SETE
 
Sete filhos, sete sinas,
uma história em ruínas esperando um sinal.
 
 
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Aila, Esther, Belle, Nanda, Norma, Cláudio, Leandro e Olavo o pai, família grande, mal parida, a mãe nos últimos filhos deu o suspiro final. Gestações estranhas, partos difíceis, sequentes e indesejados, mas, Olavo queria dez filhos, pouco se importava se Anna suportaria, precisava de filhos para o trabalho e ela só lhe dava meninas, até que enfim, vieram os gêmeos Cláudio e Leandro, mas, ela não suportou tanta dor e não pode ter os outros três filhos que Olavo desejava, teve que enterrá-la sem cerimônias no quintal.
 
O tempo passou, as crianças remelentas foram crescendo e ajudando desde cedo na labuta pesada no roçado, só que não recebiam carinho, apenas sovas e repressão, se tornaram crianças sem expectativas, brutas no comportamento e na adolescência foram tomando seus rumos. Aila fugiu prenha de um antigo sacristão e foi tirada das preces do padre da cidade, Esther se tornou uma beata tão insuportável que ninguém a queria por perto, definhou de solidão, Belle extremamente atrevida, tinha mais digitais de homens pelo corpo do que os arquivos da delegacia e não escondia de ninguém, o seu ganha-pão. Nanda era a doçura em pessoa, mas, molenga que só, era a que mais sentia falta da mãe, um dia plantou uma rosa vermelha sobre a cova dela e rezava para ela pedindo para sair daquela vida, ficava por lá muitas vezes, como que esperando um sinal. Norma era durona, boa de roça e se fosse um pouco mais forte, já teria matado o próprio pai, mas, ainda estava crescendo, quem sabe um dia...
 
Cláudio e Leandro, os caçulas, ‘meninos queridinhos do papai’, faziam trabalhos pesados, mas, eram recompensados com um amor meio bruto por parte do pai e todas as vontades, dentro do possível eram atendidas, para as meninas coça, para eles esbórnia e até comida mais farta, um naco a mais de carne, leite pela manhã e por aí vai...
 
Mais tempo correu na ampulheta e as meninas Norma e Belle se aliaram cansadas dos abusos e opressão do pai, combinadas passaram a colocar doses mínimas de veneno em tudo o que ele comia ou bebia, ele começou a passar muito mal, Cláudio e Leandro cansaram de chamar o médico que nada conseguia resolver. Nanda estava desconfiada, mas, no fundo estava cansada também de tudo aquilo, ele que se finasse, implorava um sinal para a sua rosa, mas, ele não vinha.
 
Leandro e Cláudio enterraram o pai poucas semanas depois, abandonaram as irmãs e ganharam a estrada, só não foram muito longe, pois se meteram em confusão num bar e foram esfaqueados numa pinguela próxima do lugar. Norma, Belle e Nanda, tomaram as rédeas da plantação e da casa e durante algum tempo, conseguiram viver em certa paz. Belle um dia acordou determiada, fez as trouxas e mudou de vez para o bordel na cidade. Norma poucos dias depois, pegou o único cavalo que tinham e ganhou a estrada queria conhecer mais do mundo, Nanda nunca mais teve notícias delas. Os dias  dela passavam vazios com orações para a rosa, mas, plantar para colher unicamente para o sustento não fazia Nanda feliz, não via sentido em sua vida. Numa noite especialmente fria, se vestiu à domingueira, roupa de missa, se deitou sobre a cova da mãe e segurando a haste da sua rosa fechou os olhos. Quando a madrugada chegou, a rosa estava negra e Nanda provavelmente já estava no céu ao lado da mãe...




*Imagem. Fonte - Google
*super.abril.com.br

 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 06/09/2019
Reeditado em 27/09/2019
Código do texto: T6738968
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