Saudades da Professorinha

Passeava com a família pela cidadezinha onde nasceu. Orgulhoso, mostrava os lugares e contava histórias da sua infância.

A esposa sentia-se satisfeita pelo marido relaxado e feliz muito diferente do que era em seu dia-a-dia como cirurgião.

Passando pela pracinha freou violentamente. A mulher, que quase enfia a cara no para-brisas, primeiro confere as crianças no banco traseiro antes de se virar para o marido que saltou do carro, abriu o porta-malas, retirou a chave de rodas e cruzou a praça.

Enquanto viverem, ela e os filhos não esquecerão o que veio a seguir. Ele caminhou em direção a uma velhinha e a golpeou várias vezes na cabeça com a chave. A viatura de plantão no local o deteve, mas não a tempo de impedir a morte da senhora.

Chegando na delegacia todos queriam entender o que leva alguém a matar barbaramente uma frágil idosa que vivia com a aposentadoria de professora.

Eles não entendiam. Ele se recordava muito bem. A humilhação quando teve de passar o recreio de cuecas no pátio por causa de alguma travessura que nem se lembra mais qual foi.