INVASÃO
Deitado num sofá velho e rodeado por garrafas de cerveja vazias, Ricardo assistia ao telejornal, sem prestar muita atenção. O homem de aparentemente 50 anos estava embriagado não só por causa da bebida, mas também pela tristeza. Há horas atrás ele esperava ansiosamente a chegada de Luiza, que já estava bastante atrasada, mas agora, é possível que ele nem lembre do próprio nome.
Subitamente, Ricardo se levantou do sofá assutado ao ouvir o barulho do portão da casa. Pensando ser uma invasão, passou cambaleando pelo corredor em direção a cozinha e pegou uma faca. "Quem invadiria a casa de pobre bêbado?", ele pensou. De olhos fechados, apoiado na pia e com a faca na mão ele se lembrou que estava esperando por Luiza. Resolveu voltar para onde estava, cambaleando mais ainda.
Na sala, quem adentrava a casa era sua esposa, que parecia mais nova que ele, apesar dos cabelos um pouco grisalhos. Ela lançou seu olhar para a bagunça daquela sala e logo após foi para a cozinha. O casal acabou se encontrando no corredor.
Naquele mesmo momento, uma jovem loira abria o portão da casa e subia calmamente a escadas até à porta. Porém, se apressou ao ouvir gritos vindo da cozinha. Luzia, filha única de Ricardo, a moça por quem aquele bêbado tanto esperava abriu a porta e se espantou ao ver seu pai, caído no chão.
- Pai, pai! Acorda! O que houve? - perguntou a jovem, enquanto ele acordava lentamente.
- A casa foi invadida, filha… pela sua mãe.
- Você anda bebendo demais pai…
A dois quarteirões da casa de Ricardo, uma foto de sua linda esposa de cabelos grisalhos estava fixada no túmulo do cemitério da cidade. Ela já havia falecido há 5 anos.
Do lado direito daquele mesmo túmulo estava escrito o nome de Luiza e em cima uma foto daquela linda jovem loira. Ricardo já esperava ela voltar pra casa há algumas semanas.