Morte fria

Leo sentiu o corpo arder,seus músculos pareciam se tornar de pedra a cada segundo,era sempre assim quando sentia muita raiva.Carregou a arma que comprara,não era muito mas devia servir,pegou o canivete de caça feito sob encomenda só pra garantir.Caminhou a passos decididos,não estava muito longe do local de seu acerto de contas.

No bar tudo era festa,os homens bebiam,gritavam,riam,falavam besteiras e agarravam algumas garotas de programa que por ali estavam.Recolhido em um conto um médico bebado desabafava.

- Ela chegou com três tiros,eu quase não podia sentir o pulso...Eu cuidei dela,não sabia quem era,antes a tivesse deixado morrer...O maldito enfermeiro veio atrás dela,eu estava prestes a matá-la e entregá-la,ia ficar rico...Ja viram de quanto é a recompensa?Merda,eles destroçaram minha equipe...Só não me mataram porque eu fugi...Eles vão vir atrás de mim,eu sei que vão...Malditos...Eu ia ficar rico.

Leo não sentia o vento frio que cortava a noite escura nas ruas,ele tão pouco sentia sua mão sangrar enquanto fincava as unhas nas palmas,o bar estava iluminado e a música tocava alta.Uma pena,ele queria tanto ouvir os gritos...Tanto...

Logo que entrou um homem se levantou dizendo.

- Moleque,eu não lhe disse pra ir pra casa?

- Ah disse,mas eu vim lhe entregar algo que você esqueceu em casa...Pai. - Ele apontou a arma para o homem que tremeu inteiro.

- Abaixa isso moleque,você não é homem o suficiente para saber usar. - O homem tentou esconder seu medo debochando.

Leo riu,atirou num outro homem que vinha atacá-lo por trás.

- Você não me conhece mais seu velho...Só espero que você sinta bastante dor antes de morrer.

A briga começou,os homens partiram para cima de Leo empunhando garrafas,pedaços de pau,cadeiras,facas ou apenas com os punhos.Monte de bebados inuteis,Leo os matava como se fossem baratas,o chão se enchia de sangue,que lindo,aos poucos foram se formando montes de mortos.Agora só sobrava ele,seu odiado pai,a pessoa mais nojenta e asquerosa do mundo,alguém que nem sequer merecia o titulo de ser humano.Leo pegou o canivete.

- Pode parar ai moleque! - O médico estava de pé empunhando uma arma,a apontava para a nuca de Leo.

Leo deu mais um passo,o médico atirou para cima,ele parou de novo.Será que ia morrer agora?Não,agora não,não sem antes cumprir o que tinha vindo fazer,ele precisava sentir a dor do homem que ele chamava de pai,precisava ver o sangue e ouvir os gritos,os pedidos de misericordia.

- Olá doutor... - Leo ouviu a voz feminina atrás de si,o médico se arrepiou todo,conhecia bem aquela voz.

Leo virou lentamente,viu uma mulher loira levantar calmamente de uma das mesas.Não parecia ser garota de programa,muito menos alguém que frequentava bares,um sorriso sarcastico estava estampado no rosto dela,ela se movia um ritmo sensual e gracioso.

- Você veio me matar vadia?Saiba que não vai conseguir!Eu estou armado! - O médico parecia uma estatua branca.

- Ah doutor,o que é isso,eu vim agradecer o tratamento que me deu...Sabe,eu não sabia muito bem o que era dor antes do senhor tentar me "curar",obrigada. - Ela abriu a bolsa tirando um pequeno estojo.

O médico atirou para cima,ela riu,abriu o estojo tirando um pequeno bisturi,voltou a caminhar.O médico atirou em direção a ela que se esquivou para o lado,tirou uma pequena pistola de cabo de pérola escondida em sua cintura por baixo da blusa,atirou apenas uma vez,mas ao invés de bala um pequeno dardo se cravou no pescoço do doutor.Ela se aproximou.

- Ah doutor,agora você não vai poder gritar,uma pena não?

Leo e seu "pai" assistiam estarrecidos ela desmembrar o médico usando apenas o bisturi,viam as lágrimas que corriam dos olhos dele,logo até as lágrimas tornaram-se vermelhas.

O homem "pai" de Leo,decidiu que não teria o mesmo fim.Aproveitando-se da distração desse,lhe tomou a arma apontando-a para Leo.

- Eu vou matar você garoto.

Com um rapido movimento de pulso Leo atirou o canivete aberto que se cravou no pulso do homem que ele chamara de pai.O homem chegou a disparar,Leo sentiu seu braço esquerdo arder,parecia estar queimando.Mesmo assim ele se lançou sobre o homem,lhe arrancou o canivete do pulso,o homem tentou lhe bater mas Leo lhe enfiou o canivete na outra mão,depois no pulso,no braço,no ombro o canivete bateu no osso o que lhe quebrou a ponta,mesmo com o canivete sem ponta Leo continuou a golpear,os gritos eram seguidos,o homem chegou a vomitar sangue implorando por sua vida quando Leo lhe arrancou as gengivas.

- Está doendo papai,diga,está doendo?Eu não estou sentindo nada... - Ele ria sarcástico enquanto golpeava,seu rosto se manchou de sangue,ele acabou por golpear os olhos do homem e suas mãos ficaram grudentas por causa do liquido que saiu dali,as mangas do casaco também,a faca se enterrava fundo entre as costelas com um barulho engraçado do tipo,crak crak ,ele pouco se importava,quando não ouviu mais gritos,parou ofegante.

No chão a massa disforme que se tornara o homem ainda tinha espasmos.

Leo pode ver a bela loira sentada na mesma mesa de antes,terminando de tomar algo que parecia suco de laranja.Ela sorria.

- Por que está rindo? - Ele perguntou com raiva.

- Você é um amador...Nem luvas usou,vou ter que queimar tudo. - Ela terminou o suco,tirou da bolsa um pequeno vidro de alcool e um isqueiro.Os colocou sobre a mesa.Foi até o caixa do bar,abrindo-o,tirou o dinheiro e gritou a Leo.

- Jogue alcool nos corpos,não muito,apenas o suficiente pra queimar.Rápido,antes que a policia chegue,não quero complicações pra mim. - Ela trouxe o dinheiro o guardando na bolsa.

Leo jogava o alcool dizendo.

- Não me importo com a policia,eu ja fiz o que queria.

- Mas eu me importo,quero continuar livre por muito,muito tempo. - Ela se aproximou dele com uma injeção,ele tentou evitar mas ela lhe rasgou as mangas do casaco preto aplicando a injeção sobre o ferimento de raspão que a bala fizera,logo o local todo ficou dormente.

Ela mostrou os cadaveres a ele,lhe sussurrou no ouvido.

- Me diga,não gostou do que fez?Não sentiu seu corpo todo pulsar enquanto matava?Não foi melhor que qualquer outro prazer?Acha que consegue viver sem isso?

Ele sentia o rosto dela perto do seu,o corpo dela quase encostado no seu.Sim,matar o deixava feliz,o deixava livre,era algo inexplicável e ele não conseguiria viver sem.Ela o tomou pela mão levando-o para fora do bar,jogou o isqueiro aceso sobre o alcool.

O fez entrar em um belo carro preto,enquanto o local queimava eles se distanciavam,Leo via o bairro em que fora criado se distanciar,via sua antiga vida se distanciar,a loira ligou o rádio,uma música começou a tocar.

"New, what do you own the world?

How do you own disorder, disorder"

Ele olhou ela dirigir,percebeu que no painel estava pregada uma pequena lista de nomes.

- O que é isso? - Ele perguntou.

- Minha lista de vítimas,risque mais um nome por favor. - Ela não desviou os olhos da estrada.

"Now, somewhere between the sacred silence,

Sacred silence and sleep"

Ele riscou mais um nome,eles acabaram por passar numa blitz,ela sorriu para o guarda,os dois conversaram um tempo,uma pena que ele tenha olhado os corpos no porta-malas,logo ele tambem se tornou um dos corpos no porta-malas.

"Somewhere, between the sacred silence and sleep,

Disorder, disorder, disorder."

Leo via sua vida se resumir aquela estranha que não tinha o menor remorso de matar,ele via que o sorriso no rosto dela era apenas uma máscara e que ela não o matara por algum motivo estranho.

- Qual seu nome...? - Ele perguntou.

- Hell . - Ela disse olhando o alvorecer no horizonte.

"The toxicity of our city, of our city"