O BANCO & O FANTASMA DO ADEUS
'Nunca mais ela voltou ao Jardim de Lá, sangue e lágrimas derramadas, absurdas visões, órbitas vazias, frio...'
Iolanda era intensa, por qualquer coisa que se interessasse era impulsiva, se entregava ávida, não ficava pedra sobre pedra, a todos envolvia com sua presença cósmica e carisma arrebatador. Quando conheceu Luiz, foi pura lava vulcânica, descendo fervente montanha abaixo, para o desejo virar amor foi um flash. Eram como carne e unha, saúde e cura, pura emoção. Em dois tempos estavam vivendo juntos, radicais nos esportes, ambos inconsequentes, se desafiavam sem medo do perigo. A união deles era de loucuras, amavam-se com o volúpia dos imortais e jamais poderiam ter imaginado o final dessa história.
Numa trilha cansativa, cheia de pontos perigosos, encontraram um homem forte descansando numa curva do caminho. Como a adrenalina era para todos um assunto comum, logo estavam conversando animadamente, o homem se chamava Rafael, como o anjo. Em um dia finalzaram a trilha, cheios de satisfação, ao se despedirem, já deixaram combinado um outro desafio para o mês seguinte, uma parede de escalada hiper irada, que ficava numa praça cercada de um lindo jardim. A intenção dos criadores do espaço, era mesmo essa, queriam misturar o lúdico com o radical, gostavam deste contraponto.
Os dias passaram rápido e na data do encontro lá foram eles sedentos por mais uma aventura, os olhos verdes de Luiz faíscavam. Iolanda estava feliz, mas, sentia um aperto no peito, se sentia estranhamente apreensiva, não deu muita atenção e puxando Luiz, lhe deu um beijo arrebatador. Várias subidas e descidas, o cansaço enfim chegou para ela, então, sentada num banco da praça, languidamente apenas observava o desempenho do dois, de repente, um grito assustador...
Do alto da parede veio despencando o corpo do seu Luiz, com o rosto coberto de sangue, sem os verdes nas órbitas e bem a sua frente cai estatelado no chão, o choque foi fatal. O grito dela morreu na garganta, suas pernas tremiam como depois de uma intensa noite de amor. O seu Luiz, seu homem, amigo, amado, parceiro de tantas empreitadas, ali, morto, como, porquê, tantas perguntas e só uma constatação, acabara-se o sonho...
Em meio a dor lacinante, Iolanda se deu conta, de que não vira mais Rafael, alçou a vista pelo local e viu, o que ninguém gostaria de ver, Rafael com um riso largo no rosto, mostrando de longe que estava comendo os olhos verdes de seu adorado Luiz. Queria correr, gritrar, mas, não tinha forças só estupor. Uma dor tão funda lhe nublou a mente, só voltou a si, dias depois. Estava vazia por dentro, não tinha ideia de quem tomara as providências, abriu os olhos num quarto de hospital, mas, só via o banco da praça com Luiz sentado, sem os olhos verdes amados. Para qualquer lado que virasse a cabeça, a mesma cena se repetia, o fantasma de Luiz, sem olhos nas órbitas, sangue e exaustão, suas pernas não respondiam, durante meses viveu num sanatório, com as visões do banco, o fantasma, os olhos verdes na boca de Rafael, o 'Anjo do Mal' que desapareceu sem vestígios, parecia encomenda do Demo.
Iolanda, louca não estava, mas, sua sanidade custou a voltar, os anos passaram lentos, até que numa tarde de chuva de Março, despertou do pesadelo, fria, vazia de memórias, morta por dentro, mas, viva, não lembrava de coisas antigas, só uma coisa todo dia acontecia, lá pelas primeiras horas da manhã, via a imagem de um homem sem olhos, sentado num banco de praça, acenando um adeus...
* Dedicado aos Mestres - Iolanda Pinheiro e Luiz Cláudio Santos.
'Nunca mais ela voltou ao Jardim de Lá, sangue e lágrimas derramadas, absurdas visões, órbitas vazias, frio...'
Iolanda era intensa, por qualquer coisa que se interessasse era impulsiva, se entregava ávida, não ficava pedra sobre pedra, a todos envolvia com sua presença cósmica e carisma arrebatador. Quando conheceu Luiz, foi pura lava vulcânica, descendo fervente montanha abaixo, para o desejo virar amor foi um flash. Eram como carne e unha, saúde e cura, pura emoção. Em dois tempos estavam vivendo juntos, radicais nos esportes, ambos inconsequentes, se desafiavam sem medo do perigo. A união deles era de loucuras, amavam-se com o volúpia dos imortais e jamais poderiam ter imaginado o final dessa história.
Numa trilha cansativa, cheia de pontos perigosos, encontraram um homem forte descansando numa curva do caminho. Como a adrenalina era para todos um assunto comum, logo estavam conversando animadamente, o homem se chamava Rafael, como o anjo. Em um dia finalzaram a trilha, cheios de satisfação, ao se despedirem, já deixaram combinado um outro desafio para o mês seguinte, uma parede de escalada hiper irada, que ficava numa praça cercada de um lindo jardim. A intenção dos criadores do espaço, era mesmo essa, queriam misturar o lúdico com o radical, gostavam deste contraponto.
Os dias passaram rápido e na data do encontro lá foram eles sedentos por mais uma aventura, os olhos verdes de Luiz faíscavam. Iolanda estava feliz, mas, sentia um aperto no peito, se sentia estranhamente apreensiva, não deu muita atenção e puxando Luiz, lhe deu um beijo arrebatador. Várias subidas e descidas, o cansaço enfim chegou para ela, então, sentada num banco da praça, languidamente apenas observava o desempenho do dois, de repente, um grito assustador...
Do alto da parede veio despencando o corpo do seu Luiz, com o rosto coberto de sangue, sem os verdes nas órbitas e bem a sua frente cai estatelado no chão, o choque foi fatal. O grito dela morreu na garganta, suas pernas tremiam como depois de uma intensa noite de amor. O seu Luiz, seu homem, amigo, amado, parceiro de tantas empreitadas, ali, morto, como, porquê, tantas perguntas e só uma constatação, acabara-se o sonho...
Em meio a dor lacinante, Iolanda se deu conta, de que não vira mais Rafael, alçou a vista pelo local e viu, o que ninguém gostaria de ver, Rafael com um riso largo no rosto, mostrando de longe que estava comendo os olhos verdes de seu adorado Luiz. Queria correr, gritrar, mas, não tinha forças só estupor. Uma dor tão funda lhe nublou a mente, só voltou a si, dias depois. Estava vazia por dentro, não tinha ideia de quem tomara as providências, abriu os olhos num quarto de hospital, mas, só via o banco da praça com Luiz sentado, sem os olhos verdes amados. Para qualquer lado que virasse a cabeça, a mesma cena se repetia, o fantasma de Luiz, sem olhos nas órbitas, sangue e exaustão, suas pernas não respondiam, durante meses viveu num sanatório, com as visões do banco, o fantasma, os olhos verdes na boca de Rafael, o 'Anjo do Mal' que desapareceu sem vestígios, parecia encomenda do Demo.
Iolanda, louca não estava, mas, sua sanidade custou a voltar, os anos passaram lentos, até que numa tarde de chuva de Março, despertou do pesadelo, fria, vazia de memórias, morta por dentro, mas, viva, não lembrava de coisas antigas, só uma coisa todo dia acontecia, lá pelas primeiras horas da manhã, via a imagem de um homem sem olhos, sentado num banco de praça, acenando um adeus...
* Dedicado aos Mestres - Iolanda Pinheiro e Luiz Cláudio Santos.