O esquartejador
Todos evitam passar em frente ao casarão. Nem sequer pronunciam o nome do morador.
Quando cruzam com ele apenas baixam a cabeça. A vida dele não interessa a ninguém, mesmo todos sabendo de suas atrocidades.
Respiram aliviados quando no telejornal veem a notícia de mais uma vítima de esquartejamento no bairro vizinho.
Alguns dizem que são mais de vinte mortes nos últimos anos mas isso não é problema deles.
Na rua tem Pipoca, o vira-latas coletivo. Apareceu por ali há alguns anos e não foi mais embora. A vizinhança toda cuida do bichinho. Até a moça do Pet shop dá banho de graça. É muito amado por todos.
Pipoca é bem-vindo em todas as casas da rua, com exceção do casarão. Sempre é escorraçado aos pontapés pelo morador e sempre volta.
Na manhã de domingo, Dona Geruza, voltando da padaria, se depara com a cena mais horrível que presenciou nos seus 70 anos.
Em frente ao portão do casarão encontra Pipoca morto, cruelmente desmembrado.
Dona Geruza, descontrolada, começa uma gritaria que acorda todos da rua.
Quem se aproxima não consegue conter o ódio e a repulsa por um ato tão desumano.
Naquelas alturas ninguém fica dentro de casa, todos se aglomeram em frente a casa do suposto assassino. E como os ânimos estavam muito exaltados, bastou alguém na multidão acender o estopim para tudo explodir: “Isso não pode ficar assim!”
Imediatamente o casarão é invadido e o homem arrastado para fora.
Quando a polícia chega encontra o corpo, ou o que sobrou dele, amarrado a um poste.
Pendurado no pescoço um cartaz escrito a mão: MATADOR DE ANIMAIS.