A NOITE DAS BONECAS DE PORCELANA

Vamos brincar de outra coisa Bia, isso é chato.

-Eu tenho uma ideia… Você vai amar.

Enquanto Clara e Bia brincavam no quarto, Andréia na sala de estar roía todas as unhas esperando apreensiva pelos policiais, e não era por menos dois dias atrás ela havia encontrado Dona Maria sua empregada morta, estirada no chão ao pé da escada.

-Clara, se eu te contar uma coisa errada que eu fiz, você promete não dizer a ninguém?

-Eu prometo Bia.

-Eu empurrei a Dona Maria da escada.

-Porque você fez isso.

-Ela foi má comigo, muito má.

-O que ela fez?

-Eu não quero falar sobre isso, me deixa triste. Vamos brincar.

-Andréia, como foi que você encontrou o corpo?

-Quando eu voltei do mercado ela já estava morta. Eu sou enfermeira, olhei o pulso, a respiração, tentei de tudo, mas ela já estava morta fazia tempo.

-A Senhora saberia de alguém que poderia querer machucar sua empregada?

-Claro que não, a Dona Maria era uma ótima pessoa. Ela sempre trabalhou na casa desde a época em que o pai do meu marido morava aqui. Ela cuidava do meu marido como um filho.

-Faz tempo que vocês moram aqui, Andréia?

-Não, recebemos a casa de herança há alguns anos, eu resolvi vir morar aqui depois que meu marido faleceu. Eu queria um recomeço em um lugar diferente.

-Eu entendo.

-Mãe, a Bia puxou meu cabelo com força.

-Porquê, querida?

-Eu não queria dividir o chocolate com ela.

-Clara, volte a brincar. Eu preciso conversar coisas de adulto com esses senhores.

-Desculpe, podemos continuar.

-Andréia eu posso te fazer uma pergunta? Como seu marido faleceu?

-Em um acidente de carro, dois anos atrás.

-No dia seguinte os policiais voltaram correndo para a casa, a menina Clara, filha da Andréia havia desaparecido de seu quarto durante a noite.

-Calma Andréia. Tente me contar tudo o que aconteceu. Cada detalhe é importante.

-Ela estava lá no quarto, eu só saí por um tempinho para ir a cozinha.

-Nós vamos achar sua filha, eu prometo.

Nós precisamos encontrar essa criança Olívia.

-Andréia, há poucos dias sua empregada foi encontrada morta aqui nessa casa, e agora sua filha desapareceu, pode haver alguma conexão. Então para sua segurança e da sua outra filha eu acho melhor vocês irem para um lugar seguro, mais perto da cidade até que tudo seja resolvido.

-Eu só tenho uma filha, e eu não vou sair daqui até achar ela.

-E a Bia, ela não é sua filha?

-Não, a Bia não existe, bem ela existe sim só que ela é uma boneca. Eu dei a Bia para a minha filha, e depois da morte do pai a Clara achou na Bia algum tipo de conforto, começou a tratar ela como se fosse uma pessoa de verdade, uma amiga. Eu falei com a psicóloga, mas como o comportamento da Clara melhorou muito depois dela começar a brincar com a boneca, achamos melhor deixá-la continuar, até ela decidir deixá-la de lado por conta própria.

-Senhor, checando alguns registros de crimes na região eu descobri que no mesmo bairro três outras crianças desapareceram entre 1971 e 1973. Todas meninas com o mesmo perfil da Maria Clara, idades entre 5 e 8 anos. Nenhum corpo foi encontrado. Todas as casas da vizinhança foram verificadas, mas nenhum sinal das meninas. O caso foi arquivado por falta de evidências.

As vítimas:

Marcela, 5 anos, 1971

Ana Beatriz, 8 anos, 1972

Vanessa Carolina, 7 anos, 1973

A única ligação entre as primeiras três vítimas é que todas estudavam na mesma escola, e moravam aqui no bairro. Alguns dos funcionários da escola que também moravam no mesmo bairro. Todos foram investigados, mas nenhum suspeito foi localizado.

-Será que o sequestrador voltou a ativa? Precisamos interrogar novamente todos os vizinhos que viviam aqui na época. Vamos começar pelos funcionários da escola. Eu também quero uma equipe vasculhando todas as casas daquela rua de cima a baixo.

-Bia me solta, eu quero sair daqui.

-Desculpa Clara, eu não posso te soltar, eu tenho medo.

-Bia, Bia, Bia?

-Andréia, onde fica o quarto onde sua filha desapareceu? Precisamos virar aquele lugar do avesso até achar uma pista de onde a Maria Clara pode estar.

O quarto está impecável, sem marcas, sem sinais de entrada forçada, janela travada por dentro. Não sei como é que uma criança poderia ser raptada daqui sem que a mãe visse.

-O Senhor acha que a mãe poderia ter alguma coisa a ver com sumiço da filha?

-Eu não sei Olívia. Precisamos continuar procurando. Quem quer que seja o culpado, ele deixou algum rastro em algum lugar, nós só não encontramos ainda.

-Enquanto buscava por evidências Olívia desastradamente derrubou a boneca Bia de cima da cômoda, quebrando a cabeça da boneca que era feita de porcelana.

-Olívia, eu presumo que você acabou de quebrar a Bia, melhor amiga da menina.

-Desculpe Senhor, eu não vi a boneca aí, tenho certeza que uma cola...

-Espera, espera aí. O que é isso?

-São ossos Senhor? Humanos?

-De uma criança. Eu quero um exame de DNA urgente. Compare com todos os desaparecidos, primeiro do bairro, depois da cidade. Eu quero isso rápido. E traga a mãe aqui em cima agora mesmo Olívia. Precisamos falar com ela.

Andréia, isso estava dentro da boneca que a sua filha brincava.

-Meu Deus, eu não sabia.

-Onde você comprou essa boneca?

-Já estava aqui na casa quando chegamos, meu sogro morava aqui, quando ele morreu meu marido recebeu a casa de herança, a boneca estava guardada nas coisas dele. Eu deixei a Clara ficar com ela.

-Senhor, os ossos encontrados dentro da boneca pertencem a vítima de 1973, Ana Beatriz Cândido de Santana, de 7 anos de idade. Ainda não determinamos a causa da morte. O que sabemos é que a vítima teve os membros amputados por algum tipo de serra.

-Eu quero cada centímetro dessa casa vasculhado. Também quero saber cada detalhe da vida do homem que morou aqui.

-Andréia, você conhecia bem o seu sogro?

-Não, ele morreu pouco tempo depois que eu me casei.

-Meu marido falava pouco sobre o pai, mas até onde eu sei, a relação entre eles não era boa. Ele tinha mais afinidade com a Dona Maria que com o próprio pai.

-Seu sogro era uma boa pessoa?

-Eu infelizmente não posso afirmar que sim, ele nunca se interessou de ver a neta, quando eu perguntava o porque, meu Marido simplesmente dizia que seu pai não era uma pessoal "de família".

-Maurício Ferreira Lima, morreu em 1994 de causas naturais, sem antecedentes criminais, a esposa morreu durante o parto, ele nunca mais se casou. Ele trabalhou na escola durante a época em que as três primeiras vítimas desapareceram, aqui consta que a casa dele foi revistada na época e não encontraram nada, também temos os depoimentos dele. Ele estava limpo e foi liberado.

-Obviamente ele não estava limpo. Alguém não fez seu trabalho direito e deixou um assassino de crianças solto para continuar fazendo o que ele quisesse fazer.

-Ao vasculhar a casa a polícia descobriu um pequeno cômodo escondido atrás de uma porta secreta. Lá encontraram mais 8 bonecas todas contendo ossadas humanas, duas delas eram das meninas desaparecidas na década de 70, e as outras ainda não foram identificadas. Os restos mortais de Maria Clara estavam em uma nona boneca ainda inacabada pelo assassino. Como Maurício, o avô a vítima comprovadamente já havia morrido há muitos anos a polícia começou a procurar por um cúmplice que poderia oter o ajudado nos crimes anteriores e seguiu com seu trabalho nefasto adiante, mas novamente nenhum suspeito foi localizado.

A polícia também encontrou um antigo diário onde Maurício descreveu detalhadamente como torturava suas vítimas por dias antes de as matar e as transformar em bonecas. No diário ele também relatou ter cometido canibalismo comendo a carne de todas elas. Devido ao forte teor do material a transcrição dos diários encontrados na casa foi omitida.

Uma lenda se formou ao redor da casa, moradores da região evitam passar pelo local, segundo eles Maurício ainda continua lá, e à noite se pode escutar os gritos e choro das crianças que ele torturou e matou. Maurício ficou conhecido na região como O COLECIONADOR DE BONECAS.

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Chico Alhandra
Enviado por Chico Alhandra em 03/09/2019
Reeditado em 04/09/2019
Código do texto: T6736419
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