LONGE DAQUI

- Esse lugar não é mais seguro para nós.

- Ah não, por favor. Não vamos começar com essa conversa novamente, já sabemos que não vamos chegar em lugar algum com isso.

- Eu tenho ouvido vozes, alguns aranhados e barulhos estranhos, vultos e...

- Isso tudo não passa de imaginação da sua cabeça Esther. Há anos que moramos aqui e até então nada disso tinha acontecido e de uma hora pra outra você surge com essa maluquice.

- Você tem que acreditar em mim Henrique. Estamos correndo risco aqui, precisamos sair daqui logo, antes que o pior aconteça e eu não quero nem imaginar isso. Pense ao menos em nosso filho.

- Você tem ficado o dia todo aqui sozinha e isso talvez possa estar te fazendo mal. Eu vou arrumar alguém pra te ajudar com as tarefas do lar. Vai ser bom pra você, vai ter alguém pra conversar durante o dia. Agora tenho que ir para o trabalho, à noite terminamos essa conversa.

Henrique despediu-se da esposa e saiu.

Quando já se aproximava da noite, Esther estava na sala de sua casa assistindo um programa diário de culinária que ela tanto apreciava, sempre era exibido naquele mesmo horário. Tomou em suas mãos sua caderneta de anotações e com uma caneta anotava o passo a passo de cada receita. Ela então escutou o choro forte e agonizante de Arthur, seu filho. Parecia estar pedindo socorro. Rapidamente ela subiu as escadas de madeira e foi em direção ao quarto onde o menino dormia. A cada degrau que ela vencia o choro ficava cada vez mais alto, e mais alto. A porta estava trancada.

- Arthur! – gritou Esther do lado de fora do quarto. Ela fazia força para tentar abrir a porta.

Tentou de várias maneiras, mas a sua força não foi o suficiente. Ela então resolveu ligar para Henrique que naquela hora já deveria estar terminando seu expediente no escritório.

- Caixa postal não. Não tinha hora pior para isso acontecer.

Esther então decidiu buscar por alguma ferramenta que pudesse auxiliá-la na abertura da porta. Na casa não havia muitas ferramentas, apenas uma caixa pequena em cima do armário da cozinha com algumas coisas que talvez lhe pudessem ser úteis naquele momento. A caixa ficava numa parte alta, e a altura de Esther não seria suficiente para que ela conseguisse tomar a caixa em seus braços, foi preciso a ajuda de uma cadeira. Depois de um pouco de dificuldade ela conseguiu pegar algumas coisas.

Quando estava retornando para o andar superior de sua casa, prestes a subir o primeiro degrau da escada ela notou que a TV havia desligado sem que ela tivesse feito isso. Mas esse era o menor dos problemas para ela naquele momento. As horas se passavam cada vez mais rápido e nada de Henrique aparecer. Ela estava sozinha e precisava salvar o seu filho o mais depressa possível. O choro do menino não havia cessado, pelo contrário. Com a ajuda daquelas ferramentas Esther então conseguiu, depois de um bom tempo, abrir a porta do quarto do seu filho.

A luz estava apagada.

O choro da criança havia parado.

No fundo apenas uma leve e doce canção de ninar que ecoava através de um urso de pelúcia que ela mesmo havia comprado de presente para o filho.

Ela então foi caminhando em direção ao berço até que parou bem próximo a ele. Inclinou seu corpo em direção ao lugar onde de costume o menino dormia, estendeu as mãos para dentro do berço na intenção de tomar a criança em seus braços e naquele momento veio então a surpresa.

Continua...

Luccas Nascimentto
Enviado por Luccas Nascimentto em 10/04/2018
Código do texto: T6304809
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