Última Invasão
O luar atravessa a janela bem em frente ao armário onde ele está escondido, entra com leveza por uma fresta na porta (onde mal caberia seu dedo indicador) e se projeta logo acima da sua cabeça. Calor, escuridão, suas costas já começam a doer devido à posição desconfortável. O neandertal acende a luz, procurando-o. Obviamente não é muito inteligente, então não pensa em abrir o armário. Apaga a luz.
Três minutos depois o homem sai de seu esconderijo. O lugar é uma rica mansão, mas com uma mobília muito grosseira. Desce lentamente as escadas. Vai até a porta, toca a maçaneta. A polícia não vai acreditar nele. O alarme soa. Como pôde se esquecer do alarme?
A porta está trancada. Corre para a janela mais próxima. O homem das cavernas vem correndo nu, com um facão na mão. A janela não abre. Corre para outra porta, entra. Área de serviço, sem saída. Vira-se para fugir, mas o neandertal está parado na entrada, sério. Pega uma vassoura, o monstro agarra-a com uma mão e a parte com uma cutilada.
Desarmado, a presa recua, encosta na parede. Esboça uma oração final. Para o homem das cavernas ele é apenas um saco de carne. O facão corta o ar, o homem abaixa, desvia do monstro e foge. A porta do banheiro está aberta. No caminho até ele, pega um telefone sem fio e se tranca lá dentro. O medo perfura seu coração como uma lança ao ver, primeiro um corpo feminino esquartejado na banheira, depois a janela pequena demais para seu corpo passar. Precisa ficar calmo, pensar com frieza. O telefone não funciona.
O neandertal se joga contra a porta, que cai com um só golpe. Dá dois passos rápidos, para, seu alvo estremece. Devagar, saboreia cada momento antes do clímax. Mais um passo. Levanta o facão, se prepara para o golpe. Os olhares se encontram por um instante. A vítima desiste de lutar e aceita seu destino. Foi sua última invasão.