O botão de um milhão de dolares

Margareth das Cruzes é uma típica dona de casa, deixou sua carreira de bancária para casar-se com Tom. Em 20 anos de casamento tiveram dois filhos, hoje adolescentes. Os gêmeos Juan e Julia. Ela estás prestes a se lamentar novamente pela carreira que desperdiçou, para ser uma mulher dona de casa exemplar. Alcançaria a gerência ? a diretoria ? Nos 10 anos que trabalhou no banco somente assumiu o posto do caixa, nunca teve sua mesa com uma plaquinha e seu nome. Não precisava reclamar, casou-se muito bem com um diretor de multi-nacional. Compraram uma bela casa em condomínio fechado e dois carros zero KM. Um Honda FIT para uso doméstico e um Toyota Camry para ele, seu posto de Diretor exige status acima da média, roupas caras e jantares em restaurantes sofisticados. Ou exigia. Tom perdeu o emprego há 6 meses, todos os bens do casal estão financiados. O Toyota foi o primeiro a ser tomado pelo banco, as parcelas da casa fizeram uma renegociação, um congelamento de parcelas que duraram 6 meses, prazo expirou. O Honda FIT da família foi escondido na casa da irmã de Margareth, Belinda, no subúrbio e de quebra a irmã emprestou seu Corsa 98. Os empregados da casa foram dispensados junto com o emprego do Tom, Margareth antes uma mulher sem afazeres domésticos, sua vida era levar as crianças na escola, inglês, clube e chás da tarde com as amigas, agora sua rotina está completamente transtornada, além de cuidar de uma casa sozinha de 250 m2 de área construída, estás a fazer bicos de passar roupa na casa de sua irmã e até faxinas de diarista está aceitando. Tom de muito procurar uma recolocação, gastou boa parte das economias com Head Hunters, o pouco que recebia de seguro desemprego, antes taxado de mixaria, estás a receber seu último deposito em conta, o que serás a "Salvação da Lavoura".

Sexta-feira a noite, a família reunida para o jantar, arroz, feijão e ovo frito. Os gêmeos não estão mais a reclamar da falta de proteína á mesa. Tom com olhar cabisbaixo, sua voz soa triste da notícia a pronunciar para todos reunidos.

- Vamos vender a casa. Podemos comprar outra próxima da casa da tia Belinda, ela pode ajudar com as crianças e você meu bem, poderás arrumar um emprego, quem sabe voltas a trabalhar no banco?

Você sempre quis voltar. Disse Tom.

Margareth não vê muita saída, não quer continuar a sair de sua casa escondida para os vizinhos não saberem de seus bicos de doméstica. Ela sem dizer nada concorda com o marido, com olhar triste apenas balança a cabeça. Ela sempre foi uma mulher extraordinária, aceita todas as decisões dele, sabe que ele é capaz de conduzir a família para o melhor. Também não o culpa pela sua demissão, Tom homem sempre muito esforçado e dedicado a empresa e carreira. Foi a crise, assim todos acreditam.

- Nãããão pai, não quero mudar daqui. Debateu Julia, acompanhado do seu irmão: - Paaaai, meus amigos moram todos aqui, não quero mudar. Não quero mudar de escola, isso não é justo, eu te ODEIO, retrucou o jovem.

Juan, abalado sai da mesa aos prantos e corre para seu quarto. Julia tentou segurar seus sentimentos, mas o choro lhe cai a cara, suas lágrimas desfaz toda fome e envergonhada também sai da mesa correndo a entrar no seu quarto, bateendo a porta com força.

- Tom, meu amor, eu te amo. Você nos deu os melhores anos das nossas vidas, não podemos continuar com um padrão de vida onde não temos condições, precisamos nos reorganizar. Disse com voz doce sua mulher. Uma inveja pauta ao ar, Margareth é realmente uma mulher extraordinária.

Novamente Margareth toma um folego, aceita a nova vida, não consegue imaginar o que viria a seguir, mas recorda uma conversa com sua irmã Belinda, o marido dela, Ronaldo é pintor e precisa de ajuda. Ela toma coragem, respira fundo novamente e diz:

- Tom, o Ronaldo disse que está precisando de ajudante, ele é pintor e está com muitos serviços. Conversei com ele, disse que você pode começar na segunda feira, ele me disse que você pode aprender a profissão e depois ele te passa o contato de alguns clientes.

Não podemos imaginar o que se passava na cabeça do Tom, de diretor de multi-nacional a pintor. Mas trabalho é trabalho, a vida prega essas peças. Seu currículo impecável, MBA fora do país, fluência em língua estrangeira, acreditava que as portas abririam fáceis para ele, mas a realidade nua e crua foi diferente, ninguém o contrataria para rebaixar seu cargo, os empregadores têm medo, uma próxima oportunidade abandonaria o cargo. O que seria uma verdade.

- Sim meu bem, por isso eu te amo e ficaremos sempre unidos. Respondeu Tom com olhar lacrimoso.

Nesse dia a família Cruzes deitaram cedo. No quarto do casal não possuem mais a TV de tela plana, nem nos quartos dos gêmeos. Boa parte da mobília já foram vendidas no OLX, tudo o que pudesse ter algum valor financeiro, para pagar as parcelas do cartão de crédito. Mas houve uma esperança, novamente Tom viu um futuro, beijou sua mulher e após alguns meses ele a procurou, com sua força masculina retornada, Margareth até fez cara de surpresa e entrou no clima. Uma noite romântica era exatamente o que precisavam para animar o casal.

Sábado, 6 H da manhã, a campainha toca, duas vezes: DING DONG DING DONG; Margareth abre os olhos e vê as horas, logo pensa, quem poderia estar tocando sua campainha ? O interfone não tocou, o que revela ser algum vizinho. Mas qual ? Esses malditos vizinhos, depois da crise instalada em sua família viraram a cara para eles, até as crianças foram maltratadas. Ela se levanta, ainda sonolenta, dormiu tarde na noite anterior. Abre a porta, vê um homem muito bem vestido, terno de linho, chapéu panamá e carregando uma pasta vistosa. O misterioso cavalheiro com um sorriso lhe diz:

- Bom dia Sra. das Cruzes.

- Bom dia ela respondeu, querendo saber de onde surgiu aquela pessoa.

- Você mora aqui no condomínio ? Não me avisaram da sua chegada. Disse ela.

- Perdoe incomodar Sra. Cruzes, mas tenho negócios a tratar com a senhora, se me permitir.

- Sim claro, entre. Educadamente ela o convidou-o a entrar e sentar a mesa.

Tom ouvindo conversas desceu as escadas e ainda de pijama, se colocou ao lado da esposa, perguntado-se do que se tratava ? Seria algum oficial de justiça a penhorar alguns bens ? Pensou mas não falou. O elegante cavalheiro sem muito tempo a perder, abriu a pasta e disse:

- Sra. Cruzes, aqui está o botão de 1 milhão de dólares. Ele deve ficar em seu poder por 24 h. Caso a senhora aperte o botão, receberá imediatamente a quantia total. Caso a senhora não aperte o botão, receberá uma bonificação de 10 mil reais.

Margareth não podia entender nada do que se tratava. Um homem elegante, muito bem vestido, apareceu do nada, sem passar pela portaria, oferecendo 1 milhão de dólares ? Ela simplesmente não respondeu nada, não acreditou, estava a esperar o fim da pegadinha, que por sinal seria de muito de mau gosto, visto a situação que a família estava a passar.

- Sra Cruzes, isso não é uma pegadinha. É muito simples, caso a senhora aperte o botão, receberá 1 milhão de dólares e uma pessoa que a senhora não conhece, cairá de morte súbita.

Margareth das Cruzes arregalou os olhos, se perguntava, alguém que eu não conheço, mas quem ??? TOM não gostou nada do repertório, sempre uma pessoa muito correta, nunca aceitaria prejudicar ninguém. Logo tomou a frente da conversa.

- Não, ela não vai apertar botão nenhum e o senhor pode levar consigo essa maleta esquisita com esse botão. Nós não vamos aceitar.

O cavalheiro, muito educadamente pediu desculpas pelo importuno, mas frisou com deveras delicadeza que apenas ficassem 24 H com a maleta sem apertar o botão, ninguém morreria e a SRA. Cruzes receberia os 10 mil reais. Valor que cairia como uma luva para a família endividada, não seria suficiente para liquidar todas as dívidas, mas uma grande ajuda. Margareth que sempre obedecera o marido, tomou a frente e disse:

- Pois bem senhor, ficamos com a maleta por 24 H, mas aviso ao senhor que não iremos apertar nenhum botão e ninguém precisará morrer.

- Muito bem SRA. Cruzes.

- Podes me chamar de Margareth. Respondeu.

- Devo lhe pedir novamente desculpas SRA. Cruzes, mas devido ao meu ofício devo apenas me dirigir a senhora pela sobrenome, não podemos criar laços e intimidade. Respondeu o gentil cavalheiro e ainda frisou.

- Novamente devo recordar, somente a SRA. poderá apertar o botão, receberá 1 milhão de dólares e uma pessoa desconhecida morrerá de morte súbita.

Nesse instante, ele se levantou, agradeceu a hospitalidade do jovem casal, recusou o café a ser oferecido e foi embora, despedindo-se com a promessa de retornar em 24 H ou no instante que apertasse o botão. A maleta ficou aberta em cima da mesa, com o botão de 1 milhão de dólares. Margareth e Tom fixaram os olhos no botão, sem nada a dizer, por 1 H. Logo os gêmeos acordaram:

- Mãããe, o que tem pra comer ? perguntou Julia.

Sem muitas opções, Margareth pediu para a filha ir na padaria a frente do condomínio e buscasse pão e como de costume marcar na caderneta do fiado. Juan se levantara também e ligou a TV. Havia esse clima entre o casal sobre a maleta e o botão:

- Tom, mas quem vai morrer ? Não sabemos, não conhecemos é alguém que nunca vimos.

- Amor, não sei se acredito nisso, mas não quero desejar a morte de ninguém.

- Mas Tom, pode ser um mendigo, um Japonês de 90 anos? Indagou a curiosa esposa.

-Não vamos colocar isso a prova, amanhã se ele trazer os 10 mil reais vai ajudar e muito e devolvemos a maleta para ele. Se ele não vier nos livramos disso ou vendemos na internet, poque é uma maleta de fino trato.

Margareth sem muitas opções concordou, mas seu instinto feminino ficou atiçado para apertar aquele botão e esperar o prêmio. 1 milhão de dólares, seria quase três milhões e meio de reais. Ela já fazia as contas, poderiam quitar a casa, o carro. As crianças não precisariam mudar para uma escola pública. Tudo voltaria ao normal, só que dessa vez ela seria a provedora da família. Mas logo seus devaneios foram interrompidos pela sua filha, entrava aos prantos dentro de casa.

- O que foi Julia? O que aconteceu? perguntara a mãe preocupada

- A dona da Padaria mãe, disse que não venderia fiado para nós, porque estamos devendo ha 2 meses, e não pagamos, ela me cobrou na frente de todos.

Você leitor, não sei se tens filhos? imaginem a situação dessa mãe, como poder defender sua filha? Estavam devendo sim, mas pagariam na primeira oportunidade. Como a proprietária do estabelecimento pode ter feito tamanha insensatez como a pequena Julia, eram só pães, a dívida deles somava 500 reais, somos clientes ativos lá há mais de 10 anos.

- Vem filha, vamos tomar café em outra padaria. Lá não colocamos mais os pés. Vem Juan, vamos sair para comer.

Tom vendo toda a cena concordou, a família precisava se recompor, o dinheiro estava curto, porém precisavam de momentos familiares. Saíram os quatro, primeira parada uma padaria mais distante, pediram tudo o que as crianças queriam, sem pestanejar. Depois foram ao mercado, precisavam reabastecer a dispensa, Tom havia recebido a ultima parcela do auxílio desemprego e tudo parecia que haveria uma melhora.

Meio dia, a família se reúne para preparar o almoço. O cardápio uma carne assada com sal grosso. Coca cola e cerveja para os adultos. Havia muito tempo eles não passavam momentos felizes. Margareth ainda com vontade de entrar na padaria da frente e acertar as contas, sentia o desaforo que fora feita com sua filha, isso ainda lhe incomodava. Após a refeição, todos foram ver TV na sala, a única da casa. Margareth foi deitar-se, sentia o cansaço da semana, estava em jornada dupla, com afazeres domésticos de suas clientes e em vossa casa. Levantou as 17 H, olhou-se no espelho e viu sua cara, estava mudada, sentia-se mais velha, mal cuidada. Preparou um choro mas conteve-se, persentia que sua vida iria mudar. Logo ouviu Juan lhe chamar:

- Mããããe, o que é isso ?

- Não toque nisso. Gritou ela.

- Hoje um homem veio a nossa casa e disse que se eu apertasse esse botão ganharia 1 milhão de dólares e alguém que não conheço morreria.

Você sabe como são os jovens leitor, impulsivos, não medem consequências. Logo soube que ganharia valor inimaginável para um adolescente e sem pensar que poderia matar alguém apertou o botão.

- Não quer funcionar mãe, não afunda. Disse o garoto para a mãe.

- Só funciona comigo, filho.

- então aperta mãe, vamos ver se é verdade.

- não vou apertar, isso não existe. Vai pro seu quarto. Agora.

Subitamente o humor dela mudou, ficara nervosa com aquela maleta e o botão e a tentação de apertar. Preferiu mudar seu foco, fechou a maleta e guardou debaixo da cama. Logo sua filha, chegas a um pedido.

-Mãeeeee, pode me arrumar 50 reais para ir no shopping com as meninas. Com voz melancólica.

- Calma aí filha, deixa eu ver se eu tenho, mas não conta pro seu pai e nem para seu irmão.

Ela abriu a bolsa, estava sem a quantia necessitada, só havia algumas moedas e notas de 2 reais. Lembrou que trabalhara para uma dona passando roupas essa semana, teria 100 reais para receber. Pegou o telefone para cobrar-la, ouviu:

- Seu saldo é insuficiente para completar essa chamada.... desligou

Seria isso castigo? Não podia excluir a vida social da filha, não acreditara na situação que chegara. Mas ela não era uma mulher de desistir, ela é uma mulher extraordinária, lembras? Pegou a filha, entraram no corsa 98 e foram cobrar a dona que lhe devia o serviço e depois deixaria a filha ao shopping encontrar suas amigas. Tom e Juan ficaram a ver TV.

21 H sábado a noite. Cansados de ficar em casa, porém em economia severa não fizeram planos de saírem, Julia estava prestes a chegar em casa e Juan a questionar porque ela podia sair e gastar com as amigas. Comeram uma pizza semi-pronta. Margareth retornou seus pensamentos aquele botão. Seria possível.

23 H as crianças já estavam dormindo. Tom relendo os classificados e atualizando seu currículo no Linkein. Ele se tornou a sombra do homem que fora antes. Não demonstrava o nervosismo em começar a ser ajudante de pintura do seu cunhado, não queria preocupar ainda mais sua esposa. Nem lhe ocorria a ideia da maleta, para ele tudo era uma gozação sem graça, deveria ter alguém a rir nas suas custas com essa maliciosa brincadeira.

01 H da madrugada do dia de domingo. Margareth não consegue dormir, Tom estás a roncar ao seu lado, ela se pergunta como consegue dormir? Nada tira o sono dele? Ela pensa na maleta, e se eu apertar o botão e nada acontecer?

04 H da madrugada, ela acorda Tom. Sem saber, pergunta que horas são. Ela insiste para ele se levantar, precisava conversar, insistiu para que ele acordasse e fosse com ela na sala. Ela estava com a maleta aberta e com o botão pronto para apertar, não conseguia dormir, não conseguia tirar aquele maldito botão de sua mente e de todo dinheiro que receberia se apertasse. Tom ainda sonolento disse:

- Meu bem, isso não passa de um trote, uma brincadeira sem graça.

- Mas e se não for? Quem morrer não é conhecido, pessoas morrem todos os dias. Pode ser uma dessas pessoas. Retrucou.

Margareth e Tom ficaram nessa discussão até as 05 H da manhã. Nada supera uma mulher decidida. Tom já não tinha mais argumentos, todos recursos para fazer sua esposa voltar a trás para não apertar o botão foram em vão.

- Estou decidida !!! Vou apertar.

O relógio marcava 5:15 H na madrugada de domingo. Margareth das Cruzes apertou o botão de 1 milhão de dólares e para sua surpresa a campainha tocou, duas vezes: DING DONG DING DONG. Nesse momento um calafrio subiu sua espinha até sua cabeça, ela não imaginava ser possível, mas tudo indicava ser. Levantou-se e foi até a porta atender.

- Boa noite SRA. Cruzes. A senhora apertou o botão, estou aqui com seus 1 milhão de dólares. Disse o cavalheiro misterioso, aparecera sem nenhuma demora.

A felicidade a tomou por completo, ela abriu a porta para o cavalheiro entrasse. Colocaram-se a mesa e lhe entregou outra maleta com o valor devido. Ali estavam, 1 milhão de dólares em notas de cem. Margareth nunca havia visto aquela quantidade de dinheiro reunida de uma unica vez. Nem em épocas de vacas gordas quando seu esposo era um executivo industrial ou no periodo que trabalhou para o banco. Todo o montante de dinheiro era seu. Tom simplesmente ficou calado, acreditava a pouco que tudo era um trote de pessoas malditosas. Entregando a pasta com os dólares, o cavalheiro puxou a outra pasta com o botão recém apertado, pela dona da casa, fechando a pasta e dizer:

- SRA. Cruzes muito obrigado. Passar bem.

Antes de sair, Margareth ficou curiosa e perguntou ao elegante e nobre senhor.

- Espere. Para quem você vai entregar essa maleta com o botão? perguntou ela.

Com um sorriso contagioso e feliz em ter feito seu trabalho com perfeição, respondeu.

- SRA Cruzes, fique tranquila. A senhora não conhece essa pessoa.

FIM

Esse conto é uma inspiração da série The Twilight Zone episódio: button, button de 1985/86