OS HOMENS SEM ROSTO QUE VIVEM NOS SONHOS DE ALICE

Desculpe pela demora Bella. Eu perdi a hora hoje. Essa semana eu dormi muito mal.

-Não se preocupe. Você tem insônia?

-Eu nunca tive problemas para dormir. É que estou muito estressada em casa com o problema dos meus pais se separando, você nem imagina quantas brigas eu tenho que apartar a toda hora. Só venho conseguindo dormir umas poucas horas por dia, quando e pego no sono tenho um sonho muito estranho, o mesmo sonho se repete todos os dias, e quando acordo não consigo mais dormir.

-Você já tentou algum remédio?

-Eu não gosto dessas coisas, fazem mais mal do que bem.

-E qual é? O sonho, qual é o sonho que você tem direto?

-É bem estranho, eu estou parada um campo dourado de trigo, o vento batendo nas minhas costas, o dia bem ensolarado e o céu azul claro com algumas nuvens brancas, bem encorpadas.

-Nossa quantos detalhes, parece um sonho legal.

-É que eu tenho o mesmo sonho todo dia, já me lembro de cada detalhe. Mas não para por aí, depois de um tempo tudo começa a ficar muito estranho. Apesar do lugar ser bonito e tal, eu sinto uma agonia e uma dor no peito muito intensas, então eu vejo ela, uma mulher muito branca de cabelos escuros usando um vestido vermelho. Ela parece estar dançando no vento em câmera lenta de braços abertos, seu rosto parece muito triste. Eu corro para alcançá-la, mas ela fica mais distante a cada passo que eu dou em sua direção. Aí é quando eu acordo e me dou conta de que estava sonhando, mas a agonia e a dor no peito continuam pelo resto da noite. Por isso eu não consigo mais dormir.

-Nossa, muito estranho mesmo. Um amigo meu me disse uma vez que todos os nossos sonhos têm um significado. É o universo querendo nos dizer alguma coisa. Ele disse que a melhor forma para entender o que o universo quer nos dizer é ter sonhos lúcidos, acordar dentro do sonho basicamente. Existem algumas coisas que você pode fazer para induzir sonhos lúcidos. A primeira coisa é você começar a questionar a realidade no dia a dia sempre se perguntando se aquilo é real ou um sonho, a segunda coisa é anotar todos os seus sonhos em um diário, assim poderá se lembrar se teve ou não um sonho revelador.

-ALICE GOSTOU DA IDEIA DA AMIGA, AO CHEGAR EM CASA PESQUISOU MAIS A RESPEITO E DEPOIS DE QUASE UMA SEMANA ANOTANDO SEUS SONHOS E QUESTIONANDO A PRÓPRIA REALIDADE COMO SE FOSSE UMA PESSOA INSANA FINALMENTE CONSEGUIU TOMAR CONSCIÊNCIA DENTRO DO TAL SONHO MISTERIOSO.

LOGO QUE PERCEBEU QUE ESTAVA SONHANDO ALICE CORREU ATRÁS DA MULHER DE VERMELHO PARA OBTER AS RESPOSTAS DO UNIVERSO QUE LHE DEVOLVERIAM SUAS TÃO NECESSITADAS NOITES DE SONO. ALICE A SEGUIU ATÉ UM CASEBRE DE MADEIRA EM RUÍNAS. AO SE APROXIMAR DO CASEBRE ELE COMEÇOU A SUMIR E REAPARECER MUITO DEPRESSA COMO SE FOSSE UM HOLOGRAMA ATÉ QUE DESAPARECEU COMPLETAMENTE. O CÉU REPENTINAMENTE SE TORNOU ESCURO E NUBLADO COMO EM UM FIM DE TARDE DE INVERNO. UMA CHUVA TORRENCIAL COMEÇOU A CAIR, E ESTRANHAMENTE ESTAVA FLUINDO DO CHÃO PARA O CÉU, ALICE FICOU MUITO INCOMODADA COM AQUILO TUDO, NÃO MUITO NORMAL CHOVER PARA CIMA. ELA COMEÇOU A OUVIR GRITOS ASSUSTADORES VINDOS DE TODAS AS PARTES, CORREU DESESPERADA MATO ADENTRO. UM PRESENTIVIMENTO HORRÍVEL DE QUE ALGUÉM A ESTVA FIGIANDO NÃO LHE SAIA DA CABEÇA. A CHUVA PAROU E O CÉU FICOU LIMPO NOVAMENTE, MAS A DIA CONTINUOU MUITO ESCURO. AO PARAR E OLHAR PARA TRÁS ALICE TEVE UMA VISÃO ATERRADORA TRÊS HOMENS SEM ROSTO ESTAVAM LÁ PARADOS A OBSERVANDO. ELES ERAM CARECAS E SEUS ROSTOS NÃO TINHAM OLHOS, BOCA OU NEM NARIZ, APENAS PELE, PÁLIDA COMO A PELE DE UM CADÁVER RECÉM SAÍDO DO FREEZER DO NECROTÉRIO, TODOS ELES VESTIAM O MESMO TERNO PRETO. ALICE CORREU DESESPERADA PELA FLORESTA ATÉ QUE ENCONTROU NOVAMENTE O CASEBRE DE MADEIRA. AO ENTRAR LÁ PARA SE REFUGIAR DAQUELAS CRIATURAS HORRENDAS QUE A PERSEGUIAM ALICE TOMOU OUTRO SUSTO AQUELA MULHER ESTAVA LÁ ESPERANDO POR ELA, AS DUAS FICARAM SE OLHANDO EM UM SILÊNCIO MORTAL. TODOS OS MÚCULOS DO CORPO DE ALICE TREMIAM NAQUELA HORA.

-SE VOCÊ FICAR AQUI ELES VÃO TE MATAR -SUSSURROU A MULHER COM UMA VOZ MUITO BAIXA QUE ALICE MAL PÔDE COMPREENDER, MAS QUE LHE CAUSARAM CALAFRIO E UM TREMENDO DESCONFORTO NO ESTÔMAGO.

-QUEM SÃO ELES? -PERGUNTOU ALICE, SEM CONSEGUIR ESCONDER O MEDO.

-ELES NÃO TÊM ROSTO, NEM NOME. FIQUE LONGE DELES.

PELA JANELA DO CASEBRE ALICE PODIA VER OS HOMENS SEM ROSTO LÁ PARADOS A OBSERVANDO DE LONGE. ELES ASSIM COMO TODA A FLORESTA DESAPARECIAM E REAPARECIAM VEZES COMO FLASHES DANDO LUGAR AO CAMPO DE TRIGO AGORA ILUMINADO PELO LUAR, PARA LOGO RETORNAR. À MEDIDA QUE OS FLASHES IAM ALTERNANDO ALICE PERCEBEU QUE A MULHER TAMBÉM ESTAVA LÁ FORA LÁ EM MEIO AO CAMPO DE TRIGO, NO MESMO LUGAR QUE ALICE A VIU NO INÍCIO, MAS AO SE VIRAR PARA TRÁS A MULHER TAMBÉM ESTAVA LÁ DE PÉ A ENCARANDO COMO UM ESPÍRITOR DENTRO DO CASEBRE. ALICE ASSUSTADA NÃO ENTENDIA COMO AQUILO ERA POSSÍVEL. À MEDIDA QUE O AMBIENTE ALTERNAVA ENTRE A FLORESTA HORRENDA E O CAMPO DE TRIGO ALICE PERCEBEU QUE OS HOMENS ESTAVAM SE APROXIMANDO DO CASEBRE. UM BARULHO ESTRIDENTE MUITO FORTE VINDO DE FORA COMEÇOU A ECOAR NO AMBIENTE, FAZENDO SEUS OUVIDOS DOEREM, AQUELE BARULHO ERA TÃO INSUPORTÁVEL QUE SEUS TÍMPANOS PARECIAM QUE IRIAM EXPLODIR. ALICE SENTIU UMA MÃO GÉLIDA LHE APERTAR O PULSO COM MUITA FORÇA, ERA A MULHER DE VERMELHO.

-VÁ EMBORA. -SUSSURROU ELA NOVAMENTE COM AQUELA VOZ ATERRADORA.

ALICE ACORDOU GRITANDO E CHORANDO, NO PULSO ESTAVA UMA MARCA DE MÃO COMO A CICATRIZ DE UMA QUEIMADURA JÁ SARADA. AO SAIR DO QUARTO ALICE ENCONTROU SUA FAMÍLIA, PAI, MÃE E SEUS DOIS IRMÃOS TODOS MORTOS NA SALA. DESESPERADA CORREU PARA A CASA DA SUA AMIGA ISABELLA, QUE MORAVA NA MESMA RUA, A PORTA DA CASA JÁ ESTAVA ABERTA, AO SUBIR A ESCADA ALICE FOI AO ENCONTRO DA AMIGA EM SEU QUARTO. ISABELLA ESTAVA SENTADA NA CAMA DE COSTAS OLHANDO PELA JANELA, ELA USAVA UM VESTIDO VERMELHO, NESSE MOMENTO ALICE SE DEU CONTA DE QUE A MULHER NO SONHO ERA A AMIGA. AO CHEGAR PERTO ALICE PERCEBEU QUE A AMIGA ESTAVA MORTA, SEU CORPO ESTAVA DURO E GÉLIDO, E SUA PELE PÁLIDA COMO LEITE. ALICE DESABOU EM PRANTOU, E AO OLHA PELA JANELA NA DIREÇÃO QUE A AMIGA MORTA ESTAVA DE OLHOS FITADOS VIU AQUELES HOMENS SEM ROSTO DO SONHO LÁ, PARADOS A OBSERVANDO NOVAMENTE. PASSOU FORAM ESCUTADOS SUBINDO A ESCADA.

-Meu Deus. É você Alice. Você também pode ver eles, os homens sem rosto?

-ALICE BALANÇA COM A CABEÇA, MAS PERMANECE CHORANDO EM SILÊNCIO, QUASE QUE IGNORANDO O AMIGO GABRIEL QUE ACABARA DE SUBIR A ESCADA. ELE NÃO SE MOSTROU SURPRESO AO VER A OUTRA AMIGA ALI MORTA.

-Ela não merecia isso. A Bella era uma boa garota. Nós precisamos sair daqui Alice, eles vão vir atrás da gente.

-Gabriel puxa Alice pelo braço para a porta da cozinha.

-Eles estão mortos, meus pais e meus irmãos.

-Eu sei, eu fui te procurar lá, você não se mexia na cama, nem respirava eu pensei que você também estava… Todos estão mortos, todos os nossos vizinhos, família e amigos, todos da nossa rua estão mortos.

-Quem são eles, porque estão fazendo isso com a gente?

-Eu não sei. -Eu acordei com um barulho estridente muito alto, quando vi minha mãe estava lá no chão.

-ALICE E GABRIEL PEGARAM O CARRO DOS PAIS DE ISABELLA E SAÍRAM EM DISPARADA DA VILA, AO OLHAR PELO RETROVISOR ELES PUDERAM VER QUE OS HOMENS SEM ROSTO ESTAVAM LÁ AO LADO DO CORPO DE ISABELLA A OS OBSERVAR ENQUANTO AS LUZES VERMELHAS DAS LANTERNAS TRASEIRAS SOMEMIAM NA ESCURIDÃO.

ANDARAM ALGUNS QUILÔMETROS E SE DEPARAM COM UMA BARREIRA DE CONCRETO IMPENETRÁVEL FECHANDO A RODOVIA QUE SAÍA DA VILA.

-Isso não estava aqui antes. Eles devem ter colocado aí. Querem impedir a gente de fugir.

-Pra onde vamos agora?

-Tem outra saída uma estradinha perto daqui, a estrada do casarão. Eles não devem conhecer aquele lugar, acho que vamos estar seguros lá.

-GABRIEL DIRIGE PELA PEQUENA ESTRADA DE TERRA QUASE QUE COBERTA PELO MATO DENSO, ELES CHEGAM A UM ANTIGO CASARÃO ABANDONADO QUE OUTRORA PERTENCERA A UM BARÃO QUE GOVERNOU AQUELAS TERRAS, NOTÓRIO PELA CRUELDADE COM SEUS ESCRAVOS E PESSOAS PRÓXIMAS. ELES ENTRAM PELO GRANDE PORTÃO DE FERRO, PASSANDO POR ENTRE OS TÚMULOS DO ANTIGO CEMITÉRIO FAMILIAR QUE FICA NA ENTRADA DO CASARÃO. ALICE SENTA-SE ENCOSTADA NA IMENSA COLUNA ESTILO ROMANA OLHANDO PARA OS TÚMULOS.

-Vamos Alice, não seguro ficar aqui fora.

JÁ ERA POR VOLTA DAS 2H DA MADRUGA QUANDO AQUELE MESMO BARULHO ESTRIDENTE OS ACORDOU. ATORDOADOS ELES CORRERAM PARA A JANELA, LUZES FORTES PARECIDAS COM HOLOFOTES DE ESTÁDIO DE FUTEBOL ILUMINAVAM TODO O CASARÃO, QUE NAQUELE MOMENTO JÁ ESTAVA COMPLETAMENTE CERCADO POR VÁRIOS DAQUELES HOMENS SEM ROSTO. GABRIEL PUXOU UMA PEQUENA FACA DO BOLSO. ALICE CHORANDO SEGURA AS MÃOS DE GABRIEL APERTANDO-AS COM FORÇA.

-NÃO PODEMOS FAZER MAIS NADA. -DISSE GABRIEL ENQUANTO CORTAVA OS PRÓPRIOS PULSOS.

-Não, não… Gabriel. O quê você fez.

-ALICE TENTA CONTER O SANGRAMENTO, MAS ELE TIRA SUAS MÃOS QUE IMPEDIAM O SANGUE DE JORRAR PARA FORA DE SUAS VEIAS. GABRIEL ESTAVA DETERMINADO A MORRER.

-Não podemos fazer nada Alice vamos todos morrer. Você não pode ficar aqui.

-Não, por favor… Gabriel, você tem que ficar acordado. Gabriel, Gabriel acorde, acorde.

-Acorde, acorde Alice. Filha já está quase na hora da aula, você vai se atrasar.

-Eu, eu tenho que… O Gabriel está…

-O Gabriel já está lá na sala te esperando.

-ALICE SEGUE O CAMINHO INTEIRO ATÉ A FACULDADE, SEM TROCAR UMA PALAVRA COM O GABRIEL. MAIS TARDE AO VOLTAR ELA VAI DIRETO PARA A CASA DA AMIGA ISABELLA.

-Bella, você não vai acreditar, eu fiz o que você falou sobre os sonhos. Mas aconteceu algo muito ruim, começou com aquele mesmo sonho de sempre, mas depois virou um pesadelo. Parecia tão real, todos estavam mortos, você estava morta.

-Foi só um sonho Alice. Ei, finalmente chegou. Você não vai acreditar, é muito lindo.

-ISABELLA ABRE A CAIXA QUE ESTAVA SOB A CAMA E MOSTRA O VESTIDO VERMELHO QUE ENCOMENDOU SOB MEDIDA PARA A FESTA DE FORMATURA.

-Não, não é possível.

-O que foi, você não gostou?

-Não, era esse vestido. Você estava morta, usando ele.

-No seu sonho? Bem, deve ser porque eu estou morta mesmo. Você me matou Alice, você trouxe eles aqui, você matou todos nós.

-ALICE COMEÇA A CHORAR, QUANDO RETORNA A OLHAR PARA ISABELLA VÊ QUE ELA É UMA DELES, ELA NÃO TEM ROSTO E ESTÁ USANDO O VESTIDO VERMELHO

QUE INSTANTES ATRÁS ESTAVA EMBALADO EM UMA CAIXA. ALICE ACORDA NOVAMENTE GRITANDO EM SEU QUARTO. CORRE DESESPERADA PROCURANDO PELOS PAIS. SUA MÃE ESTÁ DE PÉ NA SALA OLHANDO PARA SEU PRÓPRIO CORPO CAÍDO NO CHÃO E ENVOLTO EM SANGUE.

-Olhe o que você fez comigo Alice.

-Não meu Deus eu enlouqueci. Por favor não.

-ISABELLA ENTRA PELA PORTA TRAJANDO SEU VESTIDO VERMELHO E CARREGANDO UMA FACA NA MÃO. DÁ UMA FACADA NA BARRIGA DE ALICE QUE CAI AGONIZANDO.

-Você nunca vai sair daqui filha. Quem cruza aquela fronteira nunca mais retorna.

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