O Cunhado

“Meu amigo, deixe de reclamar daquele cunhado encostado em sua casa há mais de ano. Aquele mesmo, que usa seu computador para ver sacanagem a madrugada toda dizendo procurar emprego e depois dorme no sofá da sala até meio dia.”

Vendo este anúncio se animou e ligou para o número que aparecia na tela. A atendente com voz sensual explicou em poucas palavras a eficácia do produto e a devolução do dinheiro em caso de falha.

Passou o cartão e ansioso aguardou a entrega.

Dias depois, ao chegar do trabalho, encontrou a caixa sobre mesa. Ao ler o recibo viu que se tratava da encomenda aguardada. Abriu e retirou o pequeno vidro fechado com uma rolha, contendo um pó que parecia sal grosso. A seguir, abriu o papel que o acompanhava, as instruções de uso.

Sem titubear foi até a sala e viu o cunhado roncando e babando no sofá. Disposto a acabar com aquela situação seguiu as instruções: despejou o pó em um canto da sala, saiu e recitou as palavras que julgava ser em latim.

Começou a pensar na infantilidade de seu ato, como pôde imaginar que aquilo desse certo. Concluiu que graças ao desespero tinha caído em um golpe.

Abandonou a autopunição quando ouviu gemidos de agonia. Arrependido correu para sala. Ao cruzar a porta viu o cunhado estrebuchando e sobre ele uma jovem com um corpo assustadoramente anoréxico.

A última coisa que se lembra antes de desmaiar foi ver a moça arrancando o coração do peito do infeliz.

Assim que recobrou os sentidos, correu para o cunhado que não respirava e não tinha pulso.

Ligou para a emergência. Inútil. O médico disse que o infarto foi fulminante e não havia mais nada a fazer.