Monza 86
Quando o carro passou pela lombada ele quase bateu a cabeça no teto. Não se importou. Sua prioridade era chegar ao hospital o mais rápido possível. A filhinha adolescente estava em estado grave, tudo porque tentou terminar o namorico com o aspirante a traficante do bairro.
Segundo foi informado, ela teve a cabeça raspada, foi queimada com cigarros e apresentava algumas fraturas.
Decidido, não tinha valeta ou lombada que fariam ele reduzir a velocidade do velho Monza.
Próximo ao destino teve de repensar sua decisão, uma barreira policial o impedia de continuar.
Ao sinal do guarda estacionou. Tentando agilizar o procedimento foi contando sua história para justificar a pressa. O oficial, que já ouviu de tudo, explicou que levaria só um minuto. Impaciente, aguardou até o policial voltar, pegou os documentos e foi tentando dar partida no carro.
Ficou surpreso quando o policial mandou desligar o veículo e disse:
_Desce, abre o porta-malas, quero ver o macaco, triângulo e estepe.
O homem desmontou. Debruçou sobre o volante a chorar.
Desconfiado, o guarda pegou a chave e abriu o porta-malas. Não conteve o vômito. Sua reação chamou a atenção dos amigos de farda que correram em seu socorro e deram de cara com a cena indescritível.
O porta-malas estava cheio de cacos de vidro. O detalhe bizarro era o corpo mutilado.
Sob a mira das armas, algemaram o homem que continuava chorando e se negou dar qualquer explicação.
Chegando ao distrito o sangrento mistério foi esclarecido.
A família do seu ex genro estava denunciando o sequestro do garoto. Os pais disseram ter visto o rapaz ser rendido e jogado no porta-malas de um Monza preto.