. E o seu?

Ana procura em seus bolsos e não encontra seu celular.

- Não está comigo. Acho que deixei na outra jaqueta.

- Eu não estou vendo Scheila e Beto. Podem ainda estar vivos.

- Eles estão condenados, isso sim - diz Catarina.

- Você vai contar tudo que sabe, sua bruxa. Vamos voltar para a mansão - fala Marcos.

- Não - Catarina chuta a genitália de Marcos que a solta e ela corre.

- Marcos, você está bem? - pergunta Ana.

- Não, mas vou me recuperar.

Assim que Marcos se recompõe, a dupla vai até a mansão. Marcos vai na frente segurando a mão de Ana. Ao abrir a porta, o motoqueiro já está a espera com um tesourão de jardinagem e enfia as pontas no abdômen de Marcos, que cai imediatamente. Ana grita. O motoqueiro se vira para ela. Ela tenta ir para um lado, para outro, mas o assassino a impede se colocando em sua frente. Marcos pula sobre o motoqueiro e o derruba, o controle remoto do portão cai do bolso da  jaqueta do motoqueiro. Marcos tenta pegar o controle, mas, quando coloca sua mão sobre ele, o motoqueiro perfura a mão de Marcos com uma das pontas do tesourão. O golpe é tão forte que destrói o controle. Marcos diz:

- Ana, corra, chame a polícia.

- Eu não vou deixar você - Ana vê um galho de árvore jogado adiante e vai buscar. O motoqueiro pisa no braço de Marcos, puxa o tesourão e se ajoelha sobre o corpo dele. Ana vem e desfere um golpe contra o motoqueiro que se defende com o tesourão. O pequeno galho se quebra. Ana, mesmo assim, tenta ajudar Marcos, mas é rechaçada com um golpe que corta seu braço e ela cai. O motoqueiro abre o tesourão no pescoço de Marcos e o fecha, sua garganta é cortada. Ana se desespera e corre para dentro da mansão. O motoqueiro se levanta, joga o tesourão no chão com força e vai atrás de Ana. Ela atravessa a pista de dança e chega na escada que leva a galeria. Ana olha para trás e vê o motoqueiro do outro lado da pista e também vê Catarina atrás da mesa do bar assustada, Ana diz:

- Catarina, por favor, procure ajuda, chame a polícia.

Catarina olha para o motoqueiro e para Ana. Ela está com medo. O motoqueiro se volta para Catarina, sua faca de caça a mão. Como estão a uma distância razoável, Catarina vai , lentamente, dando passos para trás e, então, corre para a porta que leva para fora da mansão.  

- Catarina!!!! - grita Ana.

O motoqueiro volta a perseguir Ana. Catarina anda entre as árvores que ficam ao redor da mansão, sempre olhando para trás e dizendo:

- Ela é a última. Todos se foram. Eu sou testemunha. Eu vi. Este lugar é amaldiçoado. Eu avisei, mas não quiseram me ouvir.

Quando Catarina percebe o vulto de alguém a sua frente, acaba caindo no chão. Ela olha para frente e duas sombras cobrem seu corpo. Ela, bastante assustada, pergunta:

- Quem são vocês? Eu não os vi antes. Por favor, não façam isso.

Catarina tenta se levantar se dirigindo de volta a mansão e, então, uma faca é fincada em suas costas.

Ana corre para a sala de segurança. Quando chega, vê todos os monitores quebrados. Alguém está sentado na cadeira em frente dos monitores. Ana vira a cadeira chamando o nome de Daniel e ela o vê com a garganta cortada. A garota grita, leva as mãos a boca, ela sabe que seu grito irá orientar o motoqueiro a encontrar sua localização. Ana tenta usar o telefone fixo, mas está mudo. Com certeza, ela pensa, o assassino cortou o cabo principal da linha de telefone. Ana aciona o botão que abre o portão principal e sai da sala devagar, olhando para os dois lados do corredor e vai para seu quarto. A única chance, agora, é achar seu celular. Ao entrar, pega sua mochila e derruba tudo o que tem dentro sobre a cama. Começa a revirar com força suas coisas a procura de seu celular. Com a força que usa para remexer as coisas, seu celular é jogado  pra fora da cama de casal, caindo no chão. Ana se abaixa para pegá-lo, mas ouve passos apressados e, antes de alcançá-lo, é obrigada a se esconder debaixo da cama. O motoqueiro entra no quarto e começa a observá-lo cuidadosamente procurando qualquer sinal de Ana. Ele também remexe as coisas de Ana que estão sobre a cama, para e vai olhar o guarda-roupa que fica do outro lado da cama. Ele o abre. Ana vê seu celular no chão e nota que essa é a chance de pegá-lo. A garota arrasta-se lentamente olhando as botas do motoqueiro, que está atrás dela, intercalando em olhar para seu celular, que está a sua frente. Perto de alcança-lo, Ana não vê mais os pés do motoqueiro, olha para frente e vê o celular ser estilhaçado pela faca de caça. Ana se encolhe debaixo da cama. O motoqueiro pula para o outro lado da cama e tenta esfaquear Ana que vai para o outro lado. Novamente o motoqueiro pula para o lado em que Ana está encolhida e ela volta para o outro lado. Cheio de raiva, o motoqueiro ergue a cama e Ana aproveita para fugir. Ela corre e o motoqueiro vai atrás dela. A garota desce as escadas e desesperadamente pula sobre o balcão do bar caindo atrás dele, exatamente em cima dos corpos de Scheila e Beto. Ana grita e se levanta. Não vê o motoqueiro. Ela vai, de costas, para a porta principal da mansão, assustada, olhando para todos os lados, abre a porta e sai. Começa a correr e, subitamente, Catarina surge do nada e cai em seus braços.

- Catarina?

- Eu me enganei. A maldição é muito maior. Tome cuidado, não é apenas um.

Catarina morre com uma faca cravada em suas costas. Ana corre para o portão principal e, de repente, detrás de uma árvore, uma jovem mulher surge vestindo um suéter branco com listras azuis e uma saia comprida. Ana se assusta, a mulher fala:

- Não se assuste, garota. Eu sou amiga de Marcos. Meu nome é Paula. O portão estava aberto e entrei. Como sabia que Marcos estava dando uma festa, vim falar com ele.

Ana não sabe como reagir e demonstra surpresa. Paula pergunta:

- O que foi? Por que está tão assustada? O que aconteceu? Onde está o Marcos?

- Está morto - responde Ana chorando. - Todos estão mortos.

- Como assim? Vamos, você não parece nada bem. Me diga com calma o que está acontecendo - Paula pega a mão da jovem puxando para o lado da mansão. Ana diz:

- Não! Aí não, por favor.

- Calma, não vai acontecer nada, mas preciso saber o que está havendo.  

As duas se deparam com o corpo de Catarina e Paula demonstra surpresa. Ana encosta em uma árvore e chora. Paula diz:

- Isso tinha que acontecer. Eu avisei Marcos para não seguir com isso, mas, ele não me ouviu. Este lugar jamais deveria ser reaberto. Este lugar é maldito.

- Como assim? - pergunta Ana.

- Vamos sair daqui.

Ana vê o celular de Marcos que havia caído do bolso de sua camisa e o pega sem que Paula perceba e começa a segui-la pela propriedade. Paula diz:

- Você sabia que há quinze anos, uma empregada que trabalhava neste antro, sofreu uma tentativa de estupro por um dos clientes bêbados deste prostíbulo? Ela reagiu e acabou sendo morta com dois tiros pelo miserável.

Paula e Ana param de andar quando se aproximam de uma coisa coberta com uma lona preta encostada em uma árvore. Os olhos de Paula começam a lacrimejar:

- Ela tinha uma filha de quinze anos, sabe, a coitadinha sofria bullying na escola. Nunca foi bem aceita aonde ia. Isso já criou um trauma em sua cabeça e depois da morte da mãe, a mente dela se estilhaçou - Paula esfrega os dedos no rosto para enxugar as lágrimas e continua a falar. - O prostíbulo, em menos de uma semana, abriu suas funções novamente, as piranhas do lugar não deram atenção ao que aconteceu.

- Eu conheço essa história - diz Ana.

- Pois é. Acho que todos conhecem. A menina caiu em um completo abismo quando descobriu que o próprio pai frequentava esse lugar. Em menos de 15 dias do funeral da esposa, ele já estava aqui se divertindo. Não se importava com a esposa e nem com a filha. Numa noite, deixou a coitadinha sofrendo em casa sozinha enquanto ele ia pra esbórnia. Nessa noite, a adolescente se descontrolou e foi atrás do pai. Um carro entrava na mansão e a menina se abaixou e, encostada na porta do automóvel, o seguiu e conseguiu entrar na mansão, onde se escondeu entre as árvores.

- Como sabe disso? - pergunta Ana. Paula continua:

- A garota entrou na mansão e ficou observando a movimentação do lugar. Andou pelos corredores de cima da casa quando ouviu uma voz conhecida, era seu pai, ele estava com uma prostituta. Tinham acabado de terminar o ato e começaram a rir porque o prostíbulo não esperou nem uma semana para reabrir. Depois da morte da mãe da garota, o pai dela também se gabava por já estar aqui e também pela sua performance com a garota. Aquilo deixou a menina cheia de ódio. Começou uma forte tempestade. A prostituta resolveu tomar banho e a menina se escondeu no banheiro. Entrou na banheira, coberta pela cortina, ficou encolhida. Quando a prostituta entrou, houve uma queda de energia. A garota de programa que, estava de frente para a banheira, se virou para a porta e, quando se voltou para a banheira, abriu a cortina, a menina encolhida ficou de pé e enfiou uma faca na boca da prostituta. A ponta da faca saiu pela nuca.

Ana começa a se mostrar mais desesperada e deixa seu corpo, que está encostado em uma árvore, escorregar até o chão onde cai sentada e pergunta:

- Quem é você? Como sabe tudo isso?

- A garota foi até o quarto onde estava o pai que, quando a viu, ficou surpreso, e começaram a discutir:

- O que você está fazendo aqui? - perguntou ele e ela respondeu:

- O que eu estou fazendo aqui? O que você está fazendo aqui? Não tem nenhum respeito pela memória da minha mãe. Olha que cena ridícula, está tão nervoso que nem consegue vestir as calças.

- Como entrou aqui?

- Você nunca se importou com ela e nem comigo. Você é um bastardo ingrato.

- Veja como fala com seu pai, menina.

- Esse antro levou a vida da minha mãe e você não está nem aí, em menos de 15 dias veio aqui se "divertir". Você não tem coração? Meu Deus, que tipo de pai eu fui ter?

- Cala a boca! Cala a boca! Você vai chamar a atenção de todo mundo aqui - Paula acrescenta:

- A Menina gritou desesperada "Não me importa", mas estava uma chuva muito forte e ninguém os ouvia. O pai dela falava:

- Olha, Paula, vamos pra casa. Você está descontrolada demais. Não podemos conversar aqui.

- Ele tentou ser gentil, falou manso e pegou os braços dela. Ela se desvencilhou gritando de novo:

- Eu não quero ir, não quero ir pra casa. Você não sabe o significado de um lar.

- O pai dizia: "Que loucura! Isso é uma loucura!"  - Ele se aproximou da janela com vitro quadriculado ainda tentando vestir suas calças. Paula, vendo aquela cena ridícula e cheia de raiva, nojo e desprezo pelo pai, pegou um pequeno vaso com flores que estava na penteadeira e o quebrou na cabeça dele. Ele caiu tonto e a menina ergueu o corpo dele até a altura da janela e o jogou com todas as forças contra o vidro da janela, ela se abriu. A cabeça de João vicente, o pai dela,  ficou atravessada na janela e a menina prensou a garganta dele contra o vidro cortado. Seu sangue escorria ao chão e, Paula, com uma outra faca que carregava, cortou o pênis do pai, o símbolo de sua tentação, aquilo que ele se orgulhava para as garotas do lugar. João deixava a cabeça de baixo pensar mais do que a cabeça de cima e essa cabeça o fez trair sua mãe. Paula enfiou esse pênis na boca dele e fugiu rapidamente da mansão. A cidade inteira sentiu pena da menina e sua avô materna a levou para morar com ela na capital. Paula fez tratamento com psiquiatras, fez terapias, mas demorou para fazer algum efeito pois ela não poderia contar de forma alguma o que fez. Quando soube que a mansão Reinhart seria usada novamente para a mesma atividade, a menina apagou e uma outra tomou seu lugar. Uma Paula que veio a cidade de Diarubi, e iniciou um incêndio na mansão antes que ela fosse habitada, voltou para a capital e reassumiu sua vida. Depois de quatro anos de tratamento, ela sentia-se um pouco melhor e arriscou voltar a vida em sociedade, voltou a estudar e conheceu um rapaz, tão gentil, tão inteligente. Um rapaz que conseguiu derrubar o muro que Paula havia construído em seu coração. Eles passaram um ano juntos. Paula ficou grávida de um casal de gêmeos. Parecia que, finalmente, a vida seria boa para a jovem, mas a fatalidade interviu de novo. Aquele que já era noivo de Paula, morreu em um acidente de carro. Aquilo foi um choque que fez a mente de Paula ser envolvida por uma densa escuridão. Vivia só para seus filhos, mas completamente fechada. Abandonou os estudos e passou a trabalhar como garçonete, enquanto a tia cuidava das crianças. Ela suportava o trabalho porque tinha que sustentar as crianças. Não tinha gosto pela própria vida, se tornou novamente uma pessoa fria e, por algumas vezes, esse temperamento quase lhe custava o emprego. Ela contava histórias de terror para seus filhos sempre que iam dormir, da infância a adolescência. Paula também contava a própria história de sofrimento, sua vida, quase todas as noites repetia a história, parecia uma oração. No começo, as crianças não entendiam, conforme cresciam começavam a entender o sofrimento da mãe e aquelas histórias de terror, que faziam tão bem a Paula, conquistavam as crianças. Elas desenvolveram uma frieza tão grande quanto a da sua mãe. A tia de Paula a reprovava de contar isso as crianças. Quando os gêmeos alcançaram a idade de oito anos, Paula se mudou da casa da tia e alugou uma quitinete. Trabalhava, mas não havia perigo em deixar os filhos sozinhos, eles, incrivelmente, já sabiam o que fazer, sabiam se cuidar. Não saiam de casa, apenas com a mãe, não tinham contato com outras crianças. Quando a mãe saía, não precisava trancá-las, as crianças obedeciam a ordem de não saírem. Os três criaram uma conexão bem forte e para onde ela vai, leva seus filhos que lhe são fiéis como um seguidor a um Deus. Hoje, elas tem 10 anos.

Ana escuta tudo com atenção e a mulher continua:

- A garota sempre esteve atenta as notícias da cidade de Diarubi. Quando soube que Marcos Andreassa iria reabrir a mansão como uma boate, se dirigiu logo pra cá. Sabe por quê?

- Não - responde Ana.

- Este lugar não pode existir. Este lugar é imundo. A ideia de Andreassa é maluca. Este lugar matou a mãe da menina, corrompeu o pai dela, destruiu a vida da coitada e destruiu muitas outras.

Paula respira fundo e diz:

- Ah! Desabafei! Eu precisava disso. Agora, vamos.

- Vamos o quê? - Ana pergunta amedrontada.

Paula dá um sorriso diabólico, rasga a saia, mostrando que, por baixo, usa uma calça jeans azul e botas. Ana se abraça a árvore em que está encostada e começa a dizer: "Não! Não!". Agora, Paula levanta a lona que revela cobrir sua moto com sua jaqueta e capacete em cima.

- Eu sabia, eu sabia - Ana se levanta. - Você é a filha da empregada morta, você matou seu pai há quinze anos e agora matou todos os meus amigos.

- Isso mesmo, minha criança e você é a última. Depois disso, este lugar será abandonado para sempre.

Ana corre. Paula veste sua jaqueta e pega a faca de caça que estava na bainha, presa a cintura de sua calça e vai atrás da garota, a última sobrevivente desta noite de terror. Em seu desespero, Ana corre tropeçando, até que cai sobre o corpo de Catarina.

- Oh, meu Deus! - Ana exclama e pega a faca que está nas costas de Catarina. Ela mal acredita que está fazendo isto.

Corre para a entrada da propriedade, o portão principal foi aberto por ela na sala de monitoração, mas, Paula já está esperando em frente a esperança de Ana, que seria a saída. Um relâmpago e logo um trovão se faz ouvir. A chuva cai forte e Paula grita:

- Não tem pra onde fugir. Se quiser passar, terá que ser por cima de mim. Ana tem medo e corre em direção contrária até a casa do zelador. A porta não tem chave para ser trancada. Ela sobe a escada para o andar de cima e entra em um cômodo, fecha a porta, mas não acende a luz para não ser encontrada e usa o celular de Marcos pra ligar para a delegacia de Diarubi. Um policial atende:

- Delegacia de polícia.

- Me escutem, por favor. Meu nome é Ana. Eu estou na mansão Reinhart. Tem uma mulher louca aqui. Ela já matou todo mundo e eu sou a única sobrevivente.

- Calma, moça. Conte com calma o que está acontecendo.

- Calma!? Calma!? Eu estou escondida na casa do zelador e essa mulher está procurando por mim armada com uma faca enorme.

- Está bem. Uma viatura vai até aí. Logo chegaremos.

O policial desliga o telefone e outro policial pergunta:

- Problemas?

- Parece que é a mansão Reinhart de novo.

- Credo! Esse lugar é mesmo maldito!  

Ana coloca móveis, caixas na frente da porta para impedir a entrada de Paula. A garota ajoelha-se e começa a pensar em sua situação, em Marcos e uma dúvida surge em sua mente: "Na penúltima vez que vi Catarina, foi na mansão e ela correu para fora e Paula veio atrás de mim. Saí da mansão e me deparei com Catarina morrendo com esta faca que estou segurando. Ela disse coisas sem sentido como a maldição é muito maior do que ela pensava. Não é apenas um. O que isso significa?"

De repente, da estante que está atrás de Ana, vem um rato que passa por cima de seu ombro. Quando percebe, Ana grita, se levanta de forma atrapalhada e cai por cima das caixas e dos móveis que havia colocado na frente da porta. Todas essas coisas caem e Ana pode ouvir a voz de Paula:

- Já te achei.

Ana coloca a mão na boca e fica parada em silêncio, esperando não ser encontrada. Súbito, Paula empurra a porta com força derrubando o resto das coisas que caem sobre Ana que cai no chão. Paula está com um machado. Ana joga para o lado as coisas que estão sobre ela e Paula desfere um golpe com o machado. Ana esquiva rolando para o lado. O golpe é tão forte que o machado fica fincado no chão. Ana vai pra cima de Paula com a faca e lhe acerta um golpe vertical no toráx, entre os seios. Paula leva a mão ao local ferido e, então, pega sua faca de caça que está na cintura. Ana tenta anteceder o movimento de Paula e procura lhe acertar mais um golpe com a faca. Paula defende-se com sua faca, segurando o cabo com as duas mãos. Ana força também com as duas mãos. Paula coloca uma das mãos no rosto de Ana, o aperta e pressiona os olhos dela. Ana se ressente e Paula a chuta na altura do ventre. Ela cai atravessando a entrada da porta e batendo de costas contra a parede do corredor. Logo se recompõe e corre para a escada do final desse corredor, mas, ao chegar nela, Paula, que corria atrás de Ana, pula sobre ela e as duas descem a escada rolando. Quando as duas chegam ao chão, desnorteada, Ana perde a faca que cai distante. Olha para trás e vê Paula pulando sobre ela com a faca na tentativa de acertar sua cabeça. Ana rola e assim esquiva, chuta a faca de Paula que fica distante do alcance das duas. A jovem pula sobre Paula, mas, Paula é feroz e dá um soco no rosto de Ana que agarra os cabelos de Paula e bate a nuca dela contra o chão. Sem Ana perceber, Paula pega um canivete que está no bolso de sua calça e corta o braço de Ana que lhe solta os cabelos. Paula já emenda outro golpe no abdômen de Ana e com a lateral de seu punho direito, ela  desfere um forte golpe na cabeça da jovem que cai no chão. As duas estão cansadas, Ana bastante ferida, mas vê a sua única salvação a uma curta distância e se arrasta para a frente. Paula está um pouco tonta, balança a cabeça e se levanta pronta para atacar Ana novamente. Paula vê Ana deitada de bruços, gemendo, joga o canivete pra longe e pega a faca que estava com Ana. Então, aproxima-se dela, quer atravessar o pescoço da garota com a faca, quando Ana vira-se em direção a Paula. Ana se arrastou até a faca de caça de Paula e a escondeu debaixo de seu corpo. No momento em que Paula desfere o golpe mortal contra Ana, é Ana que sai em vantagem juntando todas as forças perfurando o corpo de Paula com a faca. Paula deixa cair a faca que segurava e coloca as mãos na faca que agora está dentro de si, ajoelha-se, estende o braço em direção a Ana e cerra o punho e, com uma expressão de ódio, dá seu último suspiro e cai sobre o chão.  

Ana respira fundo, o corte no abdômen a faz perder muito sangue. Ela se levanta e vai andando devagar para a porta que leva para fora da casa do zelador. Ela sai da casa, continua chovendo. Súbito, um golpe de foice acerta a parede do lado esquerdo onde Ana está. É uma menina que aparenta ter uns 10 anos de idade. Ela segura uma foice com um cabo. Sem Ana perceber, outra pessoa se aproxima dela e desfere um golpe de faca em seu braço. É um garoto que aparenta ter a mesma idade da menina, agora, Ana entende o que disse Catarina: "Não era um só". Ana corre, tropeçando, caindo, o casal de crianças a segue andando. Ana já esta quase sem forças. Chega a ouvir a sirene da viatura da polícia e tenta chegar até a porta principal. Sua visão está embaçada, Ana olha para trás e os garotos continuam atrás dela. Ela tropeça e vê o carro de polícia entrando pela porta principal da mansão. Olha novamente para trás e os jovens somem devagar como se nunca existissem, como se fossem uma ilusão. Ana olha novamente para a viatura da polícia e desmaia.

Ana acorda, uma enfermeira está de pé ao seu lado, fazendo anotações em seu prontuário.

- Onde estou? - pergunta Ana.

- Ah! Você acordou. Só um minuto.

A enfermeira vai até a porta do quarto e chama o médico, que está no corredor, dizendo que Ana acordou. Entram no quarto o médico e um delegado. O médico pergunta:

- Olá, Ana. Sou o médico José Ricardo e este é o delegado Moíses. Como se sente? Está bem?

- Eu estou bem. Então, eu estou em um hospital.

- Enfermeira, avise os pais de Ana que ela acordou e que eles podem vir até o quarto.

- Ana, o que aconteceu na mansão? - pergunta o delegado.

- Aquela mulher... Paula matou todo mundo - Ana começa a chorar.

- Tenha calma - diz o médico. - Tenha paciência, delegado, ela acabou de acordar. Está se recuperando de um choque muito grande.

- E as crianças? - Ana pergunta

- Que crianças? - retruca o delegado

- Os filhos da Paula. Só podem ser filhos dela. Eles tinham um olhar tão frio.

- Não vimos crianças nenhuma, Ana.

- Então o que acontecerá com eles agora? Quem cuidará deles? Onde estiveram a maior parte do tempo? Será que tem alguma pes...

O delegado e o médico se olham achando que Ana está delirando. Enquanto isso, ela pensa na mansão e começa a chorar.

                                                                                                      FIM

Robert Phoenix
Enviado por Robert Phoenix em 09/03/2020
Reeditado em 12/03/2020
Código do texto: T6884369
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