A PEDRA DOS MARTÍRIOS
O cabra era da peste, mas, depois de uma noite memorável de esbórnia, no pior cabaré junto ao garimpo, a pestilenta invadiu seu sangue e rins, destruindo tudo dentro dele. Foi definhando com um fedor pavoroso, nem as rezas da puta velha Benedita e seus unguentos ardidos estavam resolvendo o problema. Acabou sendo escorraçado do lugar, foi andando à esmo em linha reta, poucos quilômetros depois, se chocou com uma pedra grande, cinzenta e úmida que lhe disse
- Trocarias seu sofrimento pela cura a que preço?
O cabra primeiro se assustou, depois respondeu
- Qualquer coisa
Num piscar de olhos, o cabra pareceu renascer, agradeceu e foi andando, mas, a pedra voltou a falar
- De nada esqueceu seu cabra...vou lhe dizer o preço, ache uma faca bem afiada e me traga hoje antes do nascer da primeira estrela, o coração de Heleninha
O cabra se assustou, arregalando os olhos e engolido seco e grosso, Heleninha era a filha mais nova do dono garimpo, no desabrochar de seus dez aninhos. Questionou, reclamou, sugeriu um outro cabra, mas, a voz da pedra estava imperiosa e irredutível, o coração de Heleninha era o preço, caso contrário ele teria uma morte tremendamente dolorosa, o mal que o consumia antes iria parecer um resfriado apenas.
O cabra desolado voltou ao garimpo, em busca de cumprir o trato, não pretendia morrer. Demorou um pouco até encontrar a menina, com um papo engabelou a pobrezinha e a levando pela mão, num talho certeiro arrancou seu coração e saiu correndo para entregar à pedra. Foi chegando com o coração da bichinha na mão gritando
- Aqui está o coração de Heleninha
Detrás da pedra úmida, cinzenta e agora muda, apareceram o pai da menina e uns seis jagunços armados de foices e enxadas, foi o fim do cabra, restou dele uma pasta sangrenta que ficou junto à pedra, sendo aos poucos absorvida por ela, sem deixar vestígios no solo arenoso, como se o linchamento nunca tivesse acontecido.
O cabra era da peste, mas, depois de uma noite memorável de esbórnia, no pior cabaré junto ao garimpo, a pestilenta invadiu seu sangue e rins, destruindo tudo dentro dele. Foi definhando com um fedor pavoroso, nem as rezas da puta velha Benedita e seus unguentos ardidos estavam resolvendo o problema. Acabou sendo escorraçado do lugar, foi andando à esmo em linha reta, poucos quilômetros depois, se chocou com uma pedra grande, cinzenta e úmida que lhe disse
- Trocarias seu sofrimento pela cura a que preço?
O cabra primeiro se assustou, depois respondeu
- Qualquer coisa
Num piscar de olhos, o cabra pareceu renascer, agradeceu e foi andando, mas, a pedra voltou a falar
- De nada esqueceu seu cabra...vou lhe dizer o preço, ache uma faca bem afiada e me traga hoje antes do nascer da primeira estrela, o coração de Heleninha
O cabra se assustou, arregalando os olhos e engolido seco e grosso, Heleninha era a filha mais nova do dono garimpo, no desabrochar de seus dez aninhos. Questionou, reclamou, sugeriu um outro cabra, mas, a voz da pedra estava imperiosa e irredutível, o coração de Heleninha era o preço, caso contrário ele teria uma morte tremendamente dolorosa, o mal que o consumia antes iria parecer um resfriado apenas.
O cabra desolado voltou ao garimpo, em busca de cumprir o trato, não pretendia morrer. Demorou um pouco até encontrar a menina, com um papo engabelou a pobrezinha e a levando pela mão, num talho certeiro arrancou seu coração e saiu correndo para entregar à pedra. Foi chegando com o coração da bichinha na mão gritando
- Aqui está o coração de Heleninha
Detrás da pedra úmida, cinzenta e agora muda, apareceram o pai da menina e uns seis jagunços armados de foices e enxadas, foi o fim do cabra, restou dele uma pasta sangrenta que ficou junto à pedra, sendo aos poucos absorvida por ela, sem deixar vestígios no solo arenoso, como se o linchamento nunca tivesse acontecido.