A herança do 13º Aniversário

João e Lucas cresceram juntos, eram melhores amigos, quase irmãos, inseparáveis. João era apenas 2 dias mais velho que Lucas e desde o aniversário de 8 anos em que compartilharam a mesma festa, os meninos sempre faziam uma única festa para comemorarem juntos.

O pai de João, Sr. José gostava de acampar e sempre levava João com ele, o menino adorava acampar com o pai, mas é claro que chegando a pré-adolescência, João já não gostava mais tanto assim, quando o Sr. José disse que em comemoração ao seu 13º aniversário o levaria para acampar em um lugar especial, João não quis ir, disse que faria uma festa junto com Lucas e alguns amigos, Sr. José tentou argumentar com o menino, que seria uma oportunidade de estreitar os laços entre pai e filho, mas João foi irredutível, então, Sr. José aceitou com hesitação que Lucas fosse acampar com eles.

Os meninos ficaram animados com a ideia de acamparem juntos, já fazia muito tempo que não faziam isso, mas teve uma condição, Sr. Leonel, pai de Lucas iria junto com eles para ajudar a cuidar dos meninos, Sr. José ficou muito irritado com João por ter aceitado que outra pessoa fosse na viagem, afinal de contas, deveria ser apenas os dois, pai e filho em um momento especial acampando.

Quando chegaram ao local, Sr. Leonel perguntou ao Sr. José se ele conhecia bem aquela mata, pois ele a achou muito isolada e fechada, Sr. José por sua vez, disse que já acampou outras vezes lá, que era um lugar especial para os homens da família e por isso queria levar João nesse local.

Após terem armado as barracas tiveram um ótimo dia na mata, ao anoitecer acenderam uma fogueira, pais e filhos se sentaram em frente ao fogo para comerem e contarem estórias de terror.

_Diziam, que nesta mata havia um estranho assassino que matava os campistas com seu grande facão, contava Sr. Leonel gesticulando exageradamente com um facão na mão.

_Nesta mesma mata, dizia Sr. José com um ar sinistro, houve várias mortes devido a Caçada Macabra.

Os meninos também contaram estórias sobre monstros, fantasmas e assassinos e todos riam no final de cada uma delas.

Era madrugada e todos foram dormir bem tarde, o vento assoviava entre as árvores e a luz da lua cheia iluminava o pequeno descampado em que as barracas foram montadas, João acordou sozinho na barraca, abriu uma pequena fresta para procurar seu pai, olhou ao redor mas não viu nada, apenas árvores escuras, voltou a deitar, então viu uma grande sombra próximo a sua barraca, deve ser uma estranha árvore, pensou, então a sombra agachou e saiu correndo rapidamente.

Lucas e seu pai dormiam profundamente quando escutaram o grito de João vindo da barraca ao lado, Sr. Leonel se levantou rapidamente e pediu à Lucas que ficasse lá enquanto ele iria verificar o que estava acontecendo. Sr. Leonel correu no escuro até a barraca de João, que lhe contou que não sabia onde seu pai estava e que viu um grande animal nas proximidades, Sr. Leonel levou João rapidamente até sua barraca onde Lucas o esperava.

Sr. Leonel tentou acalmar os meninos e a si mesmo, acendeu uma fogueira para afugentar qualquer animal e disse que procuraria o Sr. José, talvez ele saiu para se aliviar e se perdeu, pensou.

Após acender a fogueira e se acalmar um pouco, Sr. Leonel pegou uma lanterna e foi procurar Sr. José, enquanto os meninos ficaram ao redor da fogueira se esquentando enquanto esperavam.

Lucas e João se veem sozinhos no meio da mata escura e os contos de terror contados a poucas horas, que antes os divertiam agora os assustavam até a alma, monstros e fantasmas se materializavam nas sombras de cada árvore que eles viam, João, dois dias mais velho, tentou acalmar o amigo:

_ Logo seu pai volta com o meu e em breve iremos rir disso tudo. Lucas, olha o amigo, concorda com a cabeça, mas não diz nada e volta sua atenção ao fogo.

Passado um tempo, os meninos se assustam com rápidos passos vindos da mata próximo a eles, se levantam prontos para correr ou lutar, Lucas se agarra a João abraçando o amigo fortemente e berra quando algo surge por entre as árvores de repente:

_ Calma campeão, diz Sr. Leonel, tranquilizando Lucas, o Sr. não achou meu pai? pergunta João.

_ Ainda não, achei esse facão não muito longe daqui, talvez ele foi cortar algo e... Sr. Leonel, para no meio da frase ao ver a expressão de João.

_Não se preocupe, diz Sr. Leonel, vou procurá-lo novamente.

Os meninos estavam em frente ao Sr. Leonel e mesmo assim não viram quando uma criatura humanoide, esguia, coberta de pelos escuros com garras e presas afiadas cravou os dentes no pescoço do Sr. Leonel, ele ficou estático enquanto tinha seu pescoço dilacerado, os meninos ficaram olhando aquela cena sem reação, completamente assustados, de repente os olhos do monstro se voltaram para João, Sr. Leonel é descartado, sem vida, para o lado próximo a fogueira, João quase que hipnotizado de medo, caminha para trás lentamente enquanto o monstro caminha até ele, quando João bate suas costas em uma árvore próxima, não vê mais saída, Lucas com lágrimas nos olhos e coragem no coração, ataca o monstro com o facão que estava caído no chão, a facada é certeira e estranhamente afunda facilmente entre o pescoço e o ombro da criatura afundando próximo ao tórax, a criatura cai cambaleando no chão.

João corre até Lucas que veem a criatura se transforar no Sr. José, João se aproxima e vê que seu pai ainda está vivo, mas muito ferido, Sr. José fala para João em meio a golfadas de sangue bem lentamente:

_ Queria te contar sobre sua herança, como meu pai fez comigo, os homens de nossa família quando completam 13 anos passam pela transformação, Metamorfos, é a palavra que ele usou para descrever o que somos, mas somos mais que isso, as primeiras transformações são difíceis, você não tem controle, fica selvagem demais, sedento demais e por isso queria que fossemos só nós, queria te ajudar a...

Lucas dá outra facada interrompendo a conversa entre pai e filho, acabou disse ele.

Então João olha para os olhos assustados de Lucas, que começa a se posicionar com o facão ensanguentado nas mãos,

_ Para com isso João, diz Lucas quase chorando ao amigo, sem entender, João olha para suas mãos e vê garras onde deviam estar suas mãos, antes de perder sua humanidade João olha para Lucas e fala:

_Desculpa.