Pobre Denver..
Denver caminhara 8 km no meio do sol escaldante para comprar mentimentos para sua mulher. Era a compra do mês, o problema sempre fora a localização do mercado, não ajudava em nada.
Chegando em casa na base da dor nos pés e do suor na roupa, Denver coloca as coisas sobre a mesa e avisa sua mulher Tânia.
--- Mulher do céu! Esse sol está me matando, preciso tomar um banho. Os sabonetes que pediu estão ai, sobrou até um graninha pra comprar aquela bebiba que você ama.
Tânia não responde. O problema dela era simples, porém muito delicado. A mesma era quase surda, então se alguém quisesse pronunciar seu nome, teria de ser de maneira aguda e objetiva. Não foi neste caso.
A mulher de 44 anos amava fazer costuras. Tinha sua linda máquina arcaica e ali passava a maior parte do tempo. Não fazia os tecidos para vender porque nem vizinhos ela tinha. Como disse, o mercado mais próximo era a 8 km.
Durante o banho, Denver tira sua roupa e se olha no espelho. É, ele não era dos melhores, gordo e calvo, peludo como um animal. Mas que se dane, ele nunca ligara...
Ao passar a esponja sobre o corpo, o homem estranho sente as cicatrizes de outrora. Foi uma briga no bar, aquelas velhas historinhas pra boi dormir. Sempre um sai prejudicado.
Denver sente uma leve picada nos pés e começa a se contorcer em dor e agonia. Para sua surpresa, ele enxerga uma aranha marrom, agora trepada sobre sua canela e subindo...
Ele se sacode para tirar a mesma, porém seu corpo mole e gordo o faz deslizar sobre o sabonete e o mesmo cai no chão com tamanha destreza e força.
Quando se da conta, sente mais duas, três, quatro picadas. Do seu ralo acabam de sair mais três aranhas. O homem se sente paralisado, a dor da lugar para o medo, e o medo abre um grande vazio na escuridão.
Denver grita pedindo socorro para sua mulher e morre de maneira estranha e dolorosa.
E quanto a Tânia?
Lá estava ela, no sofá do bem, costurando como se não houvesse amanhã, bom, pelo menos para Denver não haverá.