EN(CANTADOS)MOMENTOS - terror/magia
 
'Quem nunca sentiu algum tipo de emoção ao ouvir uma música que toca ao coração, trazendo memórias afetivas, gostosas, febris ou até doloridas, mas, com Iolanda não era assim. Suas melodias preferidas eram a marcha fúnebre, a cantilena doída das carpideiras, o soturno suspiro do luto, emolduradas de sofrimento' 


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Cada morte que aconteceu naquela cidadezinha, tinha a marca das suas digitais, sem pistas ou rastros que pudessem fazer a culpa chegar até ela, uma mocinha doce, bondosa que vivia cantando, adorável criatura.

Primeiro foi o velho e cordial Padre Severo, que depois de passar boa parte da missa pedindo para que os fiéis silenciassem durante a celebração, seu corpo foi encontrado gélido e coberto de perfumadas flores atrás da sacristia. Dona Maria Augusta, a dona da venda, deu sem querer o trôco errado para a mãe de Iolanda, fazendo com quê a menina retornasse para buscar a diferenca, seu corpo rotundo foi encontrado na manhã seguinte, inflado e frio coberto de pétalas de rosas brancas, atrás do balcão da venda. Na escolinha primária a Tia Fernanda não concedeu a nota máxima em um dos trabalhos da doce Iolanda, seu corpo foi encontrado ao lado dos seus livros caídos dos braços, atrás do muro da escola, lívido e gelado coberto de margaridas.

O velho Olavo vendedor de pipoca na praça. deu um saquinho de pipocas doces para Iolanda, mas, mesmo sendo um mimo, embora não tenha falado nada, ela achou que estava sem graça e na tarde do mesmo dia, o corpo magro dele com um sorriso bondoso nos lábios, foi encontrado frio ao lado do carrinho e coberto de flores. O pobre amiguinho Luiz, parceiro de travessuras, puxou os cabelos dela delicadamente, foi apenas uma simples brincadeira entre colegas, mas, a garota não gostou e seu corpo foi achado pela mãe Dona Esther, geladinho e retorcido, coberto de lírios alaranjados em sua própria cama à noite.

No final do mês de agosto, Iolanda desperta do sono angustiada, mas, seu cãozinho Bidu lambe seu rosto e ela espreguiça relaxada, fora apenas mais um de seus adoráveis sonhos mórbidos. Levanta da cama acompanhada de seu fiel escudeiro, vai até o banheiro, lava o rosto, escova os dentes, demora um pouquinho mais e segue em direção ao quarto ao lado, abre a porta, lança um beijo na direção da cama, onde está o corpo gélido e coberto de rosas vermelhas perfumadas de sua jovem e dedicada mãe Lúcia, depois segue cantarolando para a cozinha para alimentar seu cão e preparar o seu café. 




*Imagem - Fonte - Google
 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 23/09/2019
Reeditado em 27/09/2019
Código do texto: T6751987
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