Zero Vírgula Treze 2
Estamos em dois mil e dezessete e desde aquele fatídico dia em 2013 tudo parecia que estava melhorando. Nunca mais tive sonhos estranhos e tampouco vi aquela menina loira de olhos azuis novamente. Aqueles dias pareciam que tinham ficado em uma parte do meu cérebro da qual era pouco acessada, até ontem. Vinte e seis de agosto de dois mil e dezessete, tudo voltou a tona, infelizmente. Já era noite e eu estava pronto para fechar a biblioteca e ir direto para casa, mas ouvi um barulho estranho vindo de um dos corredores de livros. Sai pelo lado do balcão com passos largos e fui andando até o local, e quanto mais me aproximava mais o frio ia aumentando. Não entendi muito bem o motivo, mas minhas pernas estavam ficando bambas e meus olhos ardiam. Até que uma menina loira de olhos azuis sai do corredor.
- Você de novo – Não podia acreditar no que estava acontecendo, aquela menina novamente na minha frente, todas as memórias afloraram de uma só vez. A tontura só aumentava.
- Você se lembra de mim? - Perguntou a menina
- Eu não consigo acreditar – Nesse momento levava minhas mãos aos olhos e esfregava com força. A dor que sentia ao fazer isso não era nada comparado a ter essas memórias novamente.
- Eu sempre estive por aqui, você que havia me trancado – Ela deu alguns passos para perto de mim. Enfim, as lágrimas começaram a cair e eu não conseguia fazer absolutamente nada a não ser vislumbrar aqueles belos olhos. - Venha comigo. Ela então chegou mais perto e me beijou, um gosto agridoce invadiu minha boca e minha visão ficou turva. Não conseguia enxergar mais nada, tudo ficou preto.
Ficou assim por longos minutos, talvez segundos. Até que consegui sentir que estava sentado, ao olhar para baixo me vi em uma cadeira totalmente vermelha. Era muita coisa para minha cabeça processar, então tentei me acalmar e pensar. O preto então foi se esvaindo e uma paisagem aparecendo. Mais a frente havia uma ponte de madeira, para os lados escadas davam para várias portas ou até mesmo para paredes, parecia um labirinto sem fim. Mas ouvi vozes vindo diretamente da ponte, decidi caminhar até lá.
- Você sabe o que deve fazer – Uma voz sussurrou em meu ouvido, parecia a mesma da menina de olhos azuis. Mas ela não estava lá.
Caminhei até chegar a ponte. Então percebi que as vozes que escutei eram na verdade gritos de agonia das pessoas presas na parede acima de mim. Vários corpos pela metade saiam e entravam no teto como em um zigue-zague bizarro. Já abaixo era apenas um buraco negro sem fim que sugava minha energia. Atravessei a ponte, não sei bem o motivo mas parecia ser a coisa certa a se fazer. Cada passo dado era uma facada em meu corpo, e ao chegar finalmente na outra extremidade me joguei ao chão. A ponte desmoronou e ao olhar para trás para vê-la cair notei que haviam pessoas de onde eu acabei de sair. A principio não consegui reconhecê-las, mas alguns segundos notei que eram meus amigos.
- Gente, aqui – Tentei gritar, mas nenhum deles me ouvia.
- Você sabe o que tem que fazer – Novamente a voz sussurrou em meu ouvido.
Me levantei com muito esforço e me virei novamente. Agora eu via um sino bem a minha frente e no chão ao lado dele um pequeno martelo. No fim, eu sabia exatamente o que fazer, me abaixei para pegar o martelo e dei uma batida no sino com toda força que ainda me restava. Um som estonteante invadiu todo o lugar, apaguei.
Quando abri novamente os olhos estava na minha cama, me sentei e esfreguei os olhos. Na parede a minha frente tinha uma palavra escrita em giz: EXECRÁVEL. Ao lado da minha cama uma figura esguia coberta por um manto preto, mas não senti medo nem pavor e apenas sorri e falei
- Demorou muito