O demônio toca o manto de Jesus
Cap. 11 - A Terrível Ordem
Azkarazael havia sido chamado por seu pai, para que lhe fosse dada uma nova ordem. E a ordem, que seria dada, estremeceu seu coração, mesmo este sendo frio como as profundezas oceânicas. Era a hora segunda do dia, e o chamaram os auxiliares diretos de Satanás, como guardas de escolta de um prisioneiro.
Levado a presença do mesmo, lhe foi comunicado a missão: deveria voltar a terra e tocar o manto de Jesus. Imediatamente sentiu que era uma ordem suicida da qual se recuasse mostraria covardia e mereceria a aniquilação de qualquer forma. Sentiu em seu espírito, aquela já era a hora terceira do dia, que sua missão havia sido abortada.
Pensou no plano que agora não iria capitanear, como um general deposto de sua posição. Olhou tristemente para o chão, mas o olhar duro daquele que nem cogita abandonar uma missão que lhe é confiada se sobrepôs a todos os sentimentos.
Não questionou a ordem dada, mas sabia que ao fazer isto seria aniquilado. Ele não era um demônio cuja a hora estava marcada para o julgamento e as guerras que viriam antes dele. Era uma figura sem importância, um talento do milhares existentes.
Então no lugar da tristeza ressentida, preferiu a altivez, pois escolheu não pedir clemência e nem duvidar da ordem recebida.
Cap. 12 - Um demônio se despede de seus amigos
Havia como ele diversos demônios novos, que não conheceram a expulsão dos céus. Entre muitos haviam amigos e outros que guardava uma admiração sem maiores intimidades. Sentiam que nada sobraria dele e que topava a missão sem titubear. Preferiu deixar nos amigos a impressão de ser um herói obstinado do que a de ser a vítima sem escolha.
Era então a 4 hora do dia. Sentia nesta morte a oportunidade de compensar o fracasso suposto de sua missão de fazer cair
o Santo dos Últimos Dias. Talvez Satanás tenha lhe preparado uma saída honrosa. Talvez tivesse falado demais em outras ocasiões.
Antes que atravessasse o grande Portal das Aberrações Profanas, aquele destinado a figuras heroicas nos reinos infernais,proferiu seu discurso, por insistência dos amigos e pesar de outros nem tão amigos assim.
"Somos seres sem vida cuja a guerra se tornou nosso único propósito. Condenados e sem qualquer perspectiva de perdão. Para o lugar que todos vamos só haverá agonia e dor. Olhei para todos os homens, pensei em todos os pensamentos. Não haverá vida eterna para nós. A única forma de ser eterno é tomar parte da espírito dos que vivem e se possível lhes fazer apaixonar por seus atos e pensamentos. Eu sou o amante, o sedutor, o conquistador das almas que parte para o último flerte. Quando olharem o céu sombrio das 3 horas da manhã e sentirem pavor, eu estarei naquela escuridão rindo da cara de vocês, do outro lado."
Atravessou o portal com o olhar dos kamikazes, um sorriso irônico e corajoso que via na morte a única chance de glória. Era então a 5 hora do dia.
Cap. 13 - O Grande Encontro
Chegando a Jerusalém, viu Jesus entre muitas pessoas. Era como ir de encontra a um punhal afiado. Anjos ao redor já estavam notando sua presença. Como um demônio criado depois do Grande Expurgo tinha pouco poder e sabiam os anjos o que lhe aconteceria.
Caminhou lentamente. O passo lento, um a um, para a morte. Como aquele que caminha na prancha ou que sobe o cadafalso.
Nosferatu o encontrou, a pedido de seu pai, e lhe disse: "vamos!". Sentiu certo encorajamento vindo necessariamente na hora em que a mesma começara a lhe faltar.
Era então a 6 hora, quando se aproximou e lhe tocou o manto. Sentiu-se como se cada parte do seu ser fosse fragmentada até que
não tivesse mais consciência. Como se recuasse aos primeiros momentos de sua criação, perdendo pouco a pouco a consciência
que ia se limitando a entendimentos simples, sem coerência, até que nada mais fosse.
Cap. 14 - Homem demasiado Homem
Estava em espírito agora aprisionado por anjos. Era pior do que tinha pensado. Seus parcos poderes lhe foram tirados, nasceria como um homem qualquer, viveria a vida de um deles, porém não teria como eles a chance de salvação. Também haveria de ficar vivo até que o Grande Dia do Armagedom viesse. Sua condenação fora ser um homem e mais do que isto, aguardar como um deles até que tudo em que tinha feito parte no inferno fosse destruído diante dele.
Sentia agora raiva de Satanás. Sentia que fora traído, desperdiçado. Se apartou dele e do que lhe trouxesse lembranças. Voltou como um aldeão, porém com seus conhecimentos fora admitido como monge. E ali interno, ficou pensando, pensado e contemplando a completa falta de sentido das coisas. Falava pouco e era sem ânimo para jantares e reuniões, embora muito simpático com os que o procuravam.
Participava das orações, bênçãos e outras liturgias, mas sentia que fazia isto mais por um ressentimento profundo com Satanás do que por fé. Dedicou-se então a destruir qualquer fosse a obra dele ou atribuída a ele. Posteriormente foi inquisidor, queimou mulheres voluptuosas, hereges e bruxos.
Perseguiu famílias e pessoas amigas de hereges e conspiradores. Havia participado de guerras contra os infiéis e aniquilados
suas sementes. Muniu sua igreja de riquezas e terras para que ela fosse poderosa contra o mal na Terra. Atravessou os oceanos
onde se dedicou a tirar índios e africanos do paganismo.