Foi apenas um sonho?
Eu corri, durante toda minha vida infeliz estive a mercê dos demasiados sonhos. Minha cabeça já não sabia separar o real do sobrenatural, talvez eu deva treinar mais um pouco esta dádiva, ou talvez eu deva encontrar um padre urgente.
Era uma segunda qualquer, pra variar domingo me enchi de porcaria enquanto assistia um jogo de futebol. Dormi ali mesmo no sofá, Marilda estava de plantão. Era enfermeira, e você sabe como é né? Não é uma vida fácil, plantões e mais plantões durante um belo tempo. Segunda era sempre seu dia, a escala de plantão rodava rápido e ela sempre sofria com isso. Mas fazer o que né? Eu preciso comer, me lavar, ela também. Caso contrário, viveremos como animais na rua. Mas vamos lá, eu trabalho em uma lan-house atualmente, me formei em Tecnologia Da Informação e não consegui um emprego que me agradasse, todos parecem sugar demais minha vida. O resultado disso? Salário ruim, condições péssimas e as férias quase não existem. Já falei demais, deixa eu te contar o que houve nessa segunda normal, pelo menos até então.
Me lembro de estar vendo o jogo e de repente apaguei, não senti e não vi absolutamente nada, porém algo naquela sala não estava normal. Abri os olhos, estava no piso caído, minha cabeça latejava, quando me dei conta vi que o piso cheirava ferro e aquilo no chão não era ketchup. Do meu esquerdo vi vários tufos de cabelo preto, parecia ser de Marilda, tudo balançava ao meu redor, tentei me levantar, mas parecia que uma força maior me forçava a ficar no chão. Passei a mão sobre a testa, senti uma bela dilaceração, era bem fundo e o sangue saia de maneira lenta, tudo parecia estar devidamente calculado. Tentei novamente me erguer, mas em vão. a TV chapiscava, gritei por Marilda, esperando que aquilo fosse um sonho ou algo parecido, mas então escuto sua voz, sorrateira ao fundo. Parecia gargalhar, parecia blefar, estava brincando, queria jogar, e parecia que eu era seu brinquedo nesta data.
Veio da cozinha engatinhando parecendo um bebê nos primeiros meses após gestação, um capuz preto estava sobre sua face, veio de maneira estranha, parecia apreciar a cena de horror. Logo após, começou a lamber meu sangue no piso da sala. Lambia como se estivesse chupando sorvete de chocolate. Aquilo a deixava com um certo tesão, parecia amar a sensação. Quando tirou o capuz me deparei com algumas diferenças, estava totalmente careca e com uma feição estranha, seus olhos haviam sido retirados e a cara estava cheia de cortes profundos. Marilda me observou sorrateiramente, mal podia me mexer, o sangue sobre minha testa ainda caia sobre o chão. Ela se aproximou de meu corpo, começou a lamber o sangue que estava sobre meu corpo. Tudo começou a escurecer, já não estava raciocinando direito, ela por outro lado dava risada como se aquilo fosse agradável, a partir desse momento eu não me lembro de mais nada, apenas da escuridão que pairou sobre meus olhos.