CROUPIER SEDENTO (MINICONTO)

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Henrique Zenarde, era um livro a ser desvendado, figurinha fácil de ser encontrada nas rodadas de pôquer das altas rodas.

Numa dessas esbórnias memoráveis, com a carteira aberta e o cartão sem limites, se esbaldava com os amigos ricos, esnobando da croupier que observava seus modos imbecis de forma  impassível. Lá pelas tantas da madrugada, já ébrio e sem ganhos na mesa, foi saindo trôpego e se apoiando na moça de olhos baços que o acompanhava. Ao passar pela croupier falou com voz embargada e sádica,

- Se você fosse livro, com certeza, seria um conto de horror, Eita! Mulher feia
E foi andando...

Sua acompanhante, já sem paciência e ciente de que a sua paga já havia sido garantida com antecedência, não viu motivo para ter que ficar aturando aquele cara chato e bêbado. Entregou Henrique ao motorista dele e saiu patinando seus saltinhos finos pela calçada, pensando, que se ele fosse um livro, seria uma comédia burlesca rsss...

Janis era um transexual, bem assumida e bonita na verdade, poucos sabiam da sua condição, estava acostumada com desaforos, mas, aquele cara, lhe perturbou a madrugada inteira e ofensas ela não levava para casa, os submundos sabiam bem de sua fama anterior. Já amargara algumas prisões por pequenos acertos de contas, muitas facadas no currículo, mas, nenhuma morte até o momento. Ter se transformado lhe deu uma nova aparência e ritmo de vida, mas, Walther ainda morava dentro dela e estava com sede, muita sede, foi para casa, dormiu o sono dos justos e o dia seguinte seria igual aos outros dos últimos três anos.

Janis em pleno exercício de sua função, observa a chegada ao salão de Henrique que de cara, logo a ofende,

- Ê bicho feio, livro de terror você por aqui, já sei que terei azar de novo.

A noite foi boa para ele, mas, para Janis foi outra madrugada de ofensas idiotas, Walter estava no seu limite.

Diferente do dia anterior, Henrique saiu sozinho, dizendo aos amigos que iria comemorar a boa mão numa boate próxima dali e gostaria de vê-los por lá, assim combinado, saiu.

A noite estava fresca, foi andando mesmo, dizendo ao motorista que fosse pegá-lo em determinada hora, só que nunca chegou lá.


2Q==


Foi encontrado, cortado em folhas finas num beco próximo, como um livro sangrado de terror, com a capa de pele acinzentada, tipo um livro antigo. Em casa, Janis distraída, rodeava entre os dedos um caro anel com a inscrição HZ e Walther, com um calor no peito, já não sentia sede alguma.




 



* Imagens - fonte - Google
 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 22/01/2019
Reeditado em 23/01/2019
Código do texto: T6556787
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