JOTA

'J - o anzol, O - o anel de arame de aço, T- a cruz e A - o apoio da cruz'

...por acaso o mesmo apelido do escritor

Seus temas literários, sempre abordavam vilanias, crueldades em lago, rio e mar, crimes com cruxificações, todos os seus livros alavancavam mídia e alcançavam um expressivo número de vendas, tudo fictício. Só era estranho que nas entrevistas, ele nunca falasse de família,  do passado, mas, seu amigo Estevão sabia bem o porquê do pseudônimo de JOTA, mas, Estêvão pretendia se manter vivo por muitos anos ainda. Às vezes cogitava em seus pensares, como os leitores reagiriam se soubessem ser muito real, no contexto do primeiro livro...'JOTA' matou o pai aos dez anos de idade, rasgando sua goela com um (J)Anzol à beira de um rio, apenas porque o pai não quis lhe dar mais iscas, surtou e matou o coitado, Estevão esteve presente em todos os enredos, só guardou segredo por ter pavor de Jota, então, repetia as histórias combinadas e se tornou um álibi fiel.

Matou a mãe, apertando seu pescoço com um anel de aço junto à fonte, que ficava atrás do jardim de sua própria casa, por pura birra, ela não pode preparar o bolo de chocolate que ele queria, ele estava com doze anos. Com uma irmã pequenina, sua avó se mudou para lá para cuidar da criação dos dois, a pobre e doce senhora apareceu boiando cruxificada no lago da cidade ao lado, ele completava vinte e um anos neste dia, sendo agora responsável pela irmã de quatorze anos, foi quando Estevão mais tremeu na vida, já imaginando o que aconteceria com a menina e não demorou muito, um ano depois como um livro aberto à beira do mar, estava a pobrezinha fincada num tipo de apoio de cruz, com os olhos escancarados na direção do horizonte.

Foi justamente nessa época que Estevão fugiu para outro País, só sentindo uma dor funda no peito, quando vinte anos depois passando na porta de uma livraria, viu estarrecido o anúncio do best seller CONTOS MACABROS, com a foto do autor na capa, seu amigo JOTA, com indicação de que estavam aguardando nova edição, pois a primeira estava esgotada.

Estevão morreu dois anos depois, consumido pela culpa de sua covardia.

 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 23/04/2019
Reeditado em 24/04/2019
Código do texto: T6630905
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