UM FANTASMA ARGENTINO NA COPA AMÉRICA.

Stéfano Gutierrez nasceu em Rosário, berço de vários craques argentinos de futebol. Jogava peladas com a gurizada nas ruas de terra. Descalço. Cedo até a tarde. Time do bairro La Bruxa contra o bairro de Mendoza. Bola de meia. Um time sem camisas, outro de camisas. Stéfano amava o San Lorenzo. O menino de dez anos fez quatro gols. Jogava contra marmanjos de quinze e dezesseis anos. Franzino, não fugia de divididas. Enfileirava adversários. Fintava o goleiro e o humilhava. Era um craque. Um olheiro do Independiente levou o pequeno Stéfano para testes no clube. Uma peneira para descobrir talentos. Duas horas num ônibus. Uma longa viagem. Lanche numa lanchonete. Os pais de Stéfano visualizaram, no talento do caçula de cinco irmãos, uma chance pra sair da pobreza. Stéfano nunca tinha calçado chuteiras. O pé sangrava com as bolhas. O olheiro lhe deu uma chuteira nova, sem amassiar o couro. Acostumado a terra vermelha, achou lindo o gramado do clube famoso. Tímido, estava perdido em meio aos outros garotos. O olheiro estava decepcionado. Stéfano só sabia jogar na terra??? Estava arrependido. Meia hora de teste e o pupilo não tocara na bola. Uma correria. Stéfano não recebia bolas. Quase fim do teste. Empate de um a um. O garoto loiro de seu time prendia a bola. Era notório que ele queria mostrar talento mas prejudicava os demais. A bola veio da defesa. O meia loiro ia dominar a bola mas Stéfano foi mais rápido. Um adversário. Stéfano lhe deu um chapéu. Dois zagueiros espumando se aproximaram. Stéfano passou por eles. O goleiro fechou o ângulo. Stéfano deu um lençol no coitadinho. Chute e gol. O olheiro chorava. Felicidade geral. Os diretores do Independiente estavam boquiabertos. Nunca tinham visto aquilo. Stéfano foi aprovado. Os dirigentes redigiram um pré contrato pois tinham medo que Boca Juniors ou River Plate tirassem aquela jóia deles. Stéfano foi morar na cidade grande. Seus pais ganharam uma casa. O garoto se destacava. Stéfano receberia um ótimo salário. Fazia gols com incrível facilidade. A sala de troféus ficou tomada de taças. O menino crescia, forte devido ao acompanhamento dos médicos do clube. Foi artilheiro de campeonatos infantil, juvenil, juniores. Torneios nacionais, internacionais... Stéfano era a estrela do time. Tinha um ótimo salário. Com dezoito anos estava convocado para a seleção argentina de 1941. Fez três gols na estréia. Um fenómeno. O Independiente vendeu seu passe para o Boca Juniors. Uma fortuna. Stéfano estava rico. Famoso e rico. Seria, certamente, a estrela da copa do mundo de 1942!!! Só que não!!! Estourou a segunda guerra mundial. Nada de copa do mundo. A Europa arrasada. Com o fim da guerra, Stéfano assinou contrato com o Milan, da Itália, em 1945. Goleador, logo ficou ídolo da torcida. Multi campeão italiano. Não teve copa do mundo em 1946!! Uma decepção. O craque esperava brilhar em 1950, no Brasil. Ele amava correr de carro novo nas estradas italianas. Tinha quatro carros na garagem. Velocidade no sangue. Namorava uma estrela de Hollywood. Amor, vinho e velocidade. Stéfano perdeu o controle do carro, numa curva. Ribanceira. Um desastre. O jogador morreu. Luto na Itália e na Argentina. Luto no futebol. O jogador foi sepultado em Rosário. Seu espírito sai do túmulo nos dias de jogos da seleção argentina. Tem imenso prazer em ver a seleção de seu país. Vibrou muito quando a Argentina foi campeã mundial em 1978 e 1986. -" Meu querido pibe de ouro, Maradona!!! Eu te amo, Dieguito." Ultimamente, Stéfano está decepcionado com a seleção argentina.-" Messi, nascido em minha Rosário, só arrebenta no Barcelona!!!!" Resolveu vir ao Brasil para assistir a copa América. Quem sabe os jogadores não joguem com a velha garra!!! -" Messi... la pulga atômica, não me faça sofrer mais!!!!" Diz o fantasma sofredor!! Stéfano voltou, em segundos, ao seu túmulo. Desolado, de cabeça inchada, após a eliminação para o Brasil, na semifinal da copa América, em Belo Horizonte . -" Aquele Gabriel Jesus jogou muito!!! Até parecia eu, quando jovem, destruindo zagueiros!!! Porca miséria. Vinte e tantos anos na fila. Que tormento!!!!! FIM.

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 02/07/2019
Reeditado em 03/07/2019
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