JUVENCIDAS E O CHUPACABRAS

O que se ouvia no meio da noite eram os pipocos dos tiros da espingarda de Juvencidas, benzida por padre Ezequiel que disse que qualquer tiro dela era divino, e que podia ser até o capeta a tomar bala que ia cair duro. O homem corria pela estrada, havia perdido o cavalo numa luta corpo-a-corpo, e agora usava as próprias pernas para fugir daquela besta.

As casas eram afastadas e os acontecimentos cada morador viu um pedaço. Somente o luar não mostraria o caminho e cada família deixou na beira dos terreiros e estradas um lampião ou candeeiro, para assim iluminar o caminho do homem. Escondidos dentro de suas casas, brechando as portas de madeira querendo ver Juvencidas e seu inimigo mortal lutando pelos terreiros.

Juvencidas saiu correndo do meio do mato, todo arranhado dos galhos, espinhos e troncos, até sangue manchava a camisa, provavelmente de um ferimento durante a luta. Correu pelo terreiro e se escondeu atrás de uma cerca, puxou os cartuchos do bolso e foi colocando no lugar, fazendo o silêncio preciso, pois ouviu as passadas pesadas da besta que lhe seguia.

Percebeu que o bicho se aproximava só pelo fedor aumentando. O som que fazia parecia quando alguém muito rouco começa a tossir ou gritar e a voz falha no final. O homem se preparou, estacou os dois pés no chão e levantou de repente apontando a espingarda benta, tomando um susto miserável. O bicho estava na frente dele com a cara bem perto do seu rosto, e Juvencidas nem percebeu direito a forma da criatura além dos olhos pequenos, dois buracos do focinho e uma boca medonha. Pois no susto apertou o gatilho sem mirar do jeito certo, caiu no chão e escutou os gritos do bicho feio.

Se levantou rapidamente para poder meter outra bala naquele demônio, e a surpresa lhe tomou conta quando viu que o bicho já estava de pé e a bala não havia acertado em cheio. Se preparou pra outro tiro, apontou a espingarda e mirou, o dedo no gatilho já pronto ao mesmo tempo que a besta já estava passando a cerca e as mãos secas com dedos longos já estavam tocando o cano da arma. O tiro foi certeiro no peito da criatura que caiu dura no chão, dando um ultimo gemido feio e tremendo perante a morte.

- Vão chamar padre Ezequiel - gritou, quase sem fôlego. - E diga a ele que eu matei o Chupacabra.

- Pode deixar que eu chamo, seu Juvencidas - falou um rapaz magro que saiu da casa em frente ao acontecido. - Se sente aqui, que vou trazê também alguém pra cuidar das tuas ferida.

- Pois diga que fiz o prometido. Matei o Chupacraba que tava acabando com nossa criação. E agradeça pela benção que deu.

Juvencidas olhou o corpo da besta. Quase pouco maior que ele e todo magricela, tinha vários fios grossos e longos saindo das costas e alguns da cabeça murcha com olhos pequenos e uma boca quase maior que ela. As pernas e os braços magros e esticados pareciam frágeis, mas as pancadas e arranhões ainda faziam latejar de dor e arder a carne de Juvencidas.

O rapaz era chamado de Berto, montou rápido num cabalo só de cabresto e manta. - Minha muié vai lavar os corte, fique aqui que venho já com padre Ezequiel. - deu sinal para o cavalo sair e partiu.

- Venha, seu Juvencidas - falou a mulher, que já estava na calçada. - Venha pra cá que vou buscar água com vinagre pra lavar esses corte.

Quando o rapaz chegou com padre Ezequiel, que vinha em outro cavalo, e outro homem os acompanhando, provavelmente alguém pra cuidar dos ferimentos de Juvencidas, ficou surpreso com a situação e a noite se tornou mais soturna. Os homens desmontaram para procurar a mulher que ficou a cuidar do homem ferido, Juvencidas e o tal corpo do chupacabra.

Mas só o vazio restava naquela noite. Havia sangue na soleira da porta e um rastro que se espalhava pelo terreiro. O cheiro podre do chupacabra e o silencio cortado pelos gritos de Berto por sua mulher.

Diogo Emmanoel Costa
Enviado por Diogo Emmanoel Costa em 14/11/2018
Reeditado em 04/03/2019
Código do texto: T6502281
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