I
Era uma espécie de confissão, não foi uma coisa inventada por alguém em estado alterado, não! Estas coisas aconteceram no centro em um prédio onde se alugava quartos, eu não falei nada para a polícia nem para os parentes das vítimas, uma coisa era certa ninguém poderia afirmar com certeza quem eram as verdadeiras vítimas.
Tudo acabou numa noite chuvosa de setembro, não era um desejo e sim uma vontade quase incontrolável e furiosa de tocar o terror.
Quantos áudio livros havia escutado não era da minha conta, no entanto eu não o vi sair o dia inteiro, com certeza estava escutando aquela literatura gótica espalhadora de sentimentos sombrios. Ele ficava horas escutando aquelas histórias, talvez para evitar de ouvir os sons que vinham do teto, sim! Barulhos vindo do apartamento de cima entravam pelos seus ouvidos e ecoavam pelo quarto, sala, banheiro, cozinha. Acredito que grande parte do descontrole e do nervosismo começou depois que aquelas duas mulheres alugaram o apartamento 405 seis meses antes.
Os sete infernos ecoavam do apartamento de cima, entretanto não eram barulhos comuns, ouvia-se grunhidos demoníacos e arrastar de todo tipo de coisas, batidas fortes, gargalhadas zombeteiras e conversas estridentes avançando até de madrugada… não sei quem eram aquelas duas figuras balzaquianas e sombrias que alugaram o local para seus encontros levianos furiosos e demoníacos.
Certa hora da noite periodicamente os horríveis sussurros e gritos começavam, e era semelhante a uma orgia horrenda e pavorosa de uns amaldiçoados felinos, talvez ninguém possa acreditar nos barulhos que certas pessoas possam fazer em seus encontros sinistros.
Eu sei que houve um certo exagero da polícia na noite em que invadiram o prédio e o levaram preso, afinal, ele mesmo poderia ter chamado a polícia, pois já vinha aturando aquilo por seis longos meses, desde que as cocotas se mudaram.
Não consigo esquecer da cena dele saindo algemado, pois meu quarto ficava em frente ao dele e eu vi quando passou no corredor sendo conduzido pelos três policiais. O rapaz mostrava um sorriso qualificador de satisfação misturado com um senso de dever cumprido, entretanto os cabelos despenteados e os olhos arregalados como de um lunático identificavam um certo surto de loucura, e escutei quando ele me olhou de soslaio sussurrando que havia acabado com aquelas malditas bruxas.
Ninguém pode me acusar de não ter tentado evitar que ele invadisse o quarto delas as duas horas da madrugada.
Foi tudo muito rápido, inclusive a chegada do socorro, o porteiro havia chamado os policiais, ele mesmo já sabia que uma hora ou outra aquilo iria acontecer. O porteiro inclusive advertiu as mulheres para se conterem durante as intimidades. As vezes em que ele via o rapaz sair sempre as duas da manhã, dando a desculpa de uma caminhada noturna para esfriar a cabeça. De algum modo o porteiro já percebia que alguma coisa havia mudado naquele rosto sonolento e perturbado.
Ele não era de sair muito dizia uma das moradoras do térreo, claro que havia queixas contra as duas moradoras do 405, e não foram poucas.
Eu conhecia muito pouco sobre o rapaz, apenas que o sobrenome dele era Fineggan, pois havia me mudado para o prédio a menos de um mês, apesar de excêntrico o jovem era educado e cumprimentava todos que encontrava.
E tudo acabou numa noite chuvosa de setembro.
De algum modo um surto psicótico fez Fineggan subir até o quarto andar apenas de cuecas, e munido de um bastão invadir o apartamento delas.
Eu posso entender o descontrole, afinal ele morava logo abaixo do apartamento alugado pelas mulheres, sendo forçado a escutar até altas horas os malditos barulhos durante o encontro delas.
Eu vi quando os bombeiros levaram os corpos das duas mulheres e ouvi um dos homens dizer o que aquele rapaz enlouquecido havia feito.
Fineggan havia matado as duas mulheres a pauladas!

Fim.